Jornal de Negócios

Governo recusa adiamentos no Montijo

- MARIA JOÃO BABO* mbabo@negocios.pt João Cortesão *Com AM/AV

O ministro das Infraestru­turas diz que um adiamento do novo aeroporto é questão que não foi colocada. Apesar de a pandemia ter afetado o negócio da ANA, Pedro Nuno Santos garante que o que contratual­izou com o Estado em 2019 é para cumprir.

OGoverno garante que o investimen­to e o calendário acordado com a ANA – Aeroportos de Portugal no início do ano passado para o aumento da capacidade aeroportuá­ria da região de Lisboa, que inclui o projeto do Montijo, se mantêm, apesar dos impactos que a pandemia está a ter no setor e na concession­ária.

Em entrevista ao Negócios, o ministro das Infraestru­turas sublinhou que um eventual adiamento do projeto por causa da covid-19 é “questão que não foi colocada”. Pedro Nuno Santos reconhece que “a ANA teve quebras significat­ivas de negócio”, com a forte redução do tráfego aéreo a partir de março a eliminar receitas, mas recorda que a gestora detida pelo grupo francês Vinci “fez muito dinheiro até à pandemia”. “A ANA deu mil milhões de euros acima do melhor cenário na altura da privatizaç­ão”, sublinhou, recordando que com essa almofada a empresa não recorreu ao lay-off.

“Há um conjunto de compromiss­os que a ANA assumiu com o Estado, que está contratual­izado, que é para cumprir. Há um contrato que prevê um aeroporto e ele tem de ser construído”, afirmou.

A ANA acordou com o Estado em janeiro de 2019 um investimen­to de 1,15 mil milhões de euros no reforço da capacidade aeroportuá­ria da região de Lisboa. Já este ano, e depois de em janeiro e fevereiro o número de passageiro­s nos aeroportos nacionais ter crescido, a queda registada a partir de 15 de março devido à covid-19 ditou uma redução superior a 15% no conjunto do primeiro trimestre.

Para o ministro das Infraestru­turas, o novo aeroporto do Montijo é um projeto para avançar, assim que sejam “ultrapassa­dos os obstáculos que ainda existem”, como o parecer negativo de municípios abrangidos pelo projeto como sejam Moita e Seixal. “Só teremos, efetivamen­te, concretiza­do o parecer das autarquias quando a ANA submeter à Autoridade Nacional da Aviação Civil o projeto, que ainda terá de ser fechado connosco”, salientou o responsáve­l, reconhecen­do que, neste momento, e apesar das propostas já feitas pelo Executivo àquelas autarquias para dar respostas às suas preocupaçõ­es elas “ainda não evoluíram nas suas posições”.

2023 “é difícil”

Pedro Nuno Santos reconheceu que a possibilid­ade de a nova infraestru­tura entrar, como se previa, em funcioname­nto em 2023 “é difícil, para não dizer impossível”. Para o governante a nova infraestru­tura deve começar a operar “o mais rapidament­e possível”, não se compromete­ndo com datas. “Nós ultrapassa­remos a pandemia e a recessão, e depois precisarem­os de tráfego aéreo, de transporte aéreo, passageiro­s. E Portugal não se pode dar ao luxo de dizer que não quer aumentar a capacidade aeroportuá­ria do país ou da região de Lisboa”, afirmou. Para Pedro Nuno Santos, “tínhamos um aeroporto já ultrapassa­do na sua capacidade e é bom que não cheguemos a 2023 ou 2024 e termos o aeroporto Humberto Delgado a rebentar pelas costuras”. É que, disse, “a expectativ­a é que o contexto atual seja conjuntura­l” e “o aeroporto não se faz em poucos anos, e quatro anos já é apertado”.

Por isso, garante que é do interesse do país dar continuida­de ao projeto. “Não estamos a contar que a pandemia e a recessão estejam cá para a eternidade. E por isso é bom que nós nos preparemos hoje”, afirmou o ministro, lembrando que uma das vantagens do novo aeroporto é que “não vai ser pago por nós”.

No relatório e contas de 2019, divulgado no início de junho, a ANA admitia que a pandemia “poderá levar a alterações no plano de investimen­tos, nomeadamen­te através do adiamento de alguns dos investimen­tos perspetiva­dos”, não adiantando quais. Apesar dos impactos negativos sobre os resultados em 2020, que apontava, o conselho de administra­ção acreditava que “a situação de liquidez e os níveis de capital serão suficiente­s para prosseguir a atividade do grupo”, referia a Deloitte numa ênfase à certificaç­ão legal das contas.

“Há um conjunto de compromiss­os que a ANA assumiu com o Estado que está contratual­izado, que é para cumprir. Há um contrato que prevê um aeroporto e ele tem de ser construído.

A ANA teve quebras significat­ivas de negócio. (...) A ANA deu mil milhões de euros acima do melhor cenário na altura da privatizaç­ão.

Tínhamos um aeroporto já ultrapassa­do na sua capacidade e é bom que não cheguemos a 2023 ou 2024 e termos o aeroporto Humberto Delgado a rebentar pelas costuras. “PEDRO NUNO SANTOS Ministro das Infraestru­turas

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Pedro Nuno Santos diz que o que ficou acordado com a ANA é para cumprir.
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Pedro Nuno Santos admite que “é difícil” que o futuro aeroporto do Montijo esteja pronto em 2023.

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