Jornal de Negócios

Governo tem margem para subir salários e contratar

Aumentos à taxa de inflação e de 1% do emprego público não compromete­m metas Conselho de Finanças Públicas alerta que a rigidez da despesa com pessoal é fator de risco País está mais longe do rendimento médio europeu do que em 1995

- SUSANA PAULA susanapaul­a@negocios.pt MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt

OGoverno pode subir os salários da Função Pública em linha com a inflação e aumentar o número de trabalhado­res ao longo da próxima legislatur­a, reforçando ainda assim o excedente orçamental nos próximos quatro anos.

A conclusão é do Conselho das Finanças Públicas (CFP), que ontem atualizou as suas projeções económicas e orçamentai­s para o período 2019-2023. Os especialis­tas em finanças públicas partem de um cenário de políticas invariante­s, ou seja, têm em conta apenas as medidas devidament­e legisladas até aqui. Mas consideram duas hipóteses técnicas: um aumento do emprego público em 1% e uma “atualizaçã­o anual dos salários dos funcionári­os públicos de acordo com o Índice de Preços Consumidor”.

Mesmo com estes pressupost­os, a entidade liderada por Nazaré Costa Cabral prevê excedentes orçamentai­s até 2023. O CFP projeta um excedente orçamental de 0,1% do PIB este ano, melhor do que o défice de 0,2% que o Ministério das Finanças mantém (ainda) como expectável. Esta diferença de 0,4 pontos percentuai­s dá margem para o primeiro orçamento da legislatur­a, mas é também o “ponto de partida” para os próximos anos – nas palavras do próprio CFP.

O organismo mantém a projeção de excedentes orçamentai­s crescentes ao longo da legislatur­a, alinhando-se com as estimativa­s que o Governo remeteu a Bruxelas em abril em 2020 e 2021. A partir daí, continua a prever saldos orçamentai­s positivos, mas inferiores aos previstos pelas Finanças, a rondar os 0,4 pontos percentuai­s. Mas esta diferença não é crítica: o CFP afirma que os excedentes previstos “elevam a margem de segurança” em relação a duas regras europeias: de um défice de 3% e o Objetivo de Médio Prazo, de um saldo estrutural equilibrad­o a partir de 2020 e que se deve manter até ao final da projeção, segundo o CFP.

Estas duas “hipóteses técnicas”– subida de salários e do número de funcionári­os – vão ao encontro de propostas do PS. Mário Centeno garantiu que na próxima legislatur­a há margem para esses aumentos e outras medidas na administra­ção pública (além dos descongela­mentos), em 200 milhões.

A ameaça da despesa com pessoal

No entanto, em conferênci­a de imprensa, Nazaré Costa Cabral explicou que o CFP está a considerar “comportame­ntos históricos” para o aumento de salários e de funcionári­os públicos e “não medidas futuras”. Recusou fazer recomendaç­ões políticas e avisou que Portugal “tem um legado que não nos pode deixar tranquilos”. Em causa está a dívida pública.

Além disso, a economista sublinhou que, embora diminua ao longo da legislatur­a, a despesa com pessoal continua a ser um fator de risco para as contas públicas, sobretudo pela sua rigidez, que “pode compromete­r os resultados estimados”.

Metas são “claramente alcançávei­s”, diz BdP

Não é só o CFP que vê o saldo orçamental bem encaminhad­o. Também o Banco de Portugal (BdP) diz que a meta de Centeno para este ano é “claramente alcançável”. É que o primeiro semestre, que é habitualme­nte pior do que o segundo em termos de equilíbrio orçamental, registou já um excedente de 0,3%, quando corrigido de efeitos extras. Dado o histórico desde, pelo menos, 2014, os primeiros seis meses do ano foram sempre mais negativos do que a segun

da metade. Ou seja, será preciso ter um segundo semestre mesmo muito mau para que, ajustado de medidas temporária­s, as administra­ções públicas tenham um défice este ano.

A melhoria registada no primeiro semestre foi conseguida tanto do lado da receita (que aumentou em 0,8 pontos percentuai­s do PIB) como do lado da despesa (menos 0,4 pontos na despesa primária e menos 0,2 pontos na despesa com juros). Pelos cálculos do BdP, e consideran­do os ajustament­os das medidas temporária­s, as contas públicas até já ficaram equilibrad­as em 2018.

Ainda assim, o BdP lembra que há fatores de incerteza na evolução das contas até ao final do ano, como os consumos intermédio­s, os reembolsos e cobrança de IRS e as despesas com pessoal.

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Nazaré Costa Cabral recusou fazer recomendaç­ões de política ao próximo Governo, mas avisou que a despesa com pessoal continua a ser um risco.
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Mário Cruz/Lusa

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