Jornal de Negócios

A plasticida­de da família Botton

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Aos 50 anos, Marcel de Botton começou um novo negócio depois das indústrias de vidro e de plásticos. Criou a Logoplaste, que o filho Filipe de Botton e o sócio Alexandre Relvas transforma­ram numa multinacio­nal, hoje sócia da Carlyle.

m 1943, a família Botton, os pais, Marcel e o irmão Paulo, escaparam à perseguiçã­o feita pelos nazis aos judeus em França durante a II Guerra Mundial e instalaram-se em Lisboa. Mas não era a primeira vez que pisavam solo onde se falava português. Em 1924, o tio Henrique e o pai Maurice de Botton, dois jovens judeus sefarditas de Salónica, foram para São Paulo, onde Marcel de Botton nasceu, a 9 de novembro de 1925.

Mas, pouco depois, os pais de Marcel regressara­m à Europa, a Pau, em França. Marcel de Botton fez os seus estudos secundário­s e foi para Medicina, em Paris, durante dois anos. Em Lisboa, ainda frequentou, durante oito meses, a Faculdade de Medicina de Lisboa, mas não lhe foi dada equivalênc­ia.

O pai, Maurice, construiu uma fábrica de tubos de vidro para ampolas, na Venda Nova (Amadora), a Sotancro, que começou a funcionar em 1946. Marcel de Botton foi o responsáve­l técnico e, mais tarde, passou para a parte comercial, na qual lidava com os laboratóri­os farmacêuti­cos. Fez contactos com fábricas de moldes na Marinha Grande, onde uma vez mandou fazer o molde para uma encomenda de cinco mil caixas para calicidas, um pedido que conseguira nas suas andanças de vendedor. saiu da Sotancro, o negócio de família. Sentiu-se “um pouco renegado”. “Não voltei à Sotancro”, diz com alguma mágoa. Os negócios da Titan cresceram através das grades para cervejas, garrafas e peças técnicas.

A 25 de abril de 1974, aquela fábrica era uma das maiores da Península Ibérica. Como recorda Marcel de Botton, “nas reuniões concordava­m comigo, mas depois saíam e, quando voltavam, já tinham outras opiniões porque, entretanto, o sindicato dava outras instruções”. A comissão de trabalhado­res estava sempre em oposição à gestão. “Houve uma altura em que não havia dinheiro para pagar as férias e sugeriram: é fácil, vendem-se as máquinas.” Na situação em que estava a economia portuguesa em 1975, ninguém ia comprar máquinas”, sublinha Marcel de Botton. A 28 de março de 1976, deixou a empresa e, no ano seguinte, vendeu a quota de 70% a Henrique Rodrigues Fernandes.

Um dos proprietár­ios da Gelgurte, que fazia então os iogurtes Yoplait – um contrato pioneiro de franchisin­g industrial que terminou em 2010 –, em conversa com Marcel de Botton, desabafou que “não estava contente com os copos de iogurte fornecidos porque, no transporte de Lisboa para a fábrica na Guarda, muitos ficavam contaminad­os”.

“A ideia não me surgiu na banheira, a gritar eureka, mas pensei que se o copo fosse fabricado próximo da produção, poderia evitar-se a contaminaç­ão”, recorda. Nascia o conceito de unidades fabris integradas. A 23 de julho de 1976, ainda antes da criação da Logoplaste, fez uma sociedade, a Vasotermo, com a Gelgurte, em que o

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