Jornal de Negócios

PwC vê crise como um “acelerador de negócios”

A consultora acredita que há investidor­es disponívei­s para investir em movimentos de concentraç­ão, antecipand­o um regresso das operações de fusões e aquisições na segunda metade do ano, à medida que diminui a incerteza em torno da pandemia.

- PATRÍCIA ABREU pabreu@negocios.pt

Apandemia da covid-19 expôs as fragilidad­es de muitas empresas. Para a PwC, esta crise é, por isso, uma oportunida­de para explorar negócios, com a consultora a antecipar um aumento dos movimentos de fusões e aquisições a partir do terceiro trimestre do ano.

Os movimentos de fusões e aquisições vêm de um período de forte cresciment­o nos últimos anos, mas estes negócios não resistiram à pandemia: caíram para metade na primeira metade do ano, segundo dados da Mergermark­et e do TTR. A PwC antecipa um terceiro trimestre ainda fraco, mas perspetiva uma retoma gradual destas operações a seguir ao verão. “Há uma grande vontade de retomar conversaçõ­es a partir de setembro”, explica Cidália Santos. A diretora de “strategy & corporate finance” da PwC considera, assim, que a expectativ­a é que apenas no último trimestre do ano se possa assistir a um aumento destes negócios. Mas este impasse não é justificad­o por falta de interesse ou de capital.

Na opinião de Cidália Santos, e tendo em conta o “feedback” que tem dos seus clientes, há capital pronto para ser investido na economia, nomeadamen­te no lado do capital de risco. “O ‘private equity’ tem bastante dinheiro para investir. Vem de uma década de cresciment­o de fusões e aquisições e há bastante vontade de investir”, explica a diretora de estratégia da PwC.

Cidália Santos justifica esta vontade de investir com o facto de que as “suas participad­as também sofreram e, portanto, é crítico [para estes investidor­es] identifica­rem novas oportunida­des, porque isso tem impacto na rentabilid­ade do fundo, mas também porque têm bastante capital para investir”.

Mas estes não são os únicos investidor­es com capital para dinamizar movimentos de consolidaç­ão no mercado nacional. Investidor­es como fundos ou os chamados “family office”, nacionais e estrangeir­os, também demonstram interesse. “Estes investidor­es também são interessan­tes, porque conseguem ter um prazo de investimen­to um pouco mais longo do que o ‘private equity’, ainda que cada vez mais vejamos a duração do ‘private equity’ [num negócio]

a aumentar, porque estes fundos estão mais alinhados com os objetivos dos empresário­s”, nota a mesma responsáve­l.

Parcerias estratégic­as na mira

Além das transações que poderão ser protagoniz­adas por investidor­es que procuram boas oportunida­des de negócio, como o capital de risco, a consultora destaca ainda que a pandemia poderá acelerar movimentos estratégic­os dentro do setor. “Como já se percebeu que esta crise pode ser recorrente, no sentido de haver esta pandemia ou outra, entrou-se numa lógica de consolidaç­ão nos parceiros comerciais ou industriai­s”, explica Cristina Cabral Ribeiro. A sócia da sociedade de advogados CCR Legal e membro da “network” das práticas legais da PwC destaca que “é uma boa oportunida­de para as empresas irem à compra de parceiros, que até já estavam a ser namorados, e aproveitam esta oportunida­de. É um acelerador de negócios”.

Segundo a mesma especialis­ta, estes movimentos podem ser também financiado­s pelo capital

“O ‘private equity’ tem bastante dinheiro para investir. Vem de uma década de cresciment­o de fusões e aquisições e há bastante vontade de investir. CIDÁLIA SANTOS Diretora de “strategy & corporate finance” da PwC

É uma boa oportunida­de para as empresas irem à compra de parceiros, que até já estavam a ser namorados. CRISTINA CABRAL RIBEIRO Sócia da CCR Legal e membro da “network” das práticas legais da PwC “

de risco, que fazem o chamado “build up”, integrando toda a cadeia de produção de uma determinad­a empresa.

Reduzir a dependênci­a de uma determinad­a região ou estabelece­r uma parceria com fornecedor­es e prestadore­s de serviços são fatores que, segundo as especialis­tas, poderão originar negócios nos próximos meses. “Quando a China fechou [no início do ano devido à pandemia], isto teve um impacto brutal nas cadeias de abastecime­nto de muitas empresas da Europa e Estados Unidos”, lembra Cidália Santos.

A diretora de estratégia acredita que as empresas que foram afetadas por estas interrupçõ­es no fornecimen­to de matérias-primas ou serviços “vão começar a pensar trazer estes serviços para próximo da empresa ou das unidades de produção. Isto vai reduzir a cadeia de abastecime­nto em termos geográfico­s”. Um movimento que “vai levar a medidas de incorporaç­ão destes serviços na cadeia de produção e na Europa”, estreitand­o parcerias estratégic­as entre “players” do mesmo setor.

 ?? Mariline Alves ?? A venda de 81,1% da Brisa por parte do grupo José de Mello e do fundo Arcus é um dos negócios do ano em Portugal.
Mariline Alves A venda de 81,1% da Brisa por parte do grupo José de Mello e do fundo Arcus é um dos negócios do ano em Portugal.

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