Covid-19 cria oportunidades de aquisição na tecnologia
A tecnologia deverá ser um setor “quente” nos movimentos de consolidação. Já o turismo e o retalho terão de entrar nestes movimentos por uma questão de sobrevivência.
“Poderá haver movimentos de M&A, à procura de nova tecnologia e novas competências.
CIDÁLIA SANTOS Diretora de “strategy & corporate finance” da PwC
A crise da covid-19 acelerou a transição para uma era digital, com a tecnologia no centro. Mas nem todas as empresas estavam preparadas para uma economia que, de um momento para o outro, passou a funcionar “à distância”. Com o confinamento, os negócios tiveram de acelerar a aposta na tecnologia, mas nem todos conseguiram. E é por isso que a PwC vê na tecnologia um setor “quente” que pode motivar grande interesse nos próximos meses.
“Muitas fragilidades podem estar relacionadas com o tema da tecnologia”, refere Cidália Santos, adiantando que “poderá haver movimentos de fusões e aquisições, à procura de nova tecnologia e novas competências”, com as empresas a tentarem colmatar falhas que identificaram durante o período do confinamento.
As medidas de confinamento que forçaram as pessoas a ficar em casa e a trabalhar à distância levaram a um reforço da procura de serviços tecnológicos, como as compras online, os pagamentos através de meios digitais, ou os jogos online. Um movimento que já vinha a crescer, mas que disparou nos últimos meses e que traz oportunidades de investimento.
“A esmagadora maioria da indústria e da química são consideradas empresas de setores defensivos, para as quais os investidores vão olhar com bons olhos”, acrescenta Cidália Santos. Outro segmento que poderá estar no centro de movimentos de consolidação é o imobiliário, um dos setores afetados pela pandemia. “Há muitas empresas que vão rever os seus escritórios devido ao trabalho remoto”, nota a diretora de estratégia da PwC.
Segundo Cristina Cabral Ribeiro, “já houve muitos clientes que desistiram de mudança de escritórios ou já estão a libertar pisos”, numa tendência que veio para ficar.
Já do lado daquilo que qualificam como negócios “pelas más razões”, as especialistas realçam o setor do turismo e das viagens, bem como o retalho. Áreas de negócio em que “vai haver movimentos de transação, provavelmente por uma questão de sobrevivência”, destaca Cidália Santos.
Proteger o património
Cristina Cabral Ribeiro considera, contudo, que pode haver outros catalisadores de potenciais negócios. Desde logo por questões legais. De acordo com a advogada, o facto de em Portugal muitos empresários darem garantias pessoais poderá levar a que estes queiram desfazer-se dos negócios, para não pôr em causa o património da família.
Por outro lado, grupos que têm atividades mais “tóxicas” poderão “preparar esse ativo para uma venda”, de modo a tirá-lo da carteira de ativos e evitar a “contaminação” dos negócios do grupo.
“Houve clientes que desistiram de mudança de escritórios, ou estão a libertar pisos. CRISTINA CABRAL RIBEIRO Sócia da CCR Legal e membro da “network” das práticas legais da PwC