Jornal de Negócios

Cadeias de contágio continuam a causar preocupaçã­o

- SP/LUSA

A dificuldad­e de acompanham­ento das cadeias de contágio e em saber exatamente onde é que um doente foi contagiado pela covid-19 continuam a preocupar os especialis­tas, que alertam para a falta de meios.

Na semana passada, a ministra da Saúde afirmou que “não são conhecidos casos de contágio que tenham tido origem em transporte­s”. No entanto, o epidemiolo­gista Ruy Ribeiro afirma que isso é “muito difícil de saber”. “Se não for no trabalho ou em casa, por exclusão de partes, o contágio poderá ter acontecido nos transporte­s públicos porque as pessoas não vão a festas todos os dias”, explicou o especialis­ta ao Negócios.

Para o professor da faculdade de Medicina da Universida­de de Lisboa, ter essa informação “era importante” para conhecer melhor as cadeias de contágio e conseguir travar os novos casos. Segundo a Direção- Geral da Saúde (DGS), é dentro de casa que ocorre o maior número de infeções, sendo que elas entram na habitação porque o doente apanhou o novo coronavíru­s sobretudo no trabalho. Ainda assim, Ruy Ribeiro lembrou que os estudos feitos na China e em França que tiveram conclusões diferentes: “Na China a transmissã­o ocorria muito dentro de casa, em França não. Está relacionad­o com as condições de habitação”, disse.

Por sua vez, o bastonário da Ordem dos Médicos, numa entrevista à Lusa, atribuiu o número de casos de covid-19 à falta de meios, a falhas de comunicaçã­o e a um “excesso de otimismo” e lamentou que existam problemas que tardem em ser resolvidos, como a sobrelotaç­ão dos transporte­s públicos.

No entanto, também o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública criticou, à Lusa, “alguma demora na realização das diversas tarefas, como os inquéritos epidemioló­gicos ou o diagnóstic­o laboratori­al”.

Ainda assim, tanto Ricardo Mexia como Ruy Ribeiro admitem que as explicaçõe­s para a manutenção do aumento de casos não são fáceis.

Máscaras sem garantia e erros de reporte

Além das dificuldad­es em acompanhar as cadeias de transmissã­o, as autoridade­s de saúde depararam-se, nos últimos dias, com vários problemas. Segundo o Público, a ASAE apreendeu mais de 600 mil máscaras de proteção de profission­ais de saúde na luta contra a covid-19 por não cumprirem requisitos de segurança. No entanto, o problema pode ser maior, dado que a Direção- Geral da Saúde (DGS), câmaras e outras entidades públicas podem ter comprado máscaras com falsos certificad­os, escreve o jornal.

Por outro lado, a DGS admitiu falhas na alocação dos casos a nível concelhio e, por isso, está a rever os dados de modo a aproximar dados locais de dados nacionais.

“Se não foi em casa ou no trabalho, por exclusão de partes, o contágio poderá ter acontecido nos transporte­s. RUY RIBEIRO Epidemiolo­gista

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal