FALTA DE AMBIENTE
Aqui há uns anos, cresceu um género de restaurantes que se baseou em conceitos, modas e muito trabalho de relações públicas, investindo nestas áreas mais do que naquilo que torna um restaurante uma experiência a repetir: conforto do espaço, ambiente, criatividade e bom senso, serviço, boa relação qualidade-preço. É muito difícil conjugar tudo isto, e foram poucos os que o conseguiram fazer – e menos ainda os que o conseguem manter. Eu tinha razoável impressão de Marlene Vieira e lá decidi ir experimentar o Zunzum Gastrobar, o seu novo restaurante, localizado na Doca do Jardim do Tabaco, junto ao Terminal de Cruzeiros de Lisboa. O local é bom, o estacionamento é fácil (duas coisas simpáticas). Já a decoração deixa a desejar, insípida e algo desconfortável. Ambiente, numa noite de quinta-feira, não havia, mesmo descontando a covid. O serviço é atento, mas por vezes demasiado intrometido, o que se torna incómodo: por exemplo, vieram explicar-nos que umas pipocas incompreensivelmente colocadas num ceviche se destinavam a diminuir a pegada ambiental, evitando a importação de milho do Peru. O ceviche de espadarte devia ter o peixe fatiado mais fino, podia bem dispensar o maracujá e as cinematográficas pipocas. No couvert, os chips de moreia não resultaram e acabavam por ser desagradáveis, salvou-se o pão e a manteiga, anunciada como sendo dos Açores (mas amolecida demais). Os dois pontos mais positivos foram as filhós de berbigão à Bulhão Pato e a Mini Sanduíche de Rosbife em bolo lêvedo com maionese de beterraba. As sobremesas ficaram muito aquém das expectativas, com um arroz-doce que se anunciava como uma original versão e que surgiu sem graça, e um enrolado de ananás dos Açores demasiado doce. A boa localização, a esplanada que será agradável nos dias bons, e o serviço de vinhos que correu bem, com boas propostas, não chegam para atenuar os lados menos bons. Mixed feelings sobre este Zunzum, mas não me apetece lá voltar tão cedo.