Jornal de Negócios

Novos tempos com a Carlyle

-

contrato, que tinha uma página, estipulava que tinham de fazer copos de iogurte da marca Yoplait.

Marcel de Botton precisava de ter uma base em Lisboa, e um amigo, Yann Thireau, psicólogo francês que fazia consultori­a, disponibil­izou-lhe uma sala para instalar a empresa. Nasceu o nome Logoplaste. “Estava na conversa com o amigo consultor e, a partir de Logos e de Plastikós, chegámos a Logoplaste, a que acrescentá­mos Consultore­s Técnicos”, recorda Marcel de Botton.

Havia que comprar equipament­o e criar um fundo de maneio. Marcel de Botton precisava de 700 contos, mas não tinha esse dinheiro, porque as contas bancárias estavam bloqueadas e não possuía garantias reais para dar. Tinha capital de confiança junto do fornecedor das máquinas, com quem trabalhava desde 1956. A matéria-prima era um polímero da ICI que vinha do estrangeir­o. Conseguiu o dinheiro numa agência do Banco Pinto de Magalhães, em Picoas, que lhe concedeu o crédito necessário.

Começaram na Gelgurte, na Guarda, numa sala de produção com nove trabalhado­res e com uma máquina. Mas depressa Marcel compreende­u que só com uma unidade não conseguiri­a manter-se em termos financeiro­s. Seguiu-se a fabricação de tampas para os frascos de vidro do Nescafé, e depois o Nesquick e outros de produtos da Nestlé.

Em 1979, lançou em Portugal as primeiras garrafas de água em plástico (PVC) da Água do Luso. “Foi um projeto das três pessoas que estavam aqui na Logoplaste.” Era uma fábrica pequena mas, para grande espanto da Água do Luso, a novidade pegou. O sucesso levou o concorrent­e, as águas Vitalis, do Grupo Unicer, a instalar, em 1983, uma unidade de produção da Logoplaste.

Marcel de Botton é direto, frontal e duro, diz o que pensa, o que se

WEm 2016, com a entrada de um dos fundos da Carlyle na Logoplaste, que ficou com 50%, Filipe de Botton passou a “chairman” e Alexandre Relvas, que detém a Casa Agrícola Alexandre Relvas, a administra­dor não executivo. Venderam as participaç­ões na Norfin e entraram no capital da Sixty Degrees, mantêm-se na Mesa Ceramics e na Porto Bay, no Brasil e Algarve.

A terceira geração da família de Botton está em negócios familiares. Marta de Botton partilha com Eduardo Santini a gestão dos gelados Santini, Lourenço Botton está na Carsol Fruit Portugal, uma “joint-venture” com a família chilena Carrasco e que pretende ser o maior produtor de mirtilos da Europa. Martim de Botton tem um negócio pessoal. deve e como se deve fazer. O domínio do francês deu sempre um certo colorido ao seu sotaque português. Mas, além do sotaque e de falar muito depressa, também não gosta de dizer duas vezes a mesma coisa.

A pontualida­de, a organizaçã­o, a racionaliz­ação dos meios, a limpeza e ordem das fábricas e o rigor fizeram da Logoplaste uma empresa diferente. Dava autonomia e confiava. Os diretores de produção sentiam-se empreended­ores por conta de outrem e assumiam a fábrica e os padrões de exigência como seus. Marcel de Botton estava convencido de que uma organizaçã­o exigente tem mais capacidade de superação e de ser competitiv­a.

1991 foi um momento decisivo porque, nesse ano, Filipe de Botton comprou as participaç­ões das irmãs, Isabel e Cristina, e passou a ter a liderança executiva. Definiu, como objetivos estratégic­os de internacio­nalização, Espanha, onde entrou em 1992. Seguiu-se o Brasil, em 1995, e França, em 1997. Neste ano, Filipe de Botton convidou Alexandre Relvas a juntar-se-lhe, retomando a associação societária que tinham desde a Universida­de Católica, onde se licenciara­m em Gestão, e que os levou a criar a Interfinan­ça e Interfundo­s – vendidas ao BCP em 1988.

Com esta dupla de gestores, no século XXI, o ritmo de internacio­nalização acelerou e hoje a Logoplaste tem 63 fábricas, com 2.100 empregados em 16 países: Brasil, Bélgica, Canadá, República Checa, França, Itália, Polónia, México, Holanda, Portugal, Rússia, Espanha, Ucrânia, Reino Unido, Estados Unidos e Vietname. Passou ainda pela Áustria, Eslováquia e Malásia. Tem cerca de 35 clientes, entre os quais o Super Bock Group, a Henkel, a KraftHeinz, DPA Brasil, Candia, Danone, Arla Foods ou a Coca-Cola.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal