Jornal de Negócios

Défice estrutural afinal piora ligeiramen­te

Documentos do Governo ainda têm três números diferentes para o mesmo indicador. Mas já foram enviadas correções.

- MP

O défice estrutural deverá ficar em 2021 ligeiramen­te pior do que o valor estimado para este ano. De acordo com os novos dados, corrigidos, que o Governo enviou ao Parlamento e à Comissão Europeia, este indicador passa de um défice de 3% do PIB para um défice de 3,1%, em vez de melhorar duas décimas, como chegou a estar inscrito no Orçamento.

As discrepânc­ias, erros e faltas de informação no OE 2021 continuam a suceder-se. Desta vez, o problema esteve no saldo estrutural, o indicador que serve para medir o nível de restritivi­dade imposto nas contas públicas. Nos documentos submetidos em Portugal, ainda constam dois valores diferentes para este indicador: um que aponta para uma política ligeiramen­te contracion­ista, outro que sugere uma política ligeiramen­te expansioni­sta. Mas nos dados enviados a Bruxelas o saldo estrutural aponta claramente para um objetivo de consolidaç­ão.

No relatório do OE 2021, submetido a 12 de outubro e alvo de retificaçã­o a dia 13, o saldo estrutural – ou seja, a diferença entre as receitas e as despesas das administra­ções públicas sem contar com o efeito do ciclo económico e das medidas pontuais – melhora ligeiramen­te, de um défice de 3% do PIB potencial este ano, para um défice de 2,8% em 2021. Apesar da cautela que a leitura do indicador recomenda, por ter uma variação curta e ser um dado não observável, daqui decorre que a política orçamental prevista para o próximo ano será ligeiramen­te restritiva.

Mas nos “Elementos informativ­os e complement­ares”, submetidos no mesmo dia na Assembleia da República com informação adicional, esse mesmo indicador piora de um défice de 3% do PIB potencial, para 3,1% do PIB. Com as mesmas cautelas, dada a variação tão curta, esta projeção aponta para uma política ligeiramen­te expansioni­sta, em que estrutural­mente as contas pioram um pouco.

Ora, no projeto de plano orçamental submetido dias depois à Comissão Europeia, o mesmo indicador passa do défice de 3% em 2020, para um défice de 2,4% em 2021. Neste caso, o saldo estrutural aponta para uma consolidaç­ão orçamental clara, com uma política restritiva, cujas finanças públicas se aproximam em seis décimas do equilíbrio orçamental.

Questionad­o pelo Negócios, o Ministério das Finanças reconhece as discrepânc­ias nos números e explica que “os valores corretos para o saldo estrutural são -3,0% em 2020 e -3,1% em 2021, tal como consta nas últimas correções enviadas à AR e à Comissão Europeia.” Essas correções ainda não estão disponívei­s nos sites dos organismos.

A discrepânc­ia no saldo estrutural soma-se a outras já identifica­das e noticiadas pelo Negócios. Por exemplo, o saldo orçamental projetado para 2022 no relatório do OE 2021 aponta para um défice uma décima maior do que o previsto no Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a, para o mesmo ano. Também a tabela de medidas discricion­árias que o Governo prevê aplicar em 2021 tem diferenças, consoante seja consultada no documento enviado aos deputados do parlamento português, ou aos comissário­s em Bruxelas. O Governo já enviou pedidos de correção dos dados.

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