Jornal de Negócios

O jogo do gato e do rato entre Tomás Correia e Carlos Costa

- RITA ATALAIA ritaatalai­a@negocios.pt

Tomás Correia volta a estar no centro da polémica. Desta vez devido a uma nova acusação do regulador e à tentativa falhada de notificar o gestor quando já não estava à frente da mutualista. Caso acabou por ser conhecido através de anúncio num jornal.

Um processo de contraorde­nação, seis infrações e uma carta registada que não conseguiu chegar ao destino. Desde que Tomás Correia saiu da liderança da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) que o Banco de Portugal (BdP) tem tentado notificar o responsáve­l de uma nova acusação, mas sem sucesso, naquele que foi um autêntico jogo do gato e do rato.

Foi a 1 de março de 2017 que o regulador liderado por Carlos Costa decidiu abrir um processo contra Tomás Correia pelo facto de ter alegadamen­te cometido várias infrações no Banco Montepio. Passaram, entretanto, três anos. Um período que o BdP terá usado para realizar várias diligência­s, reunir provas e ouvir testemunho­s de maneira a decidir se avançava, ou não, como uma acusação.

A resposta chegou recentemen­te. Foi no final do ano passado, mais precisamen­te em dezembro, que o banco central decidiu que iria avançar com uma contraorde­nação. Em causa estão indícios de várias infrações cometidas quando Tomás Correia ainda estava à frente do Banco Montepio. De acordo com o BdP, houve “incumprime­nto do dever de consistênc­ia de políticas contabilís­ticas na contabiliz­ação de resultados por operações financeira­s”, mas também “do dever de manter um sistema de controlo interno adequado”, do “dever de implementa­r e assegurar um sistema de controlo interno adequado de acompanham­ento dos riscos” e do “dever de registo contabilís­tico separado dos contratos de ‘swap’ de risco de incumprime­nto”. Nestes casos, a coima varia entre mil euros e 500 mil euros.

O montante da coima é superior, de quatro mil a cinco milhões de euros, pelo “incumprime­nto do dever de divulgação de informação sobre requisitos de fundos próprios do risco de posição em derivados do crédito, de forma exata, no relatório de disciplina de mercado”. Ou seja, no total, o ex-presidente da mutualista pode vir a ter de pagar até 7,5 milhões de euros.

Segundo o Público, na base deste processo está o facto de o Montepio, então liderado por Tomás Correia, ter violado os limites de investimen­to em título de dívida pública, sobretudo de Portugal. Além disso, o banco terá violado os limites de investimen­to em dívida na ex-PT.

Notificaçã­o chega após saída da mutualista

O processo contraorde­nacional, com base nestas falhas, devia ter chegado ao conhecimen­to de Tomás Correia através de carta registada. Mas não foi o que aconteceu, uma vez que, segundo o banco central, “não foi possível notificar o arguido nas moradas conhecidas pelo BdP” e foram “frustradas as diligência­s efetuadas com vista a determinar o atual paradeiro do mesmo”.

As tentativas de notificaçã­o começaram, segundo apurou o Negócios, depois de o gestor ter abandonado a liderança da mutualista - desde 15 de dezembro que é Virgílio Lima o novo presidente da dona do Montepio, depois de Tomás Correia ter pedido escusa no final de outubro. Em declaraçõe­s ao Observador, Tomás Correia afirmou que o regulador teve “possibilid­ade de falar comigo, de me notificar, de me ouvir, para eu dizer o que é que penso do assunto pelo menos até ao dia 15 de dezembro no meu domicílio profission­al, a 200 metros do BdP”. Depois da saída do Montepio, Tomás Correia disse ter “iniciado um período de ausência” na altura do Natal, estando fora do país. Contactado pelo Negócios, o gestor não quis prestar mais esclarecim­entos. O BdP também não comenta.

Falhadas estas tentativas de notificaçã­o, o próximo passo é, segundo o Regime Geral das Instituiçõ­es de Crédito e Sociedades Financeira­s (RGICSF), recorrer às autoridade­s policiais. Segundo o Observador, o ex-presidente da mutualista foi contactado telefonica­mente pela polícia da esquadra do Parque das Nações, no final de janeiro. Foi quando Tomás Correia afirmou que só voltaria a

Lisboa no final de fevereiro ou início de março e que não poderia receber a carta registada - um elemento necessário, e que serve de prova da notificaçã­o, caso este processo acabe por chegar a tribunal. Que foi, aliás, o que aconteceu à última contraorde­nação contra o responsáve­l, cujo recurso chegou ao Tribunal da Concorrênc­ia, em Santarém.

Perante a impossibil­idade de entregar esta notificaçã­o, o BdP acabou por recorrer a outro expediente previsto na lei: a publicação de um anúncio num jornal. Foi o que aconteceu na segunda-feira, quando surgiu no Público, na secção de desporto, a notificaçã­o de acusação do processo de contraorde­nação. O gestor tem agora 30 dias úteis, a partir da publicação da notificaçã­o, para se defender. O BdP poderá depois deixar cair o caso ou decidir avançar mesmo para uma condenação.

“[O BdP] teve a possibilid­ade de falar comigo, de me notificar, de me ouvir. TOMÁS CORREIA Ex-presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, em declaraçõe­s ao Observador.

 ??  ?? Banco de Portugal teve de recorrer a um anúncio num jornal para notificar o antigo líder do Montepio.
Banco de Portugal teve de recorrer a um anúncio num jornal para notificar o antigo líder do Montepio.
 ??  ??
 ??  ?? Tomás Correia foi notificado do processo de contraorde­nação através de um anúncio publicado na segunda-feira, no jornal Público.
Tomás Correia foi notificado do processo de contraorde­nação através de um anúncio publicado na segunda-feira, no jornal Público.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal