OPINIÃO
CAMILO LOURENÇO
“A última teoria, saída ontem da boca do Presidente, é que a transmissão do vírus não se faz nos transportes públicos.”
Um dos piores problemas com que Portugal se confronta no combate à pandemia é a incoerência da comunicação. Se percorrermos os últimos seis meses, damo-nos conta das declarações mais incríveis... desmentidas meses mais tarde. Muitas vezes pelas mesmas pessoas. E o pior é que a incoerência do discurso não é exclusiva da dra. Graça Freitas: desde o primeiro-ministro, passando pela ministra da Saúde e pelo Presidente da República, já todos disseram uma coisa... e o seu contrário. Já se disse que era muito improvável o vírus chegar a Portugal; já se disse que o vírus não tinha grande perigosidade; já se disse que a máscara não protegia (dava “uma falsa sensação de insegurança”); já se disse que não se devia deixar de visitar familiares em lares...
A última teoria, saída ontem da boca do Presidente, é que a transmissão do vírus não se faz nos transportes públicos. Note-se que não foi a DGS a dizê-lo. Nem a ministra da Saúde. A propósito, Marta Temido chegou a desdizer há uma semana o que havia dito uma semana antes: a tal certeza de que não havia transmissão do vírus em transportes públicos apinhados. Para dar uma alfinetada a Fernando Medina? Não sabemos...
Certo é que ontem Marcelo Rebelo de Sousa, que gosta de falar de tudo e mais alguma coisa, voltou ao assunto depois da reunião com o Infarmed. Devia ser o Presidente a falar destas coisas... ou a DGS? Em quem, e em quê, devem os portugueses confiar... se já ouviram tanta coisa e o seu oposto em tão pouco tempo? Pelo andar da carruagem, até podemos perguntar quanto tempo mais aguentará esta última tese: uma semana? Um mês?
Moral da história: não há credibilidade (do Estado) que aguente tanta verborreia.