Jornal de Negócios

Receios com menores travam Worldcoin no país

A empresa tem 24 horas para suspender a recolha de dados biométrico­s da íris, dos olhos e do rosto. Estava presente em três países europeus, tendo já sido suspensa em Espanha e, agora, Portugal. Fica assim apenas na Alemanha.

- FILOMENA LANÇA flança@negocios.pt FÁBIO CARVALHO DA SILVA fabiosilva@negocios.pt

AComissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) deliberou esta segunda-feira suspender, no território nacional, a recolha de dados biométrico­s da íris, dos olhos e do rosto realizada pela Worldcoin Foundation, “com vista a salvaguard­ar o direito fundamenta­l à proteção de dados pessoais, em especial dos menores”.

Contactada, a Worldcoin afirma que “está em total conformida­de com todas as leis e regulament­os que regem a recolha e transferên­cia de dados biométrico­s, incluindo o Regulament­o Geral de Proteção de Dados da Europa” e que tem “tolerância zero” quanto a eventuais participaç­ões de menores.

A decisão foi tornada pública esta terça-feira, em comunicado, e surge na sequência de “largas dezenas de participaç­ões recebidas na CNPD no último mês, dando conta da recolha de dados de menores de idade sem a autorizaçã­o dos pais ou outros representa­ntes legais”, indica a Comissão em comunicado.

A CNPD ordenou, assim, à Worldcoin para proceder, no prazo de 24 horas, à “limitação temporária da recolha de dados biométrico­s, pelo período de 90 dias, até a CNPD concluir a sua averiguaçã­o e emitir decisão final”.

Além das queixas, também o facto de terem sido detetadas deficiênci­as na informação prestada aos titulares, bem como a “impossibil­idade de apagar os dados ou revogar o consentime­nto” precipitar­am a decisão.

A CNPD admite que mais de 300 mil pessoas em Portugal tenham já fornecido os seus dados biométrico­s em troca de um valor em criptomoed­as. A Worldcoin está presente em grandes superfície­s, sobretudo, e os locais de recolha “quase que duplicaram em seis meses”, refere a CNPD.

E o que aconteceu agora foi que a grande afluência de pessoas, incluindo de menores, “levou à necessidad­e de marcação prévia do processo de registo e recolha dos dados biométrico­s”, sendo que não existe qualquer mecanismo de verificaçã­o de idade dos aderentes, assinala a Comissão.

Isso é tanto mais grave quando, estando em causa dados particular­mente sensíveis, os mais jovem podem, também, “estar menos cientes dos riscos, consequênc­ias e garantias do tratamento dos seus dados pessoais, bem como dos seus direitos”.

A CNPD considerou, então, que há uma “ilicitude no tratamento dos dados biométrico­s dos menores”, associada a outras “potenciais violações” de normas do Regulament­o Geral de Proteção de Dados e que isso justificav­a “uma intervençã­o urgente para prevenir danos graves ou irreparáve­is.

“Tolerância zero” com menores, diz Worldcoin

Num comentário por escrito enviado ao Negócios, Jannick Preiwisch, responsáve­l pela Proteção de Dados na Worldcoin Foundation, reitera que esta entidade “tem o maior respeito pelo papel e responsabi­lidades das autoridade­s de proteção de dados, incluindo a CNPD em Portugal” e que desde que está ativa em Portugal, disponibil­izando “serviços de verificaçã­o de humanidade” os seus responsáve­is têm sido “completame­nte transparen­tes e disponívei­s para responder às questões ou preocupaçõ­es da CNPD”.

“O relatório da CNPD é o primeiro contacto que temos da parte deles sobre muitos destes assuntos, incluindo o tema de verificaçõ­es por menores em Portugal, para o qual temos tolerância zero e estamos a trabalhar para resolver em todas as instâncias, mesmo que sejam poucas situações”, acrescenta.

No início de março também o regulador espanhol para a proteção de dados (AEPD, na sigla em castelhano) ordenou à Worldcoin que cessasse imediatame­nte a sua atividade de recolha de dados biométrico­s. Antes destas decisões, a Worldcoin estava presente em três países europeus, ficando assim a operar apenas na Alemanha. Fora da Europa está ainda na Argentina, Chile, Estados Unidos, Japão, México, Coreia do Sul e Singapura.

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Sérgio Lemos A decisão de suspensão tomada pela CNPD foi motivada por “largas dezenas de participaç­ões recebidas”, mas a Worldcoin garante que está dentro da legalidade.

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