PwC vê crise como um “acelerador de negócios”
A consultora acredita que há investidores disponíveis para investir em movimentos de concentração, antecipando um regresso das operações de fusões e aquisições na segunda metade do ano, à medida que diminui a incerteza em torno da pandemia.
Apandemia da covid-19 expôs as fragilidades de muitas empresas. Para a PwC, esta crise é, por isso, uma oportunidade para explorar negócios, com a consultora a antecipar um aumento dos movimentos de fusões e aquisições a partir do terceiro trimestre do ano.
Os movimentos de fusões e aquisições vêm de um período de forte crescimento nos últimos anos, mas estes negócios não resistiram à pandemia: caíram para metade na primeira metade do ano, segundo dados da Mergermarket e do TTR. A PwC antecipa um terceiro trimestre ainda fraco, mas perspetiva uma retoma gradual destas operações a seguir ao verão. “Há uma grande vontade de retomar conversações a partir de setembro”, explica Cidália Santos. A diretora de “strategy & corporate finance” da PwC considera, assim, que a expectativa é que apenas no último trimestre do ano se possa assistir a um aumento destes negócios. Mas este impasse não é justificado por falta de interesse ou de capital.
Na opinião de Cidália Santos, e tendo em conta o “feedback” que tem dos seus clientes, há capital pronto para ser investido na economia, nomeadamente no lado do capital de risco. “O ‘private equity’ tem bastante dinheiro para investir. Vem de uma década de crescimento de fusões e aquisições e há bastante vontade de investir”, explica a diretora de estratégia da PwC.
Cidália Santos justifica esta vontade de investir com o facto de que as “suas participadas também sofreram e, portanto, é crítico [para estes investidores] identificarem novas oportunidades, porque isso tem impacto na rentabilidade do fundo, mas também porque têm bastante capital para investir”.
Mas estes não são os únicos investidores com capital para dinamizar movimentos de consolidação no mercado nacional. Investidores como fundos ou os chamados “family office”, nacionais e estrangeiros, também demonstram interesse. “Estes investidores também são interessantes, porque conseguem ter um prazo de investimento um pouco mais longo do que o ‘private equity’, ainda que cada vez mais vejamos a duração do ‘private equity’ [num negócio]
a aumentar, porque estes fundos estão mais alinhados com os objetivos dos empresários”, nota a mesma responsável.
Parcerias estratégicas na mira
Além das transações que poderão ser protagonizadas por investidores que procuram boas oportunidades de negócio, como o capital de risco, a consultora destaca ainda que a pandemia poderá acelerar movimentos estratégicos dentro do setor. “Como já se percebeu que esta crise pode ser recorrente, no sentido de haver esta pandemia ou outra, entrou-se numa lógica de consolidação nos parceiros comerciais ou industriais”, explica Cristina Cabral Ribeiro. A sócia da sociedade de advogados CCR Legal e membro da “network” das práticas legais da PwC destaca que “é uma boa oportunidade para as empresas irem à compra de parceiros, que até já estavam a ser namorados, e aproveitam esta oportunidade. É um acelerador de negócios”.
Segundo a mesma especialista, estes movimentos podem ser também financiados pelo capital
“O ‘private equity’ tem bastante dinheiro para investir. Vem de uma década de crescimento de fusões e aquisições e há bastante vontade de investir. CIDÁLIA SANTOS Diretora de “strategy & corporate finance” da PwC
É uma boa oportunidade para as empresas irem à compra de parceiros, que até já estavam a ser namorados. CRISTINA CABRAL RIBEIRO Sócia da CCR Legal e membro da “network” das práticas legais da PwC “
de risco, que fazem o chamado “build up”, integrando toda a cadeia de produção de uma determinada empresa.
Reduzir a dependência de uma determinada região ou estabelecer uma parceria com fornecedores e prestadores de serviços são fatores que, segundo as especialistas, poderão originar negócios nos próximos meses. “Quando a China fechou [no início do ano devido à pandemia], isto teve um impacto brutal nas cadeias de abastecimento de muitas empresas da Europa e Estados Unidos”, lembra Cidália Santos.
A diretora de estratégia acredita que as empresas que foram afetadas por estas interrupções no fornecimento de matérias-primas ou serviços “vão começar a pensar trazer estes serviços para próximo da empresa ou das unidades de produção. Isto vai reduzir a cadeia de abastecimento em termos geográficos”. Um movimento que “vai levar a medidas de incorporação destes serviços na cadeia de produção e na Europa”, estreitando parcerias estratégicas entre “players” do mesmo setor.