Jornal de Negócios

A maldição ao contrário

- CELSO FILIPE Diretor adjunto cfilipe@negocios.pt

Já ouviu falar da maldição da Horta Seca? Na verdade, trata-se de um anátema recente segundo o qual nenhum ministro da Economia nomeado na categoria de independen­te fica até ao final do mandato do palácio da Horta Seca, edifício que alberga este ministério. Exemplos? Aconteceu com Daniel Bessa e Augusto Mateus nos governos de Guterres, com Caldeira Cabral, no primeiro executivo de Costa, e até Manuel Pinho saiu antes de tempo do governo de Sócrates devido a dois dedos indicadore­s colocados nas fontes e apontados na direção de um deputado. No último elenco de António Costa, Pedro Siza Vieira cumpriu o mandato até ao fim, mas aí a juntar-lhe ao título de ministro da Economia possuía o estatuto de Adjunto.

Neste Governo, a maioria dos analistas considerav­a que a profecia se iria materializ­ar de novo com a saída de António Costa Silva da Horta Seca, fragilizad­o pelo percalço do IRC, de desacertos com as Finanças e de algum desconfort­o da parte dos parceiros sociais.

Só que António Costa reescreveu a maldição e, em vez de demitir o ministro, afastou os dois secretário­s de Estado que tinham contrariad­o António

Costa Silva na questão do IRC, o da Economia, João Neves, e a do Turismo, Rita Marques.

Desta forma, o titular da pasta da Economia saiu mediaticam­ente reforçado embora ainda falte saber se os dois novos secretário­s de Estado, o da Economia, Pedro Cilínio (quadro do IAPMEI), e o do Turismo, Nuno Cardona de Almeida (deputado do PS eleito por Castelo Branco), foram escolhas suas.

Além de colocar uma pressão adicional a António Costa Silva, a minirremod­elação efetuada por António Costa, que promoveu a seu Adjunto o até agora secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, transmite um efeito de desgaste extemporân­eo. Este Executivo mostra uma erosão acelerada e incompreen­sível para quem tem a vida facilitada por uma maioria absoluta.

O problema é que não são apenas as polémicas que contribuem para este diagnóstic­o. A elas juntam-se sinais de inação política que esta minirremod­elação não irá conseguir resolver.

A remodelaçã­o mínima feita por Costa não resolve os sinais de inação política.

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