O Rubicão de João Lourenço está agora a começar
Os generais Dino e Kopelipa tiveram de se vergar ao Presidente angolano.
A constituição dos generais Kopelipa e Dino como arguidos e a devolução de bens que estes protagonizaram são uma meia vitória para o Presidente angolano. Todavia, a travessia do Rubicão iniciada por João Lourenço ainda apresenta riscos.
Ahistória mimetiza-se em tempos diferentes e com protagonistas distintos. A decisão da Procuradoria- Geral da República (PGR) de Angola de constituir como arguidos os generais Kopelipa e Dino, no âmbito de um processo relacionado com contratos entre o Estado e a empresa China International Fund (CIF), propicia-se a uma comparação desta natureza.
O Presidente da República, João Lourenço, com esta demanda judicial que teve como alvo duas figuras ligadas indelevelmente ao seu antecessor, José Eduardo dos Santos, começou a atravessar o seu Rubicão.
No ano de 49 a.C, Júlio César decidiu atravessar este rio depois de o Senado romano o ter proibido de entrar em Itália com o seu exército. A sua opção, arriscada e irreversível, conduziu a uma guerra da qual saiu vitorioso, tornando-se imperador.
Nesta sua passagem do Rubicão, João Lourenço já obteve uma meia vitória, materializada na circunstância de os generais Hélder Vieira Dias (“Kopelipa”) e Leopoldino Fragoso do Nascimento (“Dino”) terem entregado ao Estado bens que estavam na sua posse.
Entre eles contam-se a Companhia de Bioenergia de Angola (que tem participações da Sonangol e Odebrecht), através da Cochan, a rede de supermercados Quero, pela cedência de 90% das participações sociais do grupo Zahara Comércio, S.A. e a empresa Damer Gráficas – Sociedade Industrial de Artes Gráficas.
Ao enfrentar duas das figuras mais poderosas do consulado de José Eduardo dos Santos, João Lourenço transmite um sinal inequívoco de que na batalha contra a corrupção ninguém é poupado. Conquista a simpatia da população e mete em sentido o seu partido, o MPLA, no qual ainda resistem aliados do seu antecessor.
O que fazer com Manuel Vicente
Com uma situação económica débil e sem perspetivas de melhorar no futuro próximo devido à conjuntura internacional adversa, a luta contra a corrupção é uma das ferramentas de João Lourenço para garantir a sua continuidade no poder. Uma outra é protelar a realização das eleições autárquicas, através das quais o MPLA poderia perder o controlo político de algumas regiões importantes do país.
Com os generais Kopelipa e Dino vergados e Isabel dos Santos exilada e perseguida pela justiça, as atenções estão agora criadas para a forma como João Lourenço irá lidar com o caso Manuel Vicente.
Na entrevista que concedeu ao Wall Street Journal, o presidente angolano avançou que através da Sonangol foram subtraídos 14 mil milhões de dólares dos cofres públicos, o que constitui uma responsabilização indireta de Vicente, que antes de ser vice-presidente da República, liderou os destinos da petrolífera angolana.
Manuel Vicente goza de imunidade até 2022, precisamente o ano em que se irão registar eleições gerais em Angola. Até lá o cerco vai apertar-se. Prova disso é o facto de estar a ser investigado pela PGR um pagamento de 2,3 mil milhões de dólares feito pela Sonangol a favor de Sam Pa, o principal rosto do CIF, que atualmente se encontra detido em Pequim por envolvimento em escândalos de corrupção. Uma situação em que o nome do antigo líder da petrolífera voltou à baila.