Provérbio nascido em Wall Street
PAR A O N D E VAI S, PO RTU GAL?
Olha-se para os resultados das eleições do passado fim-de-semana, e o que salta à vista é que o vencedor foi eleito por uma minoria de cidadãos eleitores. A diferença entre o número de eleitores e o número de votantes é cada vez maior. A abstenção ultrapassou os 45%, votaram menos cerca de 300 mil pessoas. O número de eleitores que votaram nulo ou branco subiu – eram 3,7%, agora foram 4,28%. De entre os votos registados nos diversos partidos, 680 mil não elegeram nenhum deputado num total de cinco milhões de votos. Há muitos anos que se fala na necessidade de introduzir alterações na lei eleitoral, por forma a combater a abstenção e melhorar a representatividade da decisão dos eleitores, mas a lei eleitoral está praticamente imutável há mais de quatro décadas, não acompanha a evolução dos tempos, do comportamento dos cidadãos nem da tecnologia. Os cidadãos não se sentem representados num sistema que não aproxima eleitores dos eleitos. Aos partidos maiores não interessa mudar este estado de coisas. O sistema de representatividade existente favorece-os, enquanto prejudica o surgimento de novas organizações políticas. E, apesar das dificuldades do sistema, o descontentamento com os partidos instalados é tanto que três novos partidos conseguiram chegar ao Parlamento. O PS, que chegou a sonhar com uma maioria absoluta e teve o sonho de atingir 40% dos votos, ficou abaixo dos 37%. Costa foi indigitado primeiro-ministro com um milhão e oitocentos e sessenta mil votos num universo de 10,8 milhões de eleitores inscritos – ou seja, pouco mais de 17% do eleitorado. É a António Costa, claramente o vencedor na menor votação de sempre, que cabe decidir os caminhos do futuro próximo. O cenário não é agradável, vamos assistir a uma radicalização do Bloco e do PCP e a uma permanente negociação do PS. Deixa de haver estratégia para o país, passa somente a haver táctica para um partido conservar o poder. Para onde vai Portugal?