Jornal de Negócios

Economista­s da Católica avisam para risco de crise financeira

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt Bruno Colaco

O fantasma da troika paira ainda em Portugal, mas o receio de um sistema financeiro sob stress ultrapassa as fronteiras nacionais. O risco tem vindo a ser reconhecid­o por várias entidades, como o Conselho de Finanças Públicas e o Banco de Portugal.

Onúcleo de economista­s da Universida­de Católica avisa que a crise económica provocada pela pandemia de covid-19 tem potencial para se transforma­r numa crise financeira, empurrando o país para um novo resgate, tal como aconteceu em 2011, quando foi preciso chamar ajuda externa. A referência ao fantasma da troika é específica dos economista­s portuguese­s, mas o alerta sobre o sistema financeiro não é. Aliás, nos últimos dias tem vindo a ser repetido por outras entidades.

“Os riscos envolvidos neste exercício predito são particular­mente elevados e de sentido descendent­e”, lê-se no relatório trimestral do Católica-Lisbon Forecastin­g Lab - NECEP, publicado esta quarta-feira, que indica como cenário central uma recessão de 10% em Portugal.

“A principal preocupaçã­o prende-se com o elevado endividame­nto da economia portuguesa e das administra­ções públicas em particular, e com a fragilidad­e do sistema financeiro”, continuam os académicos. “Ou seja, a uma crise sanitária e económica poderá suceder-se uma crise financeira com consequênc­ias imprevisív­eis que se poderia manifestar em dificuldad­es acrescidas da República em emitir dívida de médio e longo prazo, com a consequent­e necessidad­e de intervençã­o externa tal como aconteceu em 2011”, concluem.

Os riscos da atual crise para o sistema financeiro são de diferentes tipos. Para além de sofrerem com a quebra da atividade económica, os bancos têm, por exemplo, uma exposição elevada no âmbito das moratórias decididas pelo Governo tanto para famílias, como para empresas. Segundo o Relatório de Estabilida­de Financeira do Banco de Portugal, os oito maiores grupos bancários do país têm uma exposição de 39 mil milhões de euros a créditos com moratórias – são 22% da carteira total de crédito.

“Temos de ver como é que a situação do setor financeiro, no seu todo, evolui. É um setor que também está muito exposto à pandemia. O setor bancário tem sido envolvido na partilha de riscos”, alertou também Nazaré da Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas, em entrevista ao Negócios, publicada esta segunda-feira.

Portugal passou pela aplicação de um doloroso programa de resgate entre 2011 e 2014, negociado com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacio­nal. As marcas no discurso público foram de tal ordem que, passados seis anos, os governante­s continuam a prometer que não vão recorrer a medidas de austeridad­e para ultrapassa­r os danos da crise nas contas públicas.

Bruxelas também admite riscos financeiro­s

Mas não é só Portugal que está preocupado com os riscos de uma crise financeira. “Não se podem excluir episódios nos mercados financeiro­s”, avisou na terça-feira o comissário para a Economia,

Paolo Gentiloni, incluindo a instabilid­ade do sistema financeiro como um dos riscos negativos para o cenário central que Bruxelas publicou, e que aponta para uma recessão de 8,7% este ano.

Se a crise se prolongar, o risco de uma subida abrupta do malparado na banca é elevado. Um estudo do think tank Bruegel, publicado no início deste mês, alertava especifica­mente para a vulnerabil­idade financeira das famílias que já se verificava ainda antes da pandemia. E lembrava que está demonstrad­o que a sua fragilidad­e é uma fonte de instabilid­ade para todo o sistema financeiro. No relatório sugere-se mesmo que a Comissão Europeia comece a monitoriza­r esta realidade e que inclua indicadore­s de fragilidad­e financeira das famílias, no semestre europeu.

“A uma crise sanitária e económica poderá suceder-se uma crise financeira com consequênc­ias imprevisív­eis. FACULDADE CATÓLICA/NECEP Folha Trimestral de Conjuntura

Temos de ver como é que a situação do setor financeiro, no seu todo, evolui. É um setor que também está muito exposto à pandemia. O setor bancário tem sido envolvido na partilha de riscos. NAZARÉ DA COSTA CABRAL Presidente do Conselho das Finanças Públicas

Não se podem excluir episódios nos mercados financeiro­s. PAOLO GENTILONI Comissário europeu para a Economia “

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O NECEP aponta como cenário central uma recessão em Portugal de 10% este ano, com o desemprego nos 9%.

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