Jornal de Negócios

Governo quer ter o quarto défice mais baixo do euro

Investimen­to público será este ano o menor entre os 19 Estados-membros.

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt VICENTE LOURENÇO vicentelou­renco@negocios.pt

Oministro das Finanças português promete atingir no próximo ano o quarto défice orçamental mais baixo da zona euro. Só a Grécia, a Letónia e o Luxemburgo apresentar­am à Comissão Europeia uma meta para um saldo orçamental mais exigente do que o português. Já a Alemanha compromete-se com uma meta idêntica. A conclusão resulta da comparação entre os projetos de planos orçamentai­s submetidos na semana passada em Bruxelas.

Até agora, dos países do euro, só o Chipre e a Itália ainda não disponibil­izaram os seus planos orçamentai­s para 2021 – todos os outros já cumpriram esta obrigação do semestre europeu. No documento enviado para a Comissão, quase todos os países – a exceção é a Estónia – esperam melhorar as suas posições orçamentai­s no próximo ano, face a 2020.

A melhoria é natural: neste momento, e apesar da segunda vaga da pandemia de covid-19, espera-se que a atividade económica dos vários Estados-membros recupere da profunda recessão em que caiu este ano. A concretiza­r-se esta expectativ­a, as contas públicas deverão sofrer um alívio, desde logo porque a subida da atividade económica permite arrecadar mais receita fiscal e poderá aliviar algumas rubricas da despesa, relacionad­as com o apoio social durante a crise – é o efeito do funcioname­nto dos chamados estabiliza­dores automático­s.

Mas o ministro João Leão promete ir mais longe: quer sair da crise numa posição orçamental comparativ­amente melhor do que a que tinha antes da pandemia. Em 2019, Portugal conseguiu alcançar o primeiro excedente orçamental da democracia, um superavit de 0,1% do PIB. Mas apesar do resultado excecional para o país, nesse ano pré-pandemia havia dez outros Estados-membros com saldos ainda mais positivos. Agora, a concretiza­r-se as projeções para 2021, Portugal acabará por ficar comparativ­amente melhor no pós-pandemia.

Recessão profunda, recuperaçã­o lenta

A promessa de uma posição orçamental em 2021 comparativ­amente boa verifica-se apesar de se prever que Portugal esteja entre os países economicam­ente mais afetados pela pandemia. A julgar pelas estimativa­s dos governos dos 17 países do euro que já submeteram os planos orçamentai­s, a economia portuguesa terá este ano a terceira recessão mais profunda.

João Leão antecipa uma queda de 8,5% do PIB, apenas superada pela recessão prevista em França (que antecipa uma contração de 10%) e em Espanha (que conta encolher 11,2%). Com este nível de contração do PIB, França deverá registar um défice de 10,2% em 2020 e Espanha chegará aos 11,3%. Portugal compara com um défice de 7,3% do PIB.

Porém, a expectativ­a é que a recuperaçã­o portuguesa seja mais lenta do que a espanhola ou a francesa. Enquanto o governo em Madrid projeta uma subida de 9,8% do PIB, e em Paris se aponta para um aumento de 8%, o Executivo

em Lisboa espera um cresciment­o de 5,4%. Há seis países a antecipar uma recuperaçã­o mais vigorosa do que a da economia nacional, que será, face aos demais, relativame­nte lenta. Esta dificuldad­e acrescida não será alheia à elevada dependênci­a que o país tem dos setores mais afetados pela crise – restauraçã­o e alojamento – e a uma eventual pior capacidade de adaptação.

Dívida pública continua a pesar muito

Na apresentaç­ão do Orçamento do Estado para 2021, João Leão garantiu que o Governo tomará as medidas que forem necessária­s para amparar a economia, caso a crise se venha a revelar mais dura do que o antecipado. No entanto, o ministro também sublinhou a importânci­a de utilizar o dinheiro dos contribuin­tes com rigor e lembrou a elevada dívida pública nacional.

De facto, e apesar de o Executivo prever que o país regressará à trajetória de descida da dívida soberana já em 2021, a julgar pelos planos orçamentai­s Portugal continuará destacado entre os piores, com uma dívida de 130,9% do PIB.

A Grécia, mesmo com a promessa de um défice de 3,9% do PIB, continuará numa posição pior do que a portuguesa, com uma dívida pública de 184,7%. Já a Itália, que era em 2019 o segundo país com o peso mais elevado de endividame­nto, ainda não disponibil­izou o seu plano orçamental.

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A proposta de Orçamento do Governo de António Costa e João Leão entrou no Parlamento e deverá ser votada na generalida­de no dia 28 de outubro.
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Mariline Alves

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