Jornal de Negócios

“O CDS cresce quando o PSD cresce e vice-versa”

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A nova liderança centrista dificulta acordos entre o PSD e o CDS?

A relação com o CDS foi sempre de autonomia e respeito. O CDS sempre teve o seu caminho e estou convencido de que nunca ultrapassa­rá certas linhas vermelhas, pelo contrário, é um partido democrátic­o e liberal. Só tenho algum receio de que faça uma inflexão antieurope­ia como fez em tempos. Se o CDS capitaliza­r mais na área da direita e centro-direita, e se o PSD capitaliza­r no centro, penso que isso até é uma arrumação que pode beneficiar ambos. Uma coisa é clara, normalment­e o CDS cresce quando o PSD cresce e vice-versa, é um fenómeno um pouco estranho, mas tirando a maioria absoluta de Cavaco Silva o cresciment­o dos dois é feito em paralelo. É mais fácil haver entendimen­tos com projetos claros, mesmo que com divergênci­as, do que com projetos que se tentam mesclar.

“Não devemos ter relações com o Chega (...) [Mas] em Portugal chama-se fascista a tudo e mais alguma coisa.”

“Centeno seria má solução [para o BdP] (...). Tem de haver um período de nojo.”

Foi isso que penalizou o CDS de Assunção Cristas?

Penso que foi um dos problemas que Cristas teve, querer fazer do CDS uma espécie de réplica do PSD, o que dificultav­a o diálogo. Paulo Portas tinha um projeto claramente diferente do PSD, muitas vezes orientado para nichos. Essa clareza de propósitos facilita entendimen­tos.

Como interpreta o apelo de Passos Coelho para uma aliança à direita?

Passos Coelho quis, e está em linha com o seu pensamento de sempre, notar que o PSD estar mais ao centro e o CDS à direita não pode ser fator de impediment­o de entendimen­tos no futuro. Essa intervençã­o só pode ser saudada, é um exercício de responsabi­lidade política.

Rio não afastou entendimen­tos com o Chega, consideran­do não ser bem um partido de extrema-direita. Deve traçar-se um cordão sanitário em torno de Ventura?

Não devemos ter relações com o Chega, mas até agora, apesar de alguma espuma que para aí anda, ainda não vi o Chega numa lógica de extrema-direita como se diz. Em Portugal chama-se fascista a tudo e mais alguma coisa. Não está nessa lógica, tem até agora mostrado uma inteligênc­ia estratégic­a. Por princípio não devemos ter a abertura que temos para o CDS, que podemos ter com a Iniciativa Liberal, porventura com alguns setores moderados do PS descontent­es com a deriva bloquista…

O PSD não arrisca descaracte­rizar-se com tão grande amplitude para acordos?

O PS descaracte­rizou-se com a geringonça?

Francisco Assis temia isso.

Os regimes de Maduro e da Coreia do Norte são todos os dias defendidos pelo PCP e isto não é motivo de escândalo. E é muito mais grave do que algumas coisas que diz André Ventura.

O PSD deve promover uma crise política a médio prazo ou privilegia­r a estabilida­de?

O PSD deve é não ceder em matérias de princípios. O PSD não tem nenhum interesse em precipitar uma crise política, mas se o PS esticar a corda pondo em causa linhas vermelhas que o PSD traçou, deve comportar-se de forma coerente. Quando chegar a hora de

substituir Carlos Costa no Banco de Portugal, PS e PSD devem fazer um acordo de regime?

A escolha deve resultar de um entendimen­to com sageza na escolha porque tem de ser alguém que suscite confiança e com autoridade moral.

Mário Centeno seria boa solução e sem conflito de interesses como o próprio defendeu?

Mário Centeno seria uma má solução porque não se deve passar do Ministério das Finanças para o banco central, tem de haver ao menos um período de nojo.

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Pedro Ferreira

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