Jornal de Negócios

Apagão na Euronext prolongou-se após o fecho

Os problemas técnicos que forçaram a interrompe­r a negociação por várias horas em Paris, Amesterdão, Lisboa, Dublin e Bruxelas regressara­m após o fecho. Ordens foram canceladas até à abertura.

- PATRÍCIA ABREU pabreu@negocios.pt

Ainda não eram 9:00 em Lisboa, uma hora depois da abertura da sessão, quando a Euronext foi forçada a interrompe­r a negociação em todos os seus mercados devido a problemas técnicos. E assim permaneceu durante cerca de três horas, algo que não acontecia na Euronext desde 2018. O resto da sessão decorreu dentro da normalidad­e, mas os problemas voltaram logo após o fecho. Em vez de as transações pararem, passando a negociar em modo de leilão, os ativos continuara­m a negociar, forçando a Euronext a voltar a interrompe­r o funcioname­nto do mercado. As ordens dadas após o fecho da sessão foram canceladas.

Todas as transações nos mercados Euronext estiveram suspensas até às 11:45 (hora de Lisboa), altura em que a negociação regressou à normalidad­e em Lisboa, Paris, Amesterdão, Dublin e Bruxelas.

Segundo um comunicado emitido pela Euronext, “o problema foi identifica­do e resolvido. Tratou-se de uma questão técnica que teve impacto no ‘middleware system’”. Uma falha que provocou o maior “apagão” nos mercados geridos pelo grupo em dois anos. Mas os problemas não ficaram todos resolvidos com o regresso à negociação. Após o fecho dos mercados, a Euronext foi forçada a interrompe­r novamente a negociação, agora no período em que habitualme­nte ocorrem os leilões de ações.

“O fecho do mercado à vista não ocorreu conforme o esperado esta noite, pois não houve leilões para muitos instrument­os. Em vez disso, a negociação foi mantida em modo contínuo por motivos que estão a ser investigad­os”, adiantou fonte do grupo ao Negócios. Face a esta anomalia, a Euronext decidiu cancelar todas as ordens dadas após as 16:28 (hora de Lisboa), à exceção das matérias-primas, de modo a limpar o sistema e retomar a negociação esta terça-feira, com os valores de cotação do fecho da sessão de ontem.

“Todos os livros de ordens de todas as classes de ativos serão eliminados antes da fase de chamada amanhã de manhã, de modo a garantir uma abertura tranquila”, adiantou a mesma fonte.

Quanto à sessão de segunda-feira em si, o índice PSI-20 acabou por encerrar pouco alterado, com uma descida de 0,23%, num dia de poucas oscilações nos mercados acionistas, o que, segundo os especialis­tas, limitou os danos provocados pela paragem.

“Atendendo a que a suspensão da negociação devido a problemas técnicos teve uma duração aproximada de 2h30 em que as restantes bolsas europeias, os futuros dos EUA e a volatilida­de não registaram variações significat­ivas ou mesmo relevantes, as consequênc­ias não são representa­tivas, com os investidor­es e ‘traders’ a adiarem momentanea­mente a implementa­ção das suas estratégia­s”, realça João Queiroz.

O “head of trading” do Banco Carregosa considera, assim, que “numa manhã calma e sem eventos como a desta sessão não deverá ter expressão significat­iva ou mesmo quantificá­vel. Se tivessem existido eventos de mercado, volatilida­de acrescida com reduzida liquidez provavelme­nte poder-se-ia referir a custos de oportunida­de para os investidor­es e ‘traders’ por não puderem ter a oportunida­de de interagir com o mercado, mas tal não se verificou”.

Também Henrique Tomé, analista da XTB, realça que, “felizmente, estas situações são pontuais. Contudo, não é a primeira vez que esse tipo de encerramen­to, por motivos técnicos, acontece”, lembrando o recente caso da bolsa de Tóquio, em que a sessão inteira foi afetada por falhas informátic­as, no início de outubro. Mas o que significam estas interrupçõ­es para os investidor­es? “Além

“Numa manhã calma e sem eventos como a desta sessão [os custos] não deverão ter expressão significat­iva ou mesmo quantificá­vel. JOÃO QUEIROZ “Head of Trading” do Banco Carregosa

“É difícil precisar o valor [das perdas], mas será na ordem de muitos milhões de euros, uma vez que a bolsa regista inúmeras transações diariament­e. HENRIQUE TOMÉ Analista da XTB

do facto de os investidor­es não conseguire­m operar no mercado no dado momento, ainda poderão estar sujeitos a ajustes do preço/cotação na reabertura do mercado”, explica o analista da XTB.

“Atrasos de execução podem afetar execuções únicas, bem como estratégia­s de negociação entre regiões, portanto, há um efeito de contágio para outros mercados na Europa”, refere Guillermo Hernández Samper, destacando que estas paragens envolvem sempre um elevado número de participan­tes, que tenderá a ser maior consoante a dimensão da praça afetada. O “head of trading” da Manfred Piontke acrescenta que “estes incidentes custam sempre dinheiro”, mas são eventos com os quais os investidor­es têm de viver. “Vivemos e negociamos num ambiente técnico, interrupçõ­es acontecem. Raramente, mas são quase inevitávei­s”, remata o analista.

 ??  ?? A negociação nos mercados Euronext es teve suspensa por cerca de três horas, impedindo a transação de títulos em praças como Paris, Amesterdão e Lisboa.
A negociação nos mercados Euronext es teve suspensa por cerca de três horas, impedindo a transação de títulos em praças como Paris, Amesterdão e Lisboa.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal