“Ganharíamos muito” com a eleição do líder em congresso
Na véspera da reunião magna do PSD, o social-democrata diz que o “eleitorado castiga quem não aceita resultados com fair-play”.
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Na antecâmara do 38.º Congresso do PSD, o ex-candidato à liderança do partido vem defender o regresso aos históricos congressos eletivos sociais-democratas. O eurodeputado Paulo Rangel considera ser o modelo que garante maior eficácia e legitimidade à liderança eleita.
A moção setorial que Maduro leva ao congresso propõe a realização de primárias abertas para a escolha do líder. Concorda?
Não. Já fui defensor de primárias e diretas, mas acho que ganharíamos muito em regressar às eleições em congresso. Quer em termos de legitimidade, quer de eficácia da afirmação dos partidos, a eleição por via representativa no congresso é talvez a melhor. Na Europa tem-se assistido a uma afirmação enorme do populismo, que se baseia na convicção criada nas pessoas de que são elas que estão a decidir quando, na verdade, muitas vezes não estão. A participação das pessoas não se faz assim, faz-se com algumas ideias que estão na moção do Poiares Maduro, mas não propriamente na questão eleitoral. Perante o avanço em progressão geométrica do populismo temos de defender a democracia representativa.
As primárias tendem para a democracia direta?
Sim e portanto para um apelo mais emocional, mais populista, mais de paixões do que razões, um pouco como os referendos. Temos de combater isso, não podemos ir atrás do sonho populista. Já aconteceu quando Marques Mendes, que era antidiretas, veio defender as diretas. Foi atrás desse populismo e depois foi a primeira vítima desse populismo. É preciso defender o princípio da representatividade e o congresso tinha essa lógica de representação. Cada unidade territorial do partido escolhia os seus representantes e estes tinham um mandato para, no congresso, fazerem as suas escolhas. Isto é uma questão de legitimidade. E é uma questão de eficiência da comunicação. Este processo das diretas praticamente passou despercebido da opinião pública, o que depois esvazia o congresso que, por mais extraordinário que seja, não vai ter o mesmo interesse. As pessoas participam mais, têm mais ligação ao partido, quando as decisões são tomadas em congresso. Até os eleitores acompanham com maior interesse. Dou o exemplo do CDS, que aparentemente estava num momento de grande invisibilidade, as pessoas diziam que é um partido numa crise muito grave, com cinco candidatos sem que nenhum seja um histórico. Mas a verdade é que naquele fim de semana, do ponto de vista mediático e das redes sociais teve mais apelo do que o longo processo eleitoral interno do PSD. O congresso tem essa capacidade de atração.
Um líder eleito em congresso sai mais forte e com o partido mais mobilizado?
Sim. Numa era em que há instrumentos de participação das pessoas muito mais fortes e efetivos do que havia antes, nomeadamente as redes sociais, temos de fazer a tal globalização das pessoas, os partidos têm de se abrir. O que temos de trazer é novos militantes e fazer com que os simpatizantes se tornem militantes.
Mas como é que isso se faz quando, em paralelo, assistimos ao crescente apelo dos mecanismos de democracia direta como é exemplo a plataforma de Casaleggio?
Tenho feito muito essa pedagogia e isto é mesmo uma questão de princípio. Por isso não vou atrás da última Coca-Cola no deserto, pois qual será a próxima etapa? Temos muitos mecanismos para promover a participação, mas uma coisa é participar, outra é representar. Não podemos confundir a legitimidade dos representantes com a legitimidade dos processos de audição. Os representantes têm é de ter canais para ouvir e incorporar essas audiências.
O facto de o PS, nas primárias que vai realizar, obrigar os simpatizantes a pagarem para participar é um recuo?
Temos de valorizar a democracia representativa e mais do que nunca temos de a resgatar. O primeiro caminho para a ditadura é a democracia direta. Por isso é que Aristóteles e Platão tinham uma certa desconfiança da democracia, porque estavam a pensar na democracia direta e não nos mecanismos de representação. Rousseau é muito responsável até pelas ditaduras com a ideia de que a democracia da maioria se sobrepõe às minorias.
É preciso aproximar representantes de representados.
O segredo das democracias moderadas liberais, e com sucesso no Ocidente, foi o princípio da representação política. No dia em que em que substituirmos esse princípio por um plebiscito quase diário, a liberdade acabou. Seria, no fundo, o regresso ao “pintassilguismo”.
Como avalia que o Governo tenha voltado a acenar com uma crise política devido ao IVA da eletricidade?
Acho lamentável este exercício de ilusionismo, chantagem e ameaças que António Costa fez. Um primeiro-ministro tem de ter responsabilidade. Tendo parceiros preferenciais definidos, é com eles que tem de se entender e não com o PSD.
“Temos de valorizar a democracia representativa (...) O primeiro caminho para a ditadura é a democracia direta.”
“Acho lamentável ameaças de Costa [sobre IVA da luz].”