Gestora do MARL quer “filho” na Margem Sul
A empresa pública que gere os mercados abastecedores vai estudar, com a Área Metropolitana de Lisboa, a criação de um polo do MARL a sul do Tejo. Até lá, a Simab vai manter a aposta no negócio internacional. O próximo destino é o Quénia.
AMargem Sul poderá vir a ter um mercado abastecedor. É essa a vontade do grupo Simab, a empresa pública que gere os mercados abastecedores de Lisboa, Braga, Évora e Faro. Em entrevista ao Negócios, João Tiago Carapau, responsável pelo Desenvolvimento de Negócio e Projetos de Mercados Grossistas e Retalhistas da Simab, revela que está a ser estudada a hipótese de instalar um “filho do Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL)” a sul do Tejo.
“Achamos fundamental que, em articulação com a Área Metropolitana de Lisboa (AML), e até com o futuro aeroporto do Montijo, se possa desenvolver um novo polo, semelhante ao MARL, numa zona onde a produção agrícola é tão importante”, ressalva o responsável.
Essa hipótese, acrescenta João Tiago Carapau, será avaliada num estudo sobre fluxos logísticos, que vai ser desenvolvido pela AML e que tem a Simab como parceira. Será esse estudo que dará “pistas sobre a viabilidade do projeto” e possíveis localizações.
“O MARL tem uma taxa de ocupação de praticamente 100%”, lembra o responsável, pelo que um novo mercado, articulado com o espaço de Lisboa, “poderia dar uma resposta de maior proximidade aos concelhos daquela zona de produção”.
João Tiago Carapau ressalva que nem a pandemia fez quebrar os níveis de ocupação dos mercados, tendo acontecido até o contrário, o que reforça a necessidade de um novo polo. Nos últimos meses, as empresas de logística que operam nos mercados abastecedores viram o seu negócio aumentar, pelo que “precisam de mais espaço”. No MARL, está prevista a construção de uma nova área, de 2.500 metros quadrados, que será ocupada por um novo operador. O valor do negócio ainda não é conhecido.
Projeto nacional em Nairóbi
Apesar de ter na sua génese a gestão de mercados abastecedores nacionais, nos últimos anos a Simab tem reforçado a aposta na consultoria internacional. Antes da pandemia, a empresa ganhou um concurso para desenvolver o conceito de um mercado em Nairóbi, no Quénia.
O contrato, no valor de 200 mil euros, prevê que a Simab faça os estudos prévios, o enquadramento territorial e o desenho do mercado. Numa segunda fase, a empresa poderá ser chamada a pôr em prática o projeto de execução. “Vai depender da primeira etapa, mas já estamos posicionados”, conta João Tiago Carapau.
O especialista admite que a pandemia colocou um “travão” às ambições internacionais da Simab, até porque “estes são negócios que se fazem no terreno, e sem viagens há menos oportunidades”.
Até ao início do ano, os mercados geridos pela Simab, nomeadamente o MARL, receberam comitivas da Alemanha, Uruguai e Marrocos, que vieram estudar a replicação do modelo. O surto de covid-19 obrigou a empresa a rever o encaixe previsto com estas operações. João Tiago Carapau admite que “nos próximos três anos” a faturação com os serviços de consultoria possa chegar a um milhão de euros, “mas dependerá da evolução da crise pandémica”.
A maior fatia virá da China, de dois projetos que estão em cima da mesa desde 2018, e que entretanto “adormeceram”. O primeiro será em Cixi e é o mais adiantado. A Simab será responsável pela conceção de um complexo comercial de 400 mil metros quadrados
e pela sua execução. “O que ficou definido é que, futuramente, poderemos participar também na gestão”, adianta o responsável.
O segundo projeto fica na cidade chinesa de Dalian, e será “semelhante” ao de Cixi. O negócio atrasou e só deverá arrancar em 2021. “Estamos a fazer um esforço para retomar as negociações, apesar das incertezas, sobretudo na China”, admite o responsável.
Os negócios internacionais já deram, ainda assim, outros frutos. A Simab quer aproveitar os serviços de consultoria como alavanca, para que os operadores que vendem nos mercados nacionais consigam exportar os seus produtos. “Antes da pandemia, garantimos um acordo de exportação de carne suína para a China.” A Simab quer apostar forte nesta nova vertente, uma vez que, como intermediária, recebe uma comissão pelas vendas.
“Antes da pandemia, garantimos um acordo de exportação de carne suína para a China. JOÃO TIAGO CARAPAU Responsável por Desenvolvimento de Negócio da Simab