Apagão na Euronext prolongou-se após o fecho
Os problemas técnicos que forçaram a interromper a negociação por várias horas em Paris, Amesterdão, Lisboa, Dublin e Bruxelas regressaram após o fecho. Ordens foram canceladas até à abertura.
Ainda não eram 9:00 em Lisboa, uma hora depois da abertura da sessão, quando a Euronext foi forçada a interromper a negociação em todos os seus mercados devido a problemas técnicos. E assim permaneceu durante cerca de três horas, algo que não acontecia na Euronext desde 2018. O resto da sessão decorreu dentro da normalidade, mas os problemas voltaram logo após o fecho. Em vez de as transações pararem, passando a negociar em modo de leilão, os ativos continuaram a negociar, forçando a Euronext a voltar a interromper o funcionamento do mercado. As ordens dadas após o fecho da sessão foram canceladas.
Todas as transações nos mercados Euronext estiveram suspensas até às 11:45 (hora de Lisboa), altura em que a negociação regressou à normalidade em Lisboa, Paris, Amesterdão, Dublin e Bruxelas.
Segundo um comunicado emitido pela Euronext, “o problema foi identificado e resolvido. Tratou-se de uma questão técnica que teve impacto no ‘middleware system’”. Uma falha que provocou o maior “apagão” nos mercados geridos pelo grupo em dois anos. Mas os problemas não ficaram todos resolvidos com o regresso à negociação. Após o fecho dos mercados, a Euronext foi forçada a interromper novamente a negociação, agora no período em que habitualmente ocorrem os leilões de ações.
“O fecho do mercado à vista não ocorreu conforme o esperado esta noite, pois não houve leilões para muitos instrumentos. Em vez disso, a negociação foi mantida em modo contínuo por motivos que estão a ser investigados”, adiantou fonte do grupo ao Negócios. Face a esta anomalia, a Euronext decidiu cancelar todas as ordens dadas após as 16:28 (hora de Lisboa), à exceção das matérias-primas, de modo a limpar o sistema e retomar a negociação esta terça-feira, com os valores de cotação do fecho da sessão de ontem.
“Todos os livros de ordens de todas as classes de ativos serão eliminados antes da fase de chamada amanhã de manhã, de modo a garantir uma abertura tranquila”, adiantou a mesma fonte.
Quanto à sessão de segunda-feira em si, o índice PSI-20 acabou por encerrar pouco alterado, com uma descida de 0,23%, num dia de poucas oscilações nos mercados acionistas, o que, segundo os especialistas, limitou os danos provocados pela paragem.
“Atendendo a que a suspensão da negociação devido a problemas técnicos teve uma duração aproximada de 2h30 em que as restantes bolsas europeias, os futuros dos EUA e a volatilidade não registaram variações significativas ou mesmo relevantes, as consequências não são representativas, com os investidores e ‘traders’ a adiarem momentaneamente a implementação das suas estratégias”, realça João Queiroz.
O “head of trading” do Banco Carregosa considera, assim, que “numa manhã calma e sem eventos como a desta sessão não deverá ter expressão significativa ou mesmo quantificável. Se tivessem existido eventos de mercado, volatilidade acrescida com reduzida liquidez provavelmente poder-se-ia referir a custos de oportunidade para os investidores e ‘traders’ por não puderem ter a oportunidade de interagir com o mercado, mas tal não se verificou”.
Também Henrique Tomé, analista da XTB, realça que, “felizmente, estas situações são pontuais. Contudo, não é a primeira vez que esse tipo de encerramento, por motivos técnicos, acontece”, lembrando o recente caso da bolsa de Tóquio, em que a sessão inteira foi afetada por falhas informáticas, no início de outubro. Mas o que significam estas interrupções para os investidores? “Além
“Numa manhã calma e sem eventos como a desta sessão [os custos] não deverão ter expressão significativa ou mesmo quantificável. JOÃO QUEIROZ “Head of Trading” do Banco Carregosa
“É difícil precisar o valor [das perdas], mas será na ordem de muitos milhões de euros, uma vez que a bolsa regista inúmeras transações diariamente. HENRIQUE TOMÉ Analista da XTB
do facto de os investidores não conseguirem operar no mercado no dado momento, ainda poderão estar sujeitos a ajustes do preço/cotação na reabertura do mercado”, explica o analista da XTB.
“Atrasos de execução podem afetar execuções únicas, bem como estratégias de negociação entre regiões, portanto, há um efeito de contágio para outros mercados na Europa”, refere Guillermo Hernández Samper, destacando que estas paragens envolvem sempre um elevado número de participantes, que tenderá a ser maior consoante a dimensão da praça afetada. O “head of trading” da Manfred Piontke acrescenta que “estes incidentes custam sempre dinheiro”, mas são eventos com os quais os investidores têm de viver. “Vivemos e negociamos num ambiente técnico, interrupções acontecem. Raramente, mas são quase inevitáveis”, remata o analista.