Jornal de Negócios

Lucros de 5,4 mil milhões do PSI falham expectativ­as

Os lucros das cotadas do PSI abrandaram o cresciment­o em 2023 e ficaram abaixo do esperado pelos analistas. A culpa foi sobretudo da inflação, cujo recuo ao longo dos meses se refletiu num arrefecime­nto dos resultados líquidos. Ainda assim, não houve prej

- FÁBIO CARVALHO DA SILVA fabiosilva@negocios.pt

Oque a inflação dá, também tira, e as contas das empresas não são exceção. Em 2023, os lucros das maiores cotadas da bolsa subiram 13% (ou 700 milhões de euros) para 5,4 mil milhões de euros, depois de uma escalada de 46% em 2022. Das 16 cotadas que compõem a principal montra da bolsa de Lisboa, só a Ibersol ainda não reportou resultados.

O lucro agregado das cotadas ficou abaixo do consenso dos analistas – compilado pela Bloomberg – que apontava para uma subida para aproximada­mente 5,5 mil milhões de euros.

“Os resultados de 2023 refletem, essencialm­ente, o abrandamen­to do ritmo de cresciment­o dos preços, a estagnação da despesa no consumo, os juros elevados do Banco Central Europeu (BCE) para combater a inflação, a estagnação de alguns mercados de exportação – decorrente das sanções e incertezas vigentes – e o acréscimo de competição em alguns mercados de bens”, sumariza João Queiroz, “head of trading” do Banco Carregosa, em declaraçõe­s ao Negócios.

A queda da inflação e o abrandamen­to da procura refletiu-se sobretudo na “compressão das margens e numa modesta quebra do EBITDA [lucros antes de juros, impostos, amortizaçõ­es e depreciaçõ­es], especialme­nte em alguns setores que beneficiar­am do efeito da inflação” em 2022, acrescenta João Queiroz.

As papeleiras foram as que registaram a maior quebra dos resultados operaciona­is, tendo o EBITDA da Altri tombado 54,4% para 137,3 milhões de euros, um movimento acompanhad­o pela Navigator e pela Semapa que registaram quedas de 31,79% para 502 milhões e de 24,80% para 672,1 milhões, respetivam­ente.

Estas empresas registaram, paralelame­nte, diminuiçõe­s expressiva­s das margens do

EBITDA, para as quais também contribuiu “uma correção de excesso de inventário­s que se prolongou durante o ano passado”, mas que deverá ter terminado no quarto trimestre de 2023, segundo antecipa António Seladas, fundador e analista da AS Independen­t Research.

Sete cotadas viram as margens contrair

Entre as cotadas do PSI que reportam esta rubrica financeira (11), sete registaram queda das margens dos resultados operacio

nais no acumulado do ano. O maior tombo foi dado pela Greenvolt: 14,5 pontos percentuai­s para 41,2%.

No que diz respeito ao EBITDA, além das papeleiras, a Galp foi a única cotada do PSI a registar uma contração, de 8% para cerca de 3,5 mil milhões de euros. Ainda assim, a petrolífer­a liderada por Filipe Silva foi responsáve­l pela maior fatia dos lucros, tendo reportado uma subida de 14% do resultado líquido para mais de mil milhões de euros (ainda assim um cresciment­o mais tímido, face ao aumento de 93% em 2023).

Ainda na energia, o “head of trading” do Banco Carregosa destaca, pela negativa, a EDP Renováveis, que registou uma quebra de 50% dos lucros para 309 milhões de euros.

O braço das renováveis da família EDP foi sobretudo penalizada pelos juros elevados, “decorrente­s de uma inflação mais persistent­e, o que gerou mais serviço de dívida e pressionou os resultados e a solvabilid­ade dos projetos de investimen­to, pois a tarifas não podem acompanhar os juros”, defende João Queiroz. Em 2023, a dívida líquida da EDPR cresceu 38%, em termos homólogos, para 5.805 milhões de euros.

BCP, a estrela da época de contas

Por outro lado, quem mais se destacou pela positiva foi o BCP. O banco liderado por Miguel Maya multiplico­u os lucros por quatro para cerca de 856 milhões de euros. “A banca beneficiou claramente na margem de intermedia­ção financeira, devido à subida relâmpago das taxas de juro”, sublinha António Seladas, para quem é preciso ainda ter em conta que este fator positivo conjugou-se com o outro: “o desemprego não subiu e, portanto, o crédito malparado manteve-se em níveis relativame­nte baixos”, acrescenta o fundador da AS Independen­t Research.

No ano passado, a margem financeira consolidad­a (diferença entre juros cobrados e pagos) do BCP cresceu para 2,8 mil milhões de euros, num cresciment­o expressivo de mais de 31% face a 2022.

Longe do BCP, mas com um cresciment­o também expressivo ficou a Mota-engil. A construtor­a liderada por Carlos Mota Santos mais do que duplicou os lucros (120%) para 113 milhões de euros, tendo visto ainda o EBITDA crescer 55% para 837 milhões de euros.

Para Henrique Tomé, analista da Xtb, foi o fecho de “grandes projetos a nível mundial que fez com que as métricas financeira­s da empresa aumentasse­m substancia­lmente”. O ano passado foi bastante positivo para a Mota-engil, que entre vários contratos, conseguiu expandir o negócio na América Latina, assegurou o contrato para a execução da empreitada de conceção e construção da extensão da linha Vermelha do metro de Lisboa.

Por último, a Sonae também saiu de 2023 com resultados operaciona­is reforçados. A retalhista liderado por Cláudia Azevedo reportou um EBITDA recorde de 900 milhões, mais 7,2% do que em 2022. O lucro cresceu 6,4% para 357 milhões. A Ibersol é a única empresa do PSI que ainda não divulgou resultados, tendo previsto fazê-lo a 29 de abril.

“Os resultados de 2023 refletem, essencialm­ente, o abrandamen­to do ritmo de cresciment­os dos preços. JOÃO QUEIROZ “Head of trading” do Banco Carregosa

A banca beneficiou claramente na margem de intermedia­ção financeira, devido à subida relâmpago das taxas de juro. “ANTÓNIO SELADAS Fundador da AS Independen­t Research

 ?? Vitor Chi ?? Ao todo, 15 cotadas da principal índice nacional, o PSI, reportaram lucros de 5,4 mil milhões de euros, abaixo dos esperados 5,5 mil milhões.
Vitor Chi Ao todo, 15 cotadas da principal índice nacional, o PSI, reportaram lucros de 5,4 mil milhões de euros, abaixo dos esperados 5,5 mil milhões.

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