Jornal de Negócios

Banca vai superar crise? “Trabalho vai ser difícil”

O setor financeiro está hoje mais bem preparado para superar a nova crise provocada pela pandemia. Ainda assim, Máximo dos Santos considera que vai ser um trabalho “difícil e exigente”.

- RITA ATALAIA

“Vai ser um trabalho muito difícil e exigente, embora o ponto de partida [da banca] seja inegavelme­nte melhor.

MÁXIMO DOS SANTOS Vice-governador do BdP

A banca tem pela frente um “trabalho muito difícil e exigente” perante a nova crise financeira provocada pela pandemia. A opinião é de Máximo dos Santos, vice-governador do Banco de Portugal, numa entrevista por escrito ao Negócios. O responsáve­l nota, ainda assim, que o setor está hoje mais bem preparado para superar este obstáculo e ajustar-se a uma nova realidade do que antes, num período em que acabou por acelerar o processo de digitaliza­ção.

“Preparado para uma crise com estas caracterís­ticas ninguém estava. Ajustar-se à crise é uma inevitabil­idade e uma condição para a superar”, começa por dizer Máximo dos Santos, quando questionad­o pelo Negócios sobre se a banca está preparada para se ajustar e superar a nova crise.

“Mas, como eu próprio já assinalei noutra ocasião, vai ser um trabalho muito difícil e exigente, embora o ponto de partida seja inegavelme­nte melhor e algumas lições de crises passadas tenham certamente sido aprendidas”, afirma ainda o responsáve­l.

As autoridade­s têm adotado várias medidas para apoiar os bancos e permitir que estes tenham capacidade para emprestar à economia, seja através da flexibiliz­ação das regras em torno dos rácios de capital ou das recomendaç­ões para que não sejam, por agora, distribuíd­os dividendos. Por outro lado, o Governo também avançou com moratórias no crédito com o objetivo de apoiar as famílias e empresas mais penalizada­s pela pandemia, permitindo adiar, até 31 de março de 2021, o pagamento das dívidas junto das instituiçõ­es financeira­s.

Este foi também um balão de oxigénio para o setor bancário.

Os próprios bancos já se estão a preparar para eventuais perdas futuras, ao terem colocado de parte mais de 200 milhões de euros em provisões no primeiro trimestre. Isto num período em que as instituiçõ­es financeira­s tiveram também de apostar ainda mais na digitaliza­ção, promovendo a utilização dos canais digitais junto dos clientes que estiveram confinados devido à pandemia. Uma evolução que obriga a uma maior aposta na educação financeira digital dos clientes bancários, perante o risco de ciberataqu­es.

Educação financeira digital é “fundamenta­l”

“Os canais digitais (‘online e mobile/apps’) facilitam o acesso aos produtos e serviços financeiro­s e revelaram-se essenciais no atual contexto de pandemia e de necessidad­e de distanciam­ento social, ainda que as instituiçõ­es de crédito tenham mantido sempre o atendiment­o ao público. Desse ponto de vista, a pandemia acentuou uma tendência que era já imparável”, diz Máximo dos Santos ao Negócios. “Todos sabemos, no entanto, que a utilização de canais digitais tem também associado um conjunto de riscos”, nomeadamen­te os ciberataqu­es, acrescenta.

“A formação financeira no domínio digital é, pois, fundamenta­l e o Banco de Portugal está bem consciente disso”, refere, relembrand­o que já foram dados alguns passos para promover a educação financeira digital, através de campanhas e do Portal do Cliente Bancário. “Como é óbvio, são ainda pequenos passos de um caminho muito longo para obtermos parâmetros aceitáveis de educação financeira digital”, diz.

Questionad­o sobre se a educação financeira digital dos portuguese­s é suficiente num momento em que aumenta o número de ciberataqu­es, Máximo dos Santos diz que “responder afirmativa­mente a essa pergunta seria uma total mistificaç­ão”, já que os “ciberataqu­es são um dos grandes problemas do nosso tempo”. Estes “colocam questões que vão muito para além da educação financeira, embora esta também seja fundamenta­l no contexto da sua prevenção”, conclui.

“Preparado para uma crise [como esta] ninguém estava. [O setor financeiro] ajustar-se é uma inevitabil­idade e uma condição para a superar.

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