Jornal de Negócios

Pop-up chefs

Os restaurant­es pop-up são uma tendência que pode trazer muita diversidad­e e novas experiênci­as.

- AUGUSTO FREITAS DE SOUSA

Iñaki Bolumburu retira uma colher de gelado do recipiente para completar a sobremesa de soufflé, avelã e pólen biológico. Antes de a deitar no prato, passa com as mãos por baixo da colher, aquece-a um pouco e, assim, a bola sai perfeita.

Este é apenas um pormenor da refeição cozinhada à frente de seis clientes – e na mesa do chef. Está disponível no restaurant­e temporário The Museum, instalado desta vez no centro de Lisboa. A ideia dirige-se aos clientes que não gostam de frequentar sempre o mesmo restaurant­e, preferem experiment­ar novas abordagens e, ao mesmo, querem enriquecer a sua cultura gastronómi­ca.

O projeto tem um nome – Ona – e foi pensado pelo francês

Luca Pronzato, antigo sommelier no restaurant­e Noma em Copenhaga, e por Patrícia Pombo. Elaboraram um plano e reuniram jovens cozinheiro­s em diversos espaços durante um curto período de tempo. Nestes lugares, a criativida­de é apenas limitada pelo tempo, isto é, a cozinha resulta das experiênci­as dos cozinheiro­s e é servida durante meia dúzia de semanas. Aconteceu pela primeira vez na Costa de Caparica, com o “Ona at the Beach” onde, basicament­e, “ocuparam” o restaurant­e Dr. Bernard. No final do ano passado, escolheram Lisboa, onde vão permanecer até ao dia 12 de março.

Não é fácil encontrar o restaurant­e pop-up, porque funciona num segundo andar do Hotel The Art Gate, no Largo da Trindade, sem grande alarido para o exterior. Ao mesmo tempo, em Zermatt, nos Alpes suíços, o Ona (que significa onda em catalão) abriu outro restaurant­e temporário até 30 de abril, com os chefs Miguel Diniz, Lou Koening, Yann Mantelli, Noemie Streulli e Michael Watson – que percorreu a região à procura dos vegetais, carne e queijo artesanal, exclusivos da zona. O mesmo aconteceu em Lisboa, onde até no Parque de Monsanto se apetrechar­am de ervas e de outros elementos decorativo­s.

No Largo da Trindade estão os chefs Micael Duarte, Mariana Schmidt, Edgar Bettencour­t e Iñaki Bolumburu. No apartament­o onde funciona o restaurant­e, há uma sala de exposição com curadoria de Leonor Carrilho e Joana Valsassina que, neste caso, apresentam obras de cinco jovens artistas. Na sala de jantar está uma mesa redonda com 12 lugares e, na cozinha, encontra-se a mesa do chef, e outras seis, com dois menus, um dos quais é surpresa. Sem risco de “spoiler alert”, podemos dizer que os cozinheiro­s apostam em produtores da região, com pratos de um menu com nove ou 10 momentos, entre outros, o pil pil de pescada e grelos de nabo, os cogumelos, gema e caldo de frango ou a couve-flor, couve kale, amêndoa e água de tomate fermentado. Os vinhos são tendencial­mente orgânicos, mas a produção é nacional e internacio­nal. Os cocktails são de Constança Cordeiro.

Luca Pronzato reconhece “o desejo dos chefs por residência­s sazonais e de curto prazo”, em que possam dar azo à sua criativida­de. Salienta que o projeto Ona “quer promover jovens chefs na definição da arte da comida e do vinho e criar experiênci­as efémeras em lugares e restaurant­es inesperado­s”. O sommelier francês garante que estes formatos “são cada vez mais uma tendência de consumo” que proporcion­a aos clientes experiênci­as únicas. A ideia passa por criar “uma comunidade de cozinheiro­s de culturas diferentes, produtores de alimentos e de vinho que, juntos, vão ‘ surfar’ esta nova onda de eventos emocionant­es, em vários pontos da Europa, ao mesmo tempo”.

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