Corto Maltese
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O episódio da guerra sobre o IVA da electricidade trouxe para primeiro plano o que é a realidade política de hoje em Portugal: mesmo quando parece existir convergência de objectivos, os partidos das diversas matizes são depois incapazes de se entenderem em termos práticos e de abdicarem dos pequenos interesses tácticos de cada um. Mas o recente debate parlamentar sobre o Orçamento do Estado teve alguns outros pontos curiosos. Um deles foi o rol de promessas em diversas áreas, entre as quais baixar impostos em 2021. Depois, o mais destacado elemento da tropa de choque do PS para crises políticas, Carlos César, veio deixar no ar a possibilidade de o Governo se demitir caso o Orçamento fosse desvirtuado. No ar ficou a ideia de que o PS pode mesmo estar disposto a ir a eleições antes do final da legislatura. As promessas visam claramente combater a pequena queda registada pelo PS, e
Costa acredita ser possível federar alguns votos resultantes da implosão do Livre e do desgaste do PCP; além disso, a grande tentação de António Costa é apostar numa fragmentação maior do espectro à direita, com o Chega a subir, tornando as contas futuras de Rui Rio mais confusas. Um tal cenário futuro possibilitaria ao PS acordos pontuais à esquerda e ao centro-direita, possibilitando ao mesmo tempo uma renovação do elenco governamental, nomeadamente por causa do factor Centeno. A propósito, fica registada uma sibilina sugestão do Presidente da República, que começou a fazer circular a ideia de que o calendário eleitoral ideal para futuras legislativas deveria ser antecipado para antes do verão, de forma a evitar que a campanha seja contaminada pelo espectro do Orçamento... Será que em 2021 teremos duas eleições em vez de acontecerem apenas as autárquicas?