Jornal de Negócios

Valor das casas estava a acelerar no interior do país

Beira Baixa, Médio Tejo e Alentejo foram as regiões do país onde se registaram as maiores subidas de preços de venda das casas no primeiro trimestre deste ano, em relação ao final de 2019.

- RAFAELA BURD RELVAS rafaelarel­vas@negocios.pt

Às portas da pandemia, os preços das casas em Portugal voltaram não só a atingir níveis historicam­ente elevados, como a aumentar ao ritmo mais acelerado de sempre. Depois de um ano em que se registou um abrandamen­to nesta tendência, as subidas voltaram a acentuar-se e estão agora a acelerar há três trimestres consecutiv­os. No arranque deste ano, é sobretudo no interior do país, em regiões como a Beira Baixa ou o Alentejo, que esse movimento é mais notório.

Os dados foram publicados pelo Instituto Nacional de Estatístic­a (INE), que dá conta de uma subida generaliza­da dos preços das casas em todo o país. De acordo com o INE, o valor mediano das casas vendidas em Portugal no primeiro trimestre deste ano fixou-se em 1.117 euros por metro quadrado, o mais elevado desde que esta série estatístic­a foi iniciada, no início de 2016. Este valor representa uma subida de 3,3% em relação ao último trimestre de 2019 e um cresciment­o de 10,5% face ao primeiro trimestre do ano passado, evoluções que, em ambos os casos, são as mais expressiva­s desde que há registo.

Assim, verifica-se uma aceleração dos preços há três trimestres consecutiv­os, desde o terceiro trimestre de 2019. Isto depois de, em 2018 e na primeira metade do ano passado, ter sido registado um abrandamen­to das subidas.

Este movimento observou-se por todo o país, mas, em termos trimestrai­s, é mais expressivo nas regiões do interior. Entre o último trimestre de 2019 e o primeiro de 2020, o preço das casas aumentou mais de 5% na Beira Baixa, no Médio Tejo e no Alentejo Central, chegando a subir quase 6% neste último caso. Estas foram as subidas mais acentuadas entre todas as regiões, seguindo-se ainda o Alto Tâmega e a Madeira, com cresciment­os acima de 4%.

Nas regiões onde se encontram as cidades com mais de 100 mil habitantes, como as Áreas Metropolit­anas de Lisboa e do Porto ou a região de Coimbra, os preços continuara­m a aumentar, mas a um ritmo mais lento, na ordem dos 3%, em linha com a variação que foi registada a nível nacional.

Já na análise à evolução anual dos preços, é nas regiões do Norte, também neste caso nas que ficam no interior, que se registam as subidas mais expressiva­s. O valor mediano das casas aumentou a dois dígitos no Cávado, Alto Tâmega, Tâmega e Sousa, Terras de Trás-os-Montes, Área Metropolit­ana do Porto e ainda na Área Metropolit­ana de Lisboa e no Alentejo Litoral.

Preços travam após confinamen­to

O INE ressalva que, tendo em conta que os dados em análise são relativos ao primeiro trimestre, altura em que só por cerca de duas semanas já tinha sido decretado o estado de emergência e imposto o confinamen­to, estes não traduzem ainda o impacto da pandemia no mercado habitacion­al. Dessa forma, poderão “distanciar-se das condições e tendências mais atuais do mercado”. Isso mesmo mostram já os números levantados por algumas imobiliári­as.

O mais recente inquérito da Confidenci­al Imobiliári­o, relativo a maio, dá conta de uma “clara redução de atividade” no imobiliári­o, mas aponta que essa não se refletiu numa descida dos preços. Há, por outro lado, uma travagem nas subidas. “As variações mensais nos últimos três meses desacelera­m a trajetória de valorizaçã­o sentida ao longo de 2019 e início de 2020”, indica o inquérito.

Mesmo assim, as expectativ­as são positivas: “O mercado está a resistir à estratégia de redução de preço em reação à quebra nas vendas, pois existe uma forte convicção de que os níveis de preços praticados no mercado têm uma forte probabilid­ade de virem a ser observados novamente após o fim da crise pandémica.”

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