“O problema é que esta ‘rebelião’ de Nuno Santos pode abrir linhas de fratura no PS.”
CAMILO LOURENÇO
“Eu nunca apoiarei um candidato da direita. Não havendo um candidato do meu partido votarei num dos candidatos do PCP ou do BE.” O autor da frase é Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, em entrevista à RTP.
A clarificação é uma surpresa? Vejamos: Nuno Santos é muito mais próximo de Bloco e PCP do que do PSD: com ele não haverá bloco central. Foi o próprio que há três anos jurou que o PS nunca mais precisaria da direita para governar. E a verdade é que Nuno Santos tem feito por isso: o funcionamento da “geringonça”, na primeira legislatura de António Costa, ficou-lhe a dever muito.
Mas porque é que escolheu este momento para se demarcar tão clara e “violentamente” do primeiro-ministro (que lançou a candidatura de Marcelo)? Há uma razão evidente: quer posicionar-se para o pós-Costa. E acelerou a candidatura depois do contra-ataque de Medina nas duas últimas semanas, quando se atirou com unhas e dentes à ministra da Saúde e à DGS e anunciou o fim do Airbnb em Lisboa.
O problema é que esta “rebelião” de Nuno Santos pode abrir linhas de fratura no PS. Embora se tenha recusado a comentar a candidatura de Ana Gomes (que foi apanhada de surpresa pelo apoio de Costa a Marcelo), o ministro defendeu que “deve haver sempre um candidato da área do PS”. Quem está mais bem colocado para protagonizar essa candidatura? Ana Gomes.
Pergunta: como a crise económica se vai aprofundar e a Europa vai impor condicionalidade para os fundos europeus, a esquerda mais radical (onde está Nuno Santos) vai-se opor. Nessa altura o que sucede a um partido que já vem dividido das presidenciais e vive uma paz podre? De repente, o futuro do PS não parece tão risonho assim...