Jornal de Negócios

ARMANDO ESTEVES PEREIRA

- ARMANDO ESTEVES PEREIRA

“Costa foi o grande triunfador das eleições e mesmo sem maioria absoluta vai tentar governar sozinho.”

Os resultados de domingo reforçaram António Costa, mas fragilizar­am os parceiros da geringonça. O casamento poliamoros­o que durou quatro anos só foi excelente para uma das partes. O Bloco manteve deputados, mas perdeu mais de 57 mil votos e viu entrar no Parlamento o Livre, um rival na mesma área política, que resulta de uma cisão antiga da formação liderada por Catarina Martins. Pior esteve o PCP. A coligação liderada pelos comunistas perdeu mais de 115 mil votos e viu encolher o número de eleitos de 17 para 12.

Foi uma noite amarga para os parceiros da coligação, tendo em conta que o PS ganhou face a 2015 mais 124 mil votos e aumentou o seu peso no Parlamento em 21 deputados. Foi uma união política com separação de bens e em que só um dos cônjuges ficou a ganhar.

O primeiro-ministro indigitado tenta manter a mesma fórmula, mas resta saber se os parceiros se manterão fiéis nos próximos quatro anos, tal como aconteceu na anterior legislatur­a.

À partida, a exigência do novo ciclo é aparenteme­nte mais fácil para o PS. Agora não precisa do voto a favor dos aliados de esquerda, basta a abstenção. Mas por outro lado, a pressão dos partidos atingidos por uma erosão do voto, que pouco ganharam com a geringonça, pode tornar a relação mais instável. Por ironia do destino, algumas das medidas que renderam votos ao PS, derivadas da distribuiç­ão de rendimento­s e da redução de custos como os passes de transporte, tiveram na sua génese os parceiros de esquerda.

A relação aberta que António Costa pretende com os partidos de esquerda pode não ser tranquila se houver menos para distribuir. A anterior legislatur­a correu bem porque além de o contexto externo ter sido bastante favorável com a mudança da política monetária do BCE, a economia portuguesa teve a sorte de acolher uma explosão turística que aumentou empregos e ajudou a valorizar o mercado imobiliári­o, reanimando a construção civil.

As exportaçõe­s também tiveram um comportame­nto positivo, mas se a economia mundial arrefecer, quer as exportaçõe­s quer as receitas turísticas podem sofrer.

Por outro lado, no Estado bastou ao Governo abrir torneiras que o executivo anterior sob a tutela da troika tinha fechado. Agora é preciso fazer mais. Por isso, Costa deve preferir que Rui Rio continue na liderança do PSD. É que se as coisas ficaram difíceis à esquerda, há sempre o Plano B de acordos com o PSD.

Talvez seja essa esperança que mantenha o antigo autarca do Porto na liderança do PSD, depois de umas eleições em que PSD e CDS perderam mais de 436 mil votos e perderam deputados para o PS e para os novos partidos de direita que entram no Parlamento.

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João Cor tesão
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