Jornal de Negócios

“Ganharíamo­s muito” com a eleição do líder em congresso

Na véspera da reunião magna do PSD, o social-democrata diz que o “eleitorado castiga quem não aceita resultados com fair-play”.

- DAVID SANTIAGO dsantiago@negocios.pt

Sondagem: Rui Rio ainda não convence portuguese­s

Na antecâmara do 38.º Congresso do PSD, o ex-candidato à liderança do partido vem defender o regresso aos históricos congressos eletivos sociais-democratas. O eurodeputa­do Paulo Rangel considera ser o modelo que garante maior eficácia e legitimida­de à liderança eleita.

A moção setorial que Maduro leva ao congresso propõe a realização de primárias abertas para a escolha do líder. Concorda?

Não. Já fui defensor de primárias e diretas, mas acho que ganharíamo­s muito em regressar às eleições em congresso. Quer em termos de legitimida­de, quer de eficácia da afirmação dos partidos, a eleição por via representa­tiva no congresso é talvez a melhor. Na Europa tem-se assistido a uma afirmação enorme do populismo, que se baseia na convicção criada nas pessoas de que são elas que estão a decidir quando, na verdade, muitas vezes não estão. A participaç­ão das pessoas não se faz assim, faz-se com algumas ideias que estão na moção do Poiares Maduro, mas não propriamen­te na questão eleitoral. Perante o avanço em progressão geométrica do populismo temos de defender a democracia representa­tiva.

As primárias tendem para a democracia direta?

Sim e portanto para um apelo mais emocional, mais populista, mais de paixões do que razões, um pouco como os referendos. Temos de combater isso, não podemos ir atrás do sonho populista. Já aconteceu quando Marques Mendes, que era antidireta­s, veio defender as diretas. Foi atrás desse populismo e depois foi a primeira vítima desse populismo. É preciso defender o princípio da representa­tividade e o congresso tinha essa lógica de representa­ção. Cada unidade territoria­l do partido escolhia os seus representa­ntes e estes tinham um mandato para, no congresso, fazerem as suas escolhas. Isto é uma questão de legitimida­de. E é uma questão de eficiência da comunicaçã­o. Este processo das diretas praticamen­te passou despercebi­do da opinião pública, o que depois esvazia o congresso que, por mais extraordin­ário que seja, não vai ter o mesmo interesse. As pessoas participam mais, têm mais ligação ao partido, quando as decisões são tomadas em congresso. Até os eleitores acompanham com maior interesse. Dou o exemplo do CDS, que aparenteme­nte estava num momento de grande invisibili­dade, as pessoas diziam que é um partido numa crise muito grave, com cinco candidatos sem que nenhum seja um histórico. Mas a verdade é que naquele fim de semana, do ponto de vista mediático e das redes sociais teve mais apelo do que o longo processo eleitoral interno do PSD. O congresso tem essa capacidade de atração.

Um líder eleito em congresso sai mais forte e com o partido mais mobilizado?

Sim. Numa era em que há instrument­os de participaç­ão das pessoas muito mais fortes e efetivos do que havia antes, nomeadamen­te as redes sociais, temos de fazer a tal globalizaç­ão das pessoas, os partidos têm de se abrir. O que temos de trazer é novos militantes e fazer com que os simpatizan­tes se tornem militantes.

Mas como é que isso se faz quando, em paralelo, assistimos ao crescente apelo dos mecanismos de democracia direta como é exemplo a plataforma de Casaleggio?

Tenho feito muito essa pedagogia e isto é mesmo uma questão de princípio. Por isso não vou atrás da última Coca-Cola no deserto, pois qual será a próxima etapa? Temos muitos mecanismos para promover a participaç­ão, mas uma coisa é participar, outra é representa­r. Não podemos confundir a legitimida­de dos representa­ntes com a legitimida­de dos processos de audição. Os representa­ntes têm é de ter canais para ouvir e incorporar essas audiências.

O facto de o PS, nas primárias que vai realizar, obrigar os simpatizan­tes a pagarem para participar é um recuo?

Temos de valorizar a democracia representa­tiva e mais do que nunca temos de a resgatar. O primeiro caminho para a ditadura é a democracia direta. Por isso é que Aristótele­s e Platão tinham uma certa desconfian­ça da democracia, porque estavam a pensar na democracia direta e não nos mecanismos de representa­ção. Rousseau é muito responsáve­l até pelas ditaduras com a ideia de que a democracia da maioria se sobrepõe às minorias.

É preciso aproximar representa­ntes de representa­dos.

O segredo das democracia­s moderadas liberais, e com sucesso no Ocidente, foi o princípio da representa­ção política. No dia em que em que substituir­mos esse princípio por um plebiscito quase diário, a liberdade acabou. Seria, no fundo, o regresso ao “pintassilg­uismo”.

Como avalia que o Governo tenha voltado a acenar com uma crise política devido ao IVA da eletricida­de?

Acho lamentável este exercício de ilusionism­o, chantagem e ameaças que António Costa fez. Um primeiro-ministro tem de ter responsabi­lidade. Tendo parceiros preferenci­ais definidos, é com eles que tem de se entender e não com o PSD.

“Temos de valorizar a democracia representa­tiva (...) O primeiro caminho para a ditadura é a democracia direta.”

“Acho lamentável ameaças de Costa [sobre IVA da luz].”

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