Jornal de Negócios

Estimativa­s para a recessão pioram mês após mês

Pandemia dá sinais de melhoria antes de mais uma avaliação

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt

Àmedida que o tempo passa, as projeções para o andamento da economia portuguesa vão sendo cada vez piores. A primeira previsão publicada, logo em março, já avisava que viria aí uma contração profunda, com uma queda de pelo menos 3,7% do PIB. Mas as projeções avançadas ontem pela Comissão Europeia admitem uma recessão de 9,8%, num cenário com pressupost­os sobre a pandemia de covid-19 que Bruxelas assume poder ser ainda otimista.

Esta terça-feira, a Comissão Europeia reviu em baixa as projeções de atividade económica para os países da União Europeia, e refreou as expectativ­as sobre a esperada recuperaçã­o em 2021. Como sublinhou Paolo Gentiloni, todos os Estados-membros vão entrar em recessão este ano, num cenário mais negativo do que o inicialmen­te esperado, porque a pandemia também se está a revelar mais duradoura.

Para Portugal, a caminhada na degradação das expectativ­as tem sido particular­mente dura. Mês após mês, as projeções vão dando conta de uma recessão “dramática” – um termo que a Comissão Europeia usou três vezes no relatório em que avalia todos os países da União Europeia, mas duas delas no capítulo sobre a economia portuguesa.

Degrau a degrau, economia a afundar

O Banco de Portugal foi a primeira instituiçã­o a arriscar projeções

para a contração económica portuguesa em 2020, num contexto de pandemia. No final de março, apontou para uma quebra pelo menos de 3,7%, mas que num cenário mais severo poderia atingir os 5,7%.

Em maio, a Comissão Europeia admitiu um cenário central de recessão de 6,8%. Cerca de um mês depois, o Conselho das Finanças Públicas avançava com uma projeção de 7,5%. Na semana seguinte, a OCDE antecipou uma queda de 9,4% e seis dias depois o Banco de Portugal atualizou as suas projeções para uma recessão de 9,5%.

Agora, foi a vez de a Comissão Europeia rever em forte baixa as suas projeções, apontando para uma queda de 9,8%, sem a correspond­ente revisão em alta para 2021. Para o próximo ano, o cresciment­o deverá ser apenas duas décimas mais forte, tendo passado dos anteriores 5,8%, para 6%.

Neste contínuo agravament­o da situação, só o FMI parece ter vindo fora de tempo, embora evidencie a mesma tendência de reforço do pessimismo. O Fundo disse logo em abril que a contração portuguesa será de 8% do PIB este ano. No final de junho, quando reviu as suas projeções para os principais blocos económicos não atualizou o valor para Portugal. Mas para a Zona Euro agravou as expectativ­as, passando de uma previsão de recessão de 7,5%, para 10,2%.

Em contrapart­ida, o Governo português decidiu em junho sustentar o Orçamento do Estado suplementa­r num cenário que prevê uma recessão de 6,9%, ancorando-se nas previsões de maio da Comissão. Já quando apresentou a retificaçã­o à lei, a projeção do Ministério das Finanças era a mais otimista de todas, à exceção da de Bruxelas, que já tinha um mês. Agora, com o agravament­o do cenário apresentad­o pela Comissão, a previsão fica completame­nte desfasada das demais e o ministro das Finanças, João Leão, perde o seu principal argumento para defender o cenário macro do suplementa­r.

Principais parceiros entre os mais afetados

A economia portuguesa está entre as que vai registar das maiores quedas do PIB. O relatório da Comissão Europeia explica que Portugal está particular­mente exposto ao turismo e sublinha que em abril as visitas caíram quase 100% face ao mesmo período de 2019. Sublinha as contrações “dramáticas na maior parte dos indicadore­s” e nota a contração abrupta do indicador de sentimento económico dos 105,7 pontos registados em fevereiro (uma marca que apontava para a continuaçã­o do cresciment­o), para 63 pontos em maio, um valor claramente de recessão. Em junho, houve uma recuperaçã­o, mas apenas “parcial”, frisam os economista­s, para 74,1 pontos.

Apesar de já verem alguns sinais de recuperaçã­o, os peritos comunitári­os notam ainda que haverá setores de atividade, como o das “companhias aéreas e hotéis”, que vão continuar a registar perdas por um período mais prolongado de tempo. Desde logo, os três países da União Europeia mais afetados pela crise – Itália, Espanha e França – estão entre os principais parceiros comerciais da economia nacional, o que prejudica a capacidade de resistênci­a de Portugal à crise.

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