Jornal de Negócios

CAMILO LOURENÇO

“O Ministério Público tem agenda própria? ‘Queima’ as pessoas porque sabe não ter prova suficiente?”

- CAMILO LOURENÇO Analista de economia camilolour­enco@gmail.com Declaração de interesses: conheço António Mexia desde os tempos de estagiário e tenho boa relação com ele.

Quando dirigi a Exame, tive quatro processos. Num deles fui ouvido pelo Ministério Público em tom que não gostei e de que dei conta ao procurador. Levei com termo de identidade e residência. Estupefact­o, expliquei que a decisão prejudicav­a o trabalho do jornalista… mas nada! Saí com a sensação de que a justiça também se faz de prepotênci­a…

Lembrei-me deste episódio a propósito da absolvição de Miguel Macedo (ex-ministro), Manuel Palos (ex-diretor do SEF) e das sanções a António Mexia e Manso Neto.

Macedo foi sumariamen­te “assassinad­o” na praça pública. Palos esteve detido em casa. Acabaram ilibados. Pode suceder o mesmo a Mexia e Neto? Pode. Mas o importante não é especular sobre isso; é perguntar porque há tanta gente “assassinad­a” na praça pública, com o patrocínio da própria justiça: o MP tem agenda própria? “Queima” as pessoas porque sabe não ter prova suficiente? Ou há juízes que ilibam os arguidos, mesmo com provas irrefutáve­is? Escolha, caro leitor…

Voltando a Mexia e Neto, não sei se cometeram crimes (embora devessem ter evitado coisas como o “endowment” a Columbia). Mas há coisas estranhas: a investigaç­ão (oito anos) só agora mereceu a suspensão de funções?; o exagero (passaporte­s retidos), a linguagem usada (“Pactos de granja”), a ordem dada a “seguranças” para barrarem Mexia e Neto na EDP, a decisão tomada a dias das férias judiciais e consideraç­ões feias sobre o cv de Artur Trindade (“ridiculame­nte lacónico para a importânci­a do cargo que exerce”), na linha do célebre “Quem cabritos vende mas cabras não tem, de algum lado lhe vem”, com que o juiz se referiu a Sócrates.

Nada disto é edificante!

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal