Jornal de Negócios

Ópera bufa

- PAULO CARMONA

Na lenda, Fausto negoceia com o Diabo, na forma de Mefistófel­es, para lhe entregar a alma em troca duma boa vida. Nos finais de 2015, António Costa assumiu o papel de Fausto, tendo o acordo como geringonça e o Diabo como… é seguir a história. Ora nós sabemos desde a infância que o Diabo é manhoso, com cheiro a enxofre, e reclama as suas almas quando lhe é convenient­e. Na vida real, a extrema-esquerda que suporta o Governo, e suportará, exige que o Estado-bombeiro tome conta da área ardida, numa pulsão dirigista e estatizant­e, também do agrado socialista, mais Estado e rigidez laboral, mais perto duma União Soviética do que duma Alemanha. É distribuir por todos, sempre através do Estado, criando oportunas dependênci­as e votos agradecido­s, dando galinhas e hipotecand­o os frangos do amanhã. É resolver o desemprego através da simples proibição do despedimen­to, ou abrindo lugares no Estado, incluindo 600 novas freguesias. Uma tentação do Diabo…

Temos de combater a pobreza do desemprego e da crise pandémica, nos setores atingidos. No entanto, a obsessão assistenci­alista esquece que o melhor combate à exclusão social é o emprego. E quem o cria são as empresas, sustentada­mente através de investimen­to com capital financiado pelos lucros, esse anátema mefistofél­ico. O trabalho dignifica as pessoas, a caridade estatal prolongada a quem pode trabalhar, não. Nem uma medida de apoio à capitaliza­ção das empresas, redução do IRC ou a eliminação de algumas das 4.300 taxas identifica­das pela CIP. Nada. Mais Estado, socialista ou salazarist­a, o totalitari­smo das ideias e o “bem” coletivo acima do indivíduo. Esse “bem” que tem trazido guerras e fome por onde tem passado.

E o que fazem os atores desta ópera bufa da política portuguesa? O Governo e os seus apoiantes cozinham sombras, de aprovação orçamental certa e desrespons­abilização do Novo Banco, da TAP e de outras maldades órfãs, um PR quedo em sonhos eleitorais e um PSD meio morto, no TC, nas CCDR, etc., segurando o Governo e esperando a sua hora. Para quê? Quando este ciclo infernal terminar, o que restará da economia e das instituiçõ­es? Apenas sombras e dependênci­as. Mefistófel­es apareceu e reclama o que lhe é devido. 

“Não creio que haja condições para viabilizar a proposta de Orçamento.” CATARINA MARTINS

NEGÓCIOS 12 DE OUTUBRO DE 2020

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