A maldição ao contrário
Já ouviu falar da maldição da Horta Seca? Na verdade, trata-se de um anátema recente segundo o qual nenhum ministro da Economia nomeado na categoria de independente fica até ao final do mandato do palácio da Horta Seca, edifício que alberga este ministério. Exemplos? Aconteceu com Daniel Bessa e Augusto Mateus nos governos de Guterres, com Caldeira Cabral, no primeiro executivo de Costa, e até Manuel Pinho saiu antes de tempo do governo de Sócrates devido a dois dedos indicadores colocados nas fontes e apontados na direção de um deputado. No último elenco de António Costa, Pedro Siza Vieira cumpriu o mandato até ao fim, mas aí a juntar-lhe ao título de ministro da Economia possuía o estatuto de Adjunto.
Neste Governo, a maioria dos analistas considerava que a profecia se iria materializar de novo com a saída de António Costa Silva da Horta Seca, fragilizado pelo percalço do IRC, de desacertos com as Finanças e de algum desconforto da parte dos parceiros sociais.
Só que António Costa reescreveu a maldição e, em vez de demitir o ministro, afastou os dois secretários de Estado que tinham contrariado António
Costa Silva na questão do IRC, o da Economia, João Neves, e a do Turismo, Rita Marques.
Desta forma, o titular da pasta da Economia saiu mediaticamente reforçado embora ainda falte saber se os dois novos secretários de Estado, o da Economia, Pedro Cilínio (quadro do IAPMEI), e o do Turismo, Nuno Cardona de Almeida (deputado do PS eleito por Castelo Branco), foram escolhas suas.
Além de colocar uma pressão adicional a António Costa Silva, a minirremodelação efetuada por António Costa, que promoveu a seu Adjunto o até agora secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, transmite um efeito de desgaste extemporâneo. Este Executivo mostra uma erosão acelerada e incompreensível para quem tem a vida facilitada por uma maioria absoluta.
O problema é que não são apenas as polémicas que contribuem para este diagnóstico. A elas juntam-se sinais de inação política que esta minirremodelação não irá conseguir resolver.
A remodelação mínima feita por Costa não resolve os sinais de inação política.