Jornal de Negócios

Gastos com medicament­os são os mais altos desde 2011

- JOÃO D’ESPINEY joaodespin­ey@negocios.pt

Em 2018, os encargos dos portuguese­s com os medicament­os comprados nas farmácias atingiram o valor mais elevado dos últimos sete anos. O mesmo aconteceu na despesa do Estado com as compartici­pações. Nos hospitais, os gastos com medicament­os foram os mais altos de sempre.

Os gastos do Estado e dos utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com medicament­os atingiram em 2018 o valor mais elevado dos últimos sete anos. No caso dos hospitais, os encargos atingiram mesmo o valor mais elevado de sempre. Estas são as principais conclusões que se podem retirar da análise dos dados publicados pelo Infarmed – Autoridade Nacional do Medicament­o e dos Produtos de Saúde.

No ano passado, os encargos com os medicament­os comprados nas farmácias e compartici­pados pelo Estado ascenderam a 1.255 milhões de euros. É preciso recuar a 2011 para encontrar um valor mais alto: 1.326 milhões.

A análise do Negócios permite concluir ainda que o montante das despesas do Estado tem vindo sempre a subir consecutiv­amente desde 2014, mesmo nos anos da troika em que houve várias reduções de preços. O acréscimo da despesa em 2018 (3,3%) é o maior pelo menos desde 2010. Sendo que entre 2011 e 2013, os encargos até registaram um decréscimo anual.

No que toca aos encargos dos utentes do SNS, os dados do Infarmed indicam que em 2018 totalizara­m os 711 milhões de euros. Também neste caso é preciso recuar até ao ano de 2011 para encontrar um valor mais elevado: 799 milhões de euros.

Neste caso, o cresciment­o anual verificado em 2018 (1,5%) é o maior desde 2014, ano em que o acréscimo foi de 2,03%. Em 2011 tinha sido de 13% e em 2014, a variação anual até foi negativa (-14,5%). Em 2016, também tinha caído (1,83%) face ao ano anterior.

O Negócios tentou obter uma explicação para estes números mas até à hora de fecho desta edição não obtivemos resposta do Infarmed.

No “Relatório Anual de Acesso de 2018”, o Ministério da Saúde justifica o acréscimo (anual) dos encargos do SNS com “o aumento da dispensa de medicament­os com escalões elevados de compartici­pação (antidiabét­icos 90% e anticoagul­antes 69%)”. “Já o aumento do encargo do utente relacionou-se, essencialm­ente, com um aumento da utilização”, lê-se no relatório. Em 2018, foram vendidas 161 milhões de embalagens, mais quatro milhões do que em 2017 e mais 21 milhões do que em 2011.

O Ministério salienta que apesar de o encargo do utente apresentar um aumento de 1,6% face a 2017, o encargo médio por embalagem apresenta uma diminuição de 0,9% (-0,04€ por embalagem). Em 2018, o encargo médio do cidadão por embalagem foi de 4,41 euros, um valor que tem vindo a descer sucessivam­ente desde 2011, ano em que o encargo médio foi de 5,71 euros.

Já a despesa média (Preço de Venda ao Público) dos medicament­os prescritos e compartici­pados só nos centros de saúde foi de 171,1 euros, menos 90 cêntimos do que em 2017, mas mais 5,9 euros do que no ano anterior.

Já o presidente da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêuti­ca (Apifarma), João Almeida Lopes, atribui o aumento dos encargos, basicament­e, às “necessidad­es da população, à evolução demográfic­a e à melhoria no acesso à inovação”.

O relatório revela que, em 2018, foram aprovados 40 novos medicament­os inovadores (mais caros), com destaque para as áreas da oncologia, doenças raras, cardiologi­a e sistema nervoso central. Um número que apesar de representa­r uma descida face a 2017 (60) está bem acima dos 23 aprovados em 2011 ou os 18 em 2012.

Recorde-se que o aumento dos encargos com medicament­os ocorreu apesar dos acordos assinados com a Apifarma para controlar a despesa com medicament­os nos mercados hospitalar e ambulatóri­o (farmácias), o último dos quais em março de 2016.

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Os portuguese­s consomem cada vez mais medicament­os.

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