Economistas da Católica avisam para risco de crise financeira
O fantasma da troika paira ainda em Portugal, mas o receio de um sistema financeiro sob stress ultrapassa as fronteiras nacionais. O risco tem vindo a ser reconhecido por várias entidades, como o Conselho de Finanças Públicas e o Banco de Portugal.
Onúcleo de economistas da Universidade Católica avisa que a crise económica provocada pela pandemia de covid-19 tem potencial para se transformar numa crise financeira, empurrando o país para um novo resgate, tal como aconteceu em 2011, quando foi preciso chamar ajuda externa. A referência ao fantasma da troika é específica dos economistas portugueses, mas o alerta sobre o sistema financeiro não é. Aliás, nos últimos dias tem vindo a ser repetido por outras entidades.
“Os riscos envolvidos neste exercício predito são particularmente elevados e de sentido descendente”, lê-se no relatório trimestral do Católica-Lisbon Forecasting Lab - NECEP, publicado esta quarta-feira, que indica como cenário central uma recessão de 10% em Portugal.
“A principal preocupação prende-se com o elevado endividamento da economia portuguesa e das administrações públicas em particular, e com a fragilidade do sistema financeiro”, continuam os académicos. “Ou seja, a uma crise sanitária e económica poderá suceder-se uma crise financeira com consequências imprevisíveis que se poderia manifestar em dificuldades acrescidas da República em emitir dívida de médio e longo prazo, com a consequente necessidade de intervenção externa tal como aconteceu em 2011”, concluem.
Os riscos da atual crise para o sistema financeiro são de diferentes tipos. Para além de sofrerem com a quebra da atividade económica, os bancos têm, por exemplo, uma exposição elevada no âmbito das moratórias decididas pelo Governo tanto para famílias, como para empresas. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal, os oito maiores grupos bancários do país têm uma exposição de 39 mil milhões de euros a créditos com moratórias – são 22% da carteira total de crédito.
“Temos de ver como é que a situação do setor financeiro, no seu todo, evolui. É um setor que também está muito exposto à pandemia. O setor bancário tem sido envolvido na partilha de riscos”, alertou também Nazaré da Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas, em entrevista ao Negócios, publicada esta segunda-feira.
Portugal passou pela aplicação de um doloroso programa de resgate entre 2011 e 2014, negociado com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. As marcas no discurso público foram de tal ordem que, passados seis anos, os governantes continuam a prometer que não vão recorrer a medidas de austeridade para ultrapassar os danos da crise nas contas públicas.
Bruxelas também admite riscos financeiros
Mas não é só Portugal que está preocupado com os riscos de uma crise financeira. “Não se podem excluir episódios nos mercados financeiros”, avisou na terça-feira o comissário para a Economia,
Paolo Gentiloni, incluindo a instabilidade do sistema financeiro como um dos riscos negativos para o cenário central que Bruxelas publicou, e que aponta para uma recessão de 8,7% este ano.
Se a crise se prolongar, o risco de uma subida abrupta do malparado na banca é elevado. Um estudo do think tank Bruegel, publicado no início deste mês, alertava especificamente para a vulnerabilidade financeira das famílias que já se verificava ainda antes da pandemia. E lembrava que está demonstrado que a sua fragilidade é uma fonte de instabilidade para todo o sistema financeiro. No relatório sugere-se mesmo que a Comissão Europeia comece a monitorizar esta realidade e que inclua indicadores de fragilidade financeira das famílias, no semestre europeu.
“A uma crise sanitária e económica poderá suceder-se uma crise financeira com consequências imprevisíveis. FACULDADE CATÓLICA/NECEP Folha Trimestral de Conjuntura
Temos de ver como é que a situação do setor financeiro, no seu todo, evolui. É um setor que também está muito exposto à pandemia. O setor bancário tem sido envolvido na partilha de riscos. NAZARÉ DA COSTA CABRAL Presidente do Conselho das Finanças Públicas
Não se podem excluir episódios nos mercados financeiros. PAOLO GENTILONI Comissário europeu para a Economia “