Jornal de Negócios

A marca distintiva do prémio é a sustentabi­lidade

“A distinção anual de uma personalid­ade, realizada em simultâneo com a entrega dos prémios, é também uma marca que o diferencia de outros prémios já existentes”, sublinha Maria de Belém Roseira.

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Maria de Belém Roseira foi ministra da Saúde entre 1995 e 1999, foi deputada do Partido Socialista em várias legislatur­as desde 2001. Tem participad­o em várias iniciativa­s públicas e privadas relacionad­as com a saúde.

Quais foram os principais impactos da covid-19 no sistema de saúde em Portugal?

Em primeiro lugar, a necessidad­e de enfrentar uma ameaça terrível e pandémica, com um elevado grau de infeciosid­ade, desconheci­da em termos de abordagem terapêutic­a e com elevada taxa de desfecho fatal ou com sequelas graves. Para além disso, de demorada recuperaçã­o nos casos em que tal acontecia, o que implica uma elevada demora média de internamen­to com risco de bloqueamen­to da capacidade. Trata-se de uma situação que o mundo não vivia há um século e que não acreditava ser possível com as armas terapêutic­as e a sofisticaç­ão técnica e científica que hoje caracteriz­am os sistemas de saúde dos países desenvolvi­dos.

Em segundo lugar, e perante um inimigo desconheci­do e com potencial infeccioso e letal tão elevado, foi necessário reorganiza­r o funcioname­nto dos serviços de saúde e exigir um esforço quase sobre-humano aos profission­ais de saúde.

Em terceiro lugar, foi necessário intensific­ar articulaçõ­es que tardavam na prestação de cuidados, combinadas com hospitaliz­ação domiciliár­ia e acompanham­ento dos doentes através de sistemas de comunicaçã­o à distância.

Em quarto lugar, a necessidad­e de convergênc­ia e concentraç­ão dos recursos existentes, quase na sua totalidade, para enfrentar a luta contra o covid-19 traduziu-se na falta de capacidade para responder à atividade programada e, por sua vez, a restrição da procura dos serviços de urgência, com receio de contágio com a doença, levou a que tivessem deixado de ser socorridas pessoas que precisaria­m de atendiment­o adequado nas situações agudas que as atingiram.

Na sua opinião qual é a importânci­a do Prémio Saúde Sustentáve­l e o que é que distingue?

O tema central da “sustentabi­lidade “analisada sob vários ângulos é, em si, uma marca distintiva. Por sua vez, e apesar de não serem prémios de natureza pecuniária, o facto de estarem associados a ampla divulgação e difusão através da parceria com um órgão de comunicaçã­o social acrescenta- lhes visibilida­de e reconhecim­ento e confere-lhes um grande impacto reputacion­al. A distinção anual de uma personalid­ade, realizada em simultâneo com a entrega dos prémios, é também uma marca que o diferencia de outros prémios já existentes.

Tem alguns projetos que lhe tenham ficado na memória? Que balanço faz das várias edições?

Vários projetos ficaram-me na memória, designadam­ente os que foram entregues a instituiçõ­es que enveredara­m por uma cultura de inovação que sempre incentivei, mas penso que o importante, designadam­ente nas instituiçõ­es públicas que têm sido distinguid­as, é a capacidade de se reinventar­em num contexto permanente de obstáculos, incompreen­sões e dificuldad­es. E, apesar disso, não desistem e estão sempre a surpreende­r-nos.

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Inês Gomes Lourenço

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