Jornal de Negócios

Entrada de imigrantes triplicou, mas vaga não é suficiente

Desde 2002 que não chegavam a Portugal tantos imigrantes permanente­s, que podem ser estrangeir­os à procura de emprego em Portugal ou portuguese­s que regressara­m ao país. Apesar disso, a população que vive em território nacional continua a encolher.

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt

Em 2019, o país deverá voltar a perder pessoas e a envelhecer. Terá mais 32 mil idosos e menos 14 mil crianças.

Onúmero de imigrantes que se instalaram no país no ano passado triplicou face aos que vieram viver para Portugal no ano mais agudo da crise económica e financeira, em 2012. Os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) são um reflexo da melhoria da economia e do emprego no país. Ainda assim, esta entrada de população estrangeir­a não evita que a população residente continue a encolher.

No ano passado, entraram 43 mil imigrantes permanente­s no país, naquele que foi o maior fluxo de entradades­de 2002, mostra umasérie longa do INE. Estas são pessoas (de nacionalid­ade portuguesa ou estrangeir­a) que se instalaram no país com o objetivo de ficar, pelo menos, durante um ano e que tinham estado a viver no estrangeir­o também, pelo menos, durante um ano. Ou seja, também estão incluídos nestes números os portuguese­s que tenham saído do país, por exemplo, durante a crise financeira, e que agora estejam a regressar.

Em 2012, o ano agudo da crise económica e financeira em Portugal – quando o programa de ajustament­o da troika estava a ser implementa­do e o então ministro das Finanças, Vítor Gaspar, anunciou o “enorme aumento de impostos” – fixaram-se em Portugal apenas 14,6 mil imigrantes permanente­s. Nesse ano, saíram do país quase 52 mil pessoas com o objetivo de ir viver pelo menos um ano para o estrangeir­o. E, em 2013, esta vaga migratória voltou a repetir-se, com mais 54 mil pessoas a abandonar o território nacional.

Nestes números, uma vez mais,

estão incluídos tanto pessoas de nacionalid­ade portuguesa que foram tentar a sua sorte noutro país, como estrangeir­os que estavam emigrados em Portugal, mas que tenha decidido sair para outro país ou para regressar a casa.

Desde 2013, o país tem vindo a perder menos população por via da emigração e em 2017 e 2018 o saldo migratório (ou seja, as saídas menos as entradas de residentes) já foi positivo. No ano passado, saíram 31,6 mil pessoas com o objetivo de se instalar no estrangeir­o, pelo que, feitas as contas, a população aumentou em 11,6 mil por via das migrações. O problema é que isto não chega e, como sublinhou o Banco de Portugal na semana passada, o país precisa de atrair mais imigrantes.

Quase 300 mil pessoas a menos desde a crise

Desde a crise económica e financeira, ou seja, desde 2011, Portugal já perdeu quase 300 mil pessoas. A população total que reside no país encolheu por duas vias: tanto pelos movimentos migratório­s, como pela insuficiên­cia dos nascimento­s para compensar as mortes.

O saldo migratório acumulado desde 2011 ditou uma redução de mais de 130 mil residentes em Portugal. Para este resultado contribuír­am anos seguidos de saídas de população superiores às entradas, cujo efeito não se conseguiu compensar nos últimos dois anos.

A isto junta-se um saldo natural cada vez mais negativo desde 2009, mas que se fixou acima dos 20 mil desde 2013. No total, olhando novamente para o período desde 2011, Portugal perdeu quase 166 mil pessoas por esta via.

Olhando para o ritmo de envelhecim­ento da população portuguesa e para o baixo índice de fecundidad­e, é expectável que o saldo natural continue negativo. As projeções do INE apontam para uma população cada vez mais pequena a residir em Portugal, e cada vez mais velha.

Este ano o país deverá perder menos pessoas (deverão rondar as 12 mil, estima o INE), mas não conseguirá inverter a tendência. Ao mesmo tempo, ficará com mais 31,8 mil idosos, e 14 mil crianças até 15 anos a menos.

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