Estimativas para a recessão pioram mês após mês
Pandemia dá sinais de melhoria antes de mais uma avaliação
Àmedida que o tempo passa, as projeções para o andamento da economia portuguesa vão sendo cada vez piores. A primeira previsão publicada, logo em março, já avisava que viria aí uma contração profunda, com uma queda de pelo menos 3,7% do PIB. Mas as projeções avançadas ontem pela Comissão Europeia admitem uma recessão de 9,8%, num cenário com pressupostos sobre a pandemia de covid-19 que Bruxelas assume poder ser ainda otimista.
Esta terça-feira, a Comissão Europeia reviu em baixa as projeções de atividade económica para os países da União Europeia, e refreou as expectativas sobre a esperada recuperação em 2021. Como sublinhou Paolo Gentiloni, todos os Estados-membros vão entrar em recessão este ano, num cenário mais negativo do que o inicialmente esperado, porque a pandemia também se está a revelar mais duradoura.
Para Portugal, a caminhada na degradação das expectativas tem sido particularmente dura. Mês após mês, as projeções vão dando conta de uma recessão “dramática” – um termo que a Comissão Europeia usou três vezes no relatório em que avalia todos os países da União Europeia, mas duas delas no capítulo sobre a economia portuguesa.
Degrau a degrau, economia a afundar
O Banco de Portugal foi a primeira instituição a arriscar projeções
para a contração económica portuguesa em 2020, num contexto de pandemia. No final de março, apontou para uma quebra pelo menos de 3,7%, mas que num cenário mais severo poderia atingir os 5,7%.
Em maio, a Comissão Europeia admitiu um cenário central de recessão de 6,8%. Cerca de um mês depois, o Conselho das Finanças Públicas avançava com uma projeção de 7,5%. Na semana seguinte, a OCDE antecipou uma queda de 9,4% e seis dias depois o Banco de Portugal atualizou as suas projeções para uma recessão de 9,5%.
Agora, foi a vez de a Comissão Europeia rever em forte baixa as suas projeções, apontando para uma queda de 9,8%, sem a correspondente revisão em alta para 2021. Para o próximo ano, o crescimento deverá ser apenas duas décimas mais forte, tendo passado dos anteriores 5,8%, para 6%.
Neste contínuo agravamento da situação, só o FMI parece ter vindo fora de tempo, embora evidencie a mesma tendência de reforço do pessimismo. O Fundo disse logo em abril que a contração portuguesa será de 8% do PIB este ano. No final de junho, quando reviu as suas projeções para os principais blocos económicos não atualizou o valor para Portugal. Mas para a Zona Euro agravou as expectativas, passando de uma previsão de recessão de 7,5%, para 10,2%.
Em contrapartida, o Governo português decidiu em junho sustentar o Orçamento do Estado suplementar num cenário que prevê uma recessão de 6,9%, ancorando-se nas previsões de maio da Comissão. Já quando apresentou a retificação à lei, a projeção do Ministério das Finanças era a mais otimista de todas, à exceção da de Bruxelas, que já tinha um mês. Agora, com o agravamento do cenário apresentado pela Comissão, a previsão fica completamente desfasada das demais e o ministro das Finanças, João Leão, perde o seu principal argumento para defender o cenário macro do suplementar.
Principais parceiros entre os mais afetados
A economia portuguesa está entre as que vai registar das maiores quedas do PIB. O relatório da Comissão Europeia explica que Portugal está particularmente exposto ao turismo e sublinha que em abril as visitas caíram quase 100% face ao mesmo período de 2019. Sublinha as contrações “dramáticas na maior parte dos indicadores” e nota a contração abrupta do indicador de sentimento económico dos 105,7 pontos registados em fevereiro (uma marca que apontava para a continuação do crescimento), para 63 pontos em maio, um valor claramente de recessão. Em junho, houve uma recuperação, mas apenas “parcial”, frisam os economistas, para 74,1 pontos.
Apesar de já verem alguns sinais de recuperação, os peritos comunitários notam ainda que haverá setores de atividade, como o das “companhias aéreas e hotéis”, que vão continuar a registar perdas por um período mais prolongado de tempo. Desde logo, os três países da União Europeia mais afetados pela crise – Itália, Espanha e França – estão entre os principais parceiros comerciais da economia nacional, o que prejudica a capacidade de resistência de Portugal à crise.