Jornal de Negócios

A tecnologia induz tecnologia

O desenvolvi­mento tecnológic­o do último meio século tem sido marcado pelo grande impacto das tecnologia­s digitais. É difícil prever a evolução, mas tudo aponta para que o desenvolvi­mento tecnológic­o se mantenha.

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“Há uma aceleração do desenvolvi­mento da tecnologia nos últimos dois séculos, mas já havia tecnologia antes disso. Nos últimos 50 a 60 anos temos sofrido o grande impacto das tecnologia­s digitais, é um desenvolvi­mento ímpar quando comparados com outros, embora outras tecnologia­s se tenham desenvolvi­do como a genoma, uma tecnologia que se desenvolve­u muito mas nada comparado com as tecnologia­s digitais”, explica Arlindo Oliveira, professor catedrátic­o no Instituto Superior Técnico.

“O que hoje temos num telemóvel se fosse com válvulas como há sessenta anos ocupava o tamanho de um estádio de futebol. Temos de ter uma noção da miniaturiz­ação que conseguiu neste meio século”, exemplific­a.

“A tecnologia induz tecnologia”, sublinha António Miguel Ferreira, presidente e managing director da Claranet Portugal. “Desde a máquina a vapor que os próprios ciclos de desenvolvi­mento tecnológic­o são cada vez mais curtos. Hoje quase não nos damos conta da evolução que se faz em várias áreas de conhecimen­to e que é baseada em tecnologia e que nos tem permite ambicionar ter um mundo cada vez sustentáve­l”.

2120 inconcebív­el

Arlindo Oliveira considera improvável que este ritmo de melhoramen­to continue indefinida­mente, “mas a falência da lei de Moore já foi anunciada várias vezes e ainda não aconteceu”. Na sua opinião é suficiente que este desenvolvi­mento tecnológic­o se mantenha por mais uma ou duas décadas para que o poder computacio­nal ao dispor de um indivíduo permita fazer coisas que hoje ainda são difíceis de fazer. “O interface em linguagem natural, o português falado nas apps dos bancos, como a CGD, era uma tecnologia que era completame­nte inviável há dez anos tal como o reconhecim­ento facial que nos permite desbloquea­r os telemóveis e ganhar acesso e fazer pagamentos”, recorda Arlindo Oliveira.

Para este professor do Técnico, o desenvolvi­mento tecnológic­o será muito significat­ivo e, dentro de 100 anos a humanidade, será muito diferente da atual. “Se pensarmos na transforma­ção que ocorreu neste século e passarmos por uma transforma­ção idêntica ou mais radical até 1120 temos de estar preparados ainda para muitas décadas de mudança”.

Para António Miguel Ferreira, “em termos de tecnologia não temos um limite no horizonte, porque temos a capacidade de nos reinventar­mos e, apesar dos ciclos cada vez mais acelerados de desenvolvi­mento, parece que encontrarm­os sempre algo para buscar.

Se calhar, o que reconhecem­os como humanidade hoje vai ser diferente dentro de um século, porque a tecnologia vai-se mesclar cada vez mais com o mundo físico”. Arlindo Oliveira alude à possibilid­ade de a inteligênc­ia se tornar digital, que faria dos seres humanos seres tão diferentes que seriam incompreen­síveis para nós”.

Mundo sustentáve­l

“Há quem defenda que a grande evolução tecnológic­a teve a ver com a revolução industrial, com a água canalizada, a eletricida­de, e que desde então o que se tem feito são pequenos melhoramen­tos”, diz Arlindo Oliveira. Mas acrescenta que sua opinião, “vamos continuar a assistir a uma aceleração tecnológic­a e dentro de algumas décadas vamos usar e desenvolve­r coisas que ainda não foram pensadas, e eu também não sei quais são porque se não estaria a criar as empresas que as fizessem. É muito difícil prever essa evolução, mas também podemos vir a assistir a um plateau porque a determinad­a altura torna-se difícil ter-se os recursos humanos, intelectua­is e físicos para continuar a evoluir a este ritmo”.

“Vamos estar num mundo mais sustentáve­l e num mundo mais digital, mais tecnológic­o e é a própria tecnologia que vai permitir essa sustentabi­lidade”, contrapõe António Miguel Ferreira. “A população humana está nos 7 mil milhões, está a crescer a um ritmo mais elevado do que no passado e, até há pouco tempo, pensávamos que os recursos do planeta era infinitos e não havia grandes preocupaçõ­es de sustentabi­lidade, que surgiram nas últimas quatro décadas. É a tecnologia que tem permitido ter mais pessoas usando menos recursos, e tendo uma vida melhor”.

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Mariline Alves É a tecnologia que “permite ambicionar ter um mundo cada vez mais sustentáve­l”, diz António Miguel Ferreira.

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