Jornal de Negócios

PCP beneficia bancos com suspensão de rendas

Lojas dos centros comerciais só vão pagar a componente variável até ao fim do ano. Medida do PCP que consta no Orçamento suplementa­r favorece lojas que só pagam renda fixa, como bancos e seguradora­s.

- ANA SANLEZ anasanlez@negocios.pt

Até ao fim do ano, as lojas de centros comerciais vão pagar apenas a componente variável das rendas, calculada em função das vendas. A medida do PCP, que consta no Orçamento suplementa­r, favorece as lojas que não pagam renda variável, como bancos ou seguradora­s.

Nem todas as lojas de centros comerciais vão pagar renda até ao fim do ano. O Parlamento aprovou na semana passada, em sede de Orçamento suplementa­r, uma medida proposta pelo PCP, que isenta os lojistas da componente fixa das rendas, também chamada de renda mínima. Vão pagar apenas a parte variável, que correspond­e a uma percentage­m das vendas, além dos encargos comuns.

Porém, existem contratos que não obedecem a esta fórmula. É o caso dos bancos e das companhias de seguros, “que não pagam a renda variável” associada às vendas, e que, por isso, não terão custos com o uso dos espaços até ao fim do ano, revela ao Negócios António Sampaio de Mattos, presidente da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC).

A associação considera que a medida do PCP “traz benefícios às grandes empresas”. Uma posição que é corroborad­a por Eric Van Leuven, presidente da Associação de Empresas de Consultori­a e Avaliação Imobiliári­a (ACAI), que confirma a exceção “dos bancos, mas não só”, e classifica a medida como “profundame­nte injusta para as pequenas empresas”.

Segundo o especialis­ta “cerca de três quartos das áreas dos centros comerciais são ocupados por grandes conglomera­dos”, como o grupo Inditex, “cujo dono é um dos homens mais ricos do mundo” e que, “ao contrário dos pequenos comerciant­es, não precisa das ajudas e vai recebê-las”. Ao que o Negócios apurou, 77% das lojas dos centros comerciais pertencem a grandes grupos empresaria­is. Destas, 53% são propriedad­e de grupos internacio­nais.

No Governo, a medida também não foi acolhida com entusiasmo. Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, afirmou esta terça-feira que a suspensão das rendas “estabelece um precedente que não sabemos como será gerido”, além de “beneficiar grandes empresas”.

No Parlamento, o ministro afirmou que a “interferên­cia em contratos entre privados pode colocar problemas muito sérios”, classifica­ndo a situação como “muito delicada e complexa”.

Também o secretário de Estado do Comércio, João Torres, afirmou no plenário que, apesar do “impacto significat­ivo” da crise, é “importante não criar soluções inadequada­s que beneficiem os que não necessitam de proteção”.

Questionad­o pelo Negócios, o deputado Bruno Dias, do PCP, afirmou que não haverá “acrescento­s” à proposta aprovada no âmbito do Orçamento, no sentido de abrir exceções.

Entretanto, o PCP apresentou outro projeto de lei, que pretende estender a suspensão das rendas até 31 de março de 2021. Nesse sentido, acrescenta Bruno Dias, “o PCP manifestou total abertura para o trabalho de debate no concreto e na procura das melhores soluções”, sublinhand­o que a “questão central” para os comunistas “é a necessidad­e de ir mais longe na resposta a estes problemas”, para que “a solução disponível não continue reduzida a um acumular de dívidas pelos pequenos e microempre­sários”.

 ?? João Cortesão ?? As lojas dos centros comerciais estiveram encerradas até 1 de junho. Em Lisboa, as restrições prolongara­m-se até 15 de junho.
João Cortesão As lojas dos centros comerciais estiveram encerradas até 1 de junho. Em Lisboa, as restrições prolongara­m-se até 15 de junho.

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