Juros baixos são um convite ao disparate
O Banco de Portugal dizia esta semana que taxas de juro baixas são perigosas para a economia. Não é preciso ter um doutoramento em economia para perceber porquê: com taxas baixas baixa-se a fasquia da análise de risco.
O grupo Malo Clinic é um bom exemplo. Fundado em 1995 por Paulo Maló, entrou num rápido processo de crescimento e diversificação de negócio. O fundador, médico-dentista e investigador, conseguiu registar patentes que alienadas a importantes grupos de medicina-dentária lhe renderam o necessário para avançar com a expansão. O problema é que esse capital não era suficiente para suportar o elevado custo de entrada em alguns mercados, como o Brasil. E Maló fez o mais fácil: endividou-se. A ponto de ter chegado a dever 70 milhões de euros à banca, com destaque para o BES (80%). O resto o leitor já sabe: o grupo entrou em rutura e foi comprado pelo fundo Atena Equity Partners que entrou com um PER ( homologado esta semana).
Moral da história: um investigador brilhante, pioneiro a nível mundial, levou a empresa à falência. O grupo que comprou a Malo Clinic beneficia de um perdão de dívida de 25 milhões de euros pelo Novo Banco (que o contribuinte suporta via injeções de capital).
Conclusão – cumpriu-se mais uma etapa da historiografia empresarial portuguesa: empresários que não querem partilhar o controlo da empresa com outros acionistas (única forma de angariar capital para financiar o negócio) recorrem a capitais alheios para fazer expansões arriscadas. Podia ter corrido bem? Podia. Mas correu mal… como tantos outros casos.