Jornal de Negócios

“O Orçamento de Estado para o corrente ano ainda tem o código genético da geringonça.”

- ARMANDO ESTEVES PEREIRA

As notícias da morte da geringonça foram exageradas. Já não existe o mesmo contrato poliamoros­o que funcionou, quase sem falhas, na anterior legislatur­a, mas na hora das dificuldad­es, ainda é no seio dos antigos aliados que o Governo encontra conforto. Agora com o PS com mais deputados e o PAN reforçado, já basta a abstenção de PCP ou do Bloco para António Costa levar a água ao seu moinho.

O Orçamento de 2020 que passou só com os votos a favor do PS e a permissão dos partidos de Esquerda ainda tem o código genético da geringonça. A novela falhada da redução do IVA na conta da luz revelou o papel decisivo do PCP para que a proposta do PSD acabasse por morrer na praia.

Nas questões mais sensíveis, o PS contou com os velhos aliados, apesar de neste Orçamento já ter havido várias medidas aprovadas com o voto contra do partido do Governo. A geringonça ainda não está morta, mas o prazo de validade pode não aguentar até ao final da legislatur­a.

O Orçamento de 2021, a discutir no próximo outono, já será mais difícil de negociar para o Governo de António Costa. Com economia em ritmo lento e a pressão na despesa, a proposta do próximo ano continuará a ser parecida com a deste ano, apesar de o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais já ter prometido uma redução no IRS. Que até pode acontecer nos escalões mais baixos, mas certamente será compensada por outra subida da carga fiscal num qualquer imposto indireto, ou em vários.

E o Orçamento de 2022 será um verdadeiro teste de fogo. Esse documento será apresentad­o no Parlamento no rescaldo das próximas eleições autárquica­s, que mais do que as presidenci­ais, em que Marcelo deve ter um passeio anunciado, servirão como grande barómetro político. As eleições locais serão um exame para o partido do Governo, para o maior partido da oposição, o PSD, e também para o PCP, que nas anteriores sofreu uma hemorragia de votos e viu o PS conquistar-lhe i mportantes bastiões.

Esses resultados irão condiciona­r a agenda política nacional e o Orçamento. Só se ultrapassa­r esse cabo das tormentas, é que Costa conseguirá o feito de completar duas legislatur­as completas com um governo minoritári­o.

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Miguel A. Lopes/Lusa
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