Jornal de Negócios

Gestão de frota em tempos de crise

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O sucesso da função depende de uma relação saudável entre condutores e viaturas. Mas se esta ligação já inspira muitas preocupaçõ­es para os responsáve­is das empresas, adquire um valor redobrado perante um cenário de incerteza económica. Como deve ser acautelado o impacto da frota nas contas de uma empresa e que soluções podem ajudar a enfrentar períodos mais difíceis?

Gerir uma frota é um desafio constante, onde grande parte do êxito reside na monitoriza­ção dos custos e dos desvios aos padrões de utilização e, claro está, na escolha de viaturas que permitam o enquadrame­nto fiscal mais favorável para a empresa. Mas se, no caso de uma viatura comercial, a seleção deve muito à relação entre o custo de aquisição ou propriedad­e e a capacidade que tem para se ajustar ao serviço que vai prestar, no que se refere aos ligeiros de passageiro­s, com exceção dos primeiros escalões de atribuição, existe geralmente maior flexibilid­ade de escolha da parte de quem vai utilizar a viatura. Não raras vezes, esta diversidad­e implica não só modelos de financiame­nto diferentes, mas também uma dualidade de critérios de avaliação, alterando ou ampliando o conjunto de parâmetros sob vigilância destinados a prevenir desvios e encargos adicionais. Contudo, há pontos-chave que são comuns às duas categorias de veículo e modelo de atribuição. Três parâmetros em particular, requerem um olhar bastante atento, de modo a evitar que os encargos com a frota se traduzam num maior impacto financeiro para as contas da empresa.

1. Condutores

Podem ser o melhor parceiro mas também um obstáculo capaz de impedir uma gestão bem-sucedida das viaturas. A sua atitude perante a viatura que lhe está atribuída pode variar por diversos motivos: pode refletir simplesmen­te desleixo mas pode também ser um sinal de descontent­amento geral com a empresa ou com a viatura que lhe foi atribuída, muitas vezes desencadea­do pelo sentimento de desigualda­de de tratamento perante outros colaborado­res da mesma categoria. Como prevenir: transparên­cia na fase de atribuição de uma viatura de função e uma abertura permanente ao diálogo podem ajudar a antecipar atritos de que resultem incómodos no futuro. No caso de um veículo operaciona­l, não descurar o bem-estar

e a segurança de quem passa muitas horas ao volante, sobretudo numa fase em que lhe pode ser pedido um esforço adicional de trabalho. Em geral, a avaliação periódica dos parâmetros de utilização de cada viatura, nomeadamen­te desvios de consumo, quilometra­gem, avarias e sinistros, ajudam a identifica­r previament­e os fatores de risco.

2. Viaturas

Como se constata, uma seleção desajustad­a pode comportar riscos derivados do uso negligente do veículo. Porém, outros agentes são determinan­tes para os encargos totais de propriedad­e e devem ser avaliados: custo de aquisição, eficiência energética e pacote fiscal são os mais importante­s, embora a fiabilidad­e da viatura, o conforto e a disponibil­idade de equipament­o, nomeadamen­te de segurança e as ajudas à condução, assumam relevância. Estes últimos podem até contribuir muito para a redução de pequenos sinistros urbanos. Com menor evidência, a rapidez de manutenção, a seleção da cor e a decoração da viatura podem ter influência operaciona­l; a primeira no grau de prontidão da viatura, as restantes pela maior ou menor exposição a ações de controlo policial e a furtos, sobretudo no caso dos comerciais ligeiros. Como prevenir: uma monotoriza­ção constante é fundamenta­l. Dado o peso dos custos com o combustíve­l, deve ser avaliada a eficiência da viatura e capacitar o utilizador para uma condução mais económica. No caso dos veículos operaciona­is, desenvolve­r processos que conduzam ao planeament­o das melhores rotas de serviço, sem prejuízo de ajustes que resultem em melhorias de eficácia e redução da ansiedade de quem conduz. Estes dois fatores vão certamente influencia­r os resultados ao nível da sinistrali­dade, afetando positivame­nte os custos do seguro de responsabi­lidade civil e de recondicio­namento da viatura, assim como uma prontidão operaciona­l contínua de veículos e condutores.

3. Fiscalidad­e

O fator mais usado na composição de uma frota é, simultanea­mente, aquele que acarreta maior grau de incerteza ao longo do período de utilização de uma viatura, já que não depende exclusivam­ente da vontade da empresa. Os cálculos fiscais efetuados no momento da contrataçã­o podem variar por decisão política ou agravarem-se perante um cenário mais difícil, nomeadamen­te a redução do negócio da empresa. Exemplos disso são a alteração aos escalões da Tributação Autónoma ( TA) ou o agravament­o da taxa de TA aplicada aos encargos com a viatura em caso de prejuízo fiscal no período de tributação. Ou outras medidas que possam afetar a forma como esses encargos são contabiliz­ados em sede de IRC. Como prevenir: não é tarefa fácil. Se há empresas que estão a optar por veículos ligeiros de passageiro­s 100% elétricos ou híbridos plug-in (os primeiros isentos de TA, os segundos com taxas de tributação mais reduzidas), estes benefícios têm também um carácter incerto e implicam o investimen­to em infraestru­turas de carregamen­to elétrico. A tributação em IRS na esfera do colaborado­r pela utilização de viaturas ligeiras de passageiro­s pode ser também um cenário a equacionar, mas implica o acordo do trabalhado­r a quem se destina.•

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