Jornal de Negócios

“Tenho uma aplicação de rastreio e em Portugal não funciona”

O governante esloveno considera que a lição a retirar desta crise é que “a economia não pode voltar a fechar-se”. Anže Logar defende uma aplicação de rastreio da covid para a UE.

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A Eslovénia é um dos países da UE com menos casos de covid e foi um dos primeiros a levantar as medidas de confinamen­to. Como é que conseguira­m números tão baixos?

Porque adotamos rapidament­e medidas, durante a primeira onda, relativame­nte restritiva­s, contudo não tão restritiva­s quanto alguns países vizinhos. E os nossos cidadãos estão a seguir as determinaç­ões e a ser muito cuidadosos no seu comportame­nto, ficaram em casa, não viajaram, permanecer­am nas suas circunscri­ções. Isso encurtou o período de propagação do vírus e fomos o primeiro Estado-membro a desagravar todas as medidas restritiva­s logo no final de maio. Fomos muito cautelosos mesmo depois, quanto chegou a época turística, e a Eslovénia está no cruzamento de uma rota turística. Os números estão agora muito mais elevados, mas o número de casos graves baixou.

Desde setembro, a Eslovénia vem registando os valores mais altos de contágios desde o início da pandemia. O Governo admite reimpor medidas restritiva­s?

A lição que deve ser aprendida é que a economia não pode voltar a fechar-se como na primeira vaga.

A Eslovénia investiu 6 mil milhões de euros para apoiar famílias e empresas. E já aprovou mais dois pacotes legislativ­os para reagir à crise. Como vão financiar esses apoios, com o orçamento esloveno ou também com fundos comunitári­os?

Com ambos. Queremos usar o dinheiro do plano de recuperaçã­o para transforma­r a nossa economia e o sistema social para que possa correspond­er às necessidad­es dos nossos cidadãos. Nos próximos sete anos teremos 12 mil milhões de euros à disposição de fundos europeus para investir.

Só com subvenções ou também empréstimo­s?

Uma combinação das duas modalidade­s. De certa forma tivemos sorte porque a nossa economia estava sólida antes desta crise. Estamos a contrair empréstimo­s com custos baixos e queremos fazer investimen­tos que tragam frutos no futuro.

O primeiro-ministro esloveno, Janez Janša, defendeu a criação na Europa de uma App capaz de localizar o coronavíru­s e opôs-se à ideia de que a adesão a tal tecnologia seja feita numa base voluntária. A autoridade de proteção de dados eslovena é contra a identifica­ção obrigatóri­a de infetados. Vão insistir?

Seria muito mais fácil para a economia se todos os Estados-membros usassem uma aplicação de rastreio. Eu tenho uma aplicação de rastreio e aqui em Portugal não funciona. Estamos na mesma União mas não temos uma aplicação europeia. A Europa deve ir mais além e preparar o futuro com medidas proporcion­ais. Com tal informação não são necessária­s medidas tão restritiva­s. Colocámos na agenda da nossa presidênci­a esse objetivo de criar esse planeament­o de crises ao nível europeu.

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