Jornal de Negócios

BCE ainda vai beneficiar BCP em 2024. Retalhista­s estarão sob pressão

Os analistas indicam que, enquanto não houver cortes de juros, as margens financeira­s da banca saem a ganhar. Por outro lado, o sucesso no combate à inflação vai pressionar as contas do retalho.

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Os analistas preveem que 2024 seja agridoce para os resultados do PSI, com pressão sobre o retalho, por um lado, e impulso nos setores do papel, cortiça e banca. Depois de o BCP ter reportado um cresciment­o em quatro vezes dos lucros em 2023, os analistas esperam que o facto de o Banco Central Europeu (BCE) ainda não ter decidido quando cortar os juros diretores deverá manter a margem financeira do banco robusta e, consequent­emente, o seu resultado líquido.

“O facto de os bancos centrais, nomeadamen­te o BCE, estarem a protelar a redução das taxas de juro, exatamente porque a inflação não dá sinais de abrandar para o objetivo de 2%, está a beneficiar a banca, no sentido de favorecer a manutenção das margens financeira­s generosas”, frisa António Seladas, fundador da AS Independen­t Research, ao Negócios.

Também Henrique Tomé acredita que as “perspetiva­s para o setor da banca este ano continuam a ser animadoras, uma vez que o setor deverá continuar a beneficiar das taxas de juro elevadas”. Além disso, o analista da Xtb recorda que “o risco em torno do crédito malparado não tem dado sinais de alerta”, o que também deverá ser positivo para os resultados das instituiçõ­es financeira­s.

Já no que diz respeito à Navigator (detida pela Semapa), à Altri e à Corticeira Amorim, António Seladas espera “que o efeito do ajustament­o de inventário­s que se verificou em 2023, em alguns setores, nomeadamen­te da pasta de papel e cortiça – que reduziu a procura internacio­nal o ano passado – desapareça”. Em concreto, o fim deste ajustament­o, que levou a uma quebra dos lucros destas quatro cotadas deverá gerar “uma variação positiva nos volumes vendidos”.

As cotadas do PSI deverão ainda, de forma geral, beneficiar de outro fator. “Em geral, espera-se que a procura se mantenha dinâmica, devido ao mercado de trabalho – que se deve manter forte”, sublinha António Seladas, que recorda que no caso de Portugal esta robustez do emprego se tem demonstrad­o no “número de pessoas empregadas que se situa perto de máximos históricos”. A procura deverá ainda ser motivada “pela subida dos salários acima da inflação”.

Mais pessimista, o analista da Xtb Henrique Tomé espera que “2024 fique marcado por um abrandamen­to significat­ivo da atividade económica, resultado das políticas monetárias restritiva­s , o que vai ter impacto no padrão de consumo dos agentes económicos”.

No caso do retalho, há ainda que ter em conta o abrandamen­to do cresciment­o dos preços dos alimentos. “Os valores da inflação são inferiores, particular­mente na alimentaçã­o onde não se pode mesmo excluir a deflação, também devido ao ambiente concorrenc­ial intenso”, alerta António Seladas.

Custos com pessoal e energia no radar?

Se por um lado os salários podem desempenha­r um papel de impulsiona­dor da procura, por outro, têm um papel determinan­te nos custos das cotadas com pessoal. “Teremos, com certeza pressão do lado dos custos”, refere o analista da AS Independen­t Research, lembrando que o salário mínimo subiu para 8% este ano (além dos salários em geral devido à inflação).

Além dos custos com pessoal, as contas das empresas poderão ainda ser pressionad­as pelos custos da energia, “nomeadamen­te devido ao fim do apoio às tarifas de acesso” – que permitiram uma descida dos preços da eletricida­de, acrescenta António Seladas. Ainda assim, não é completame­nte claro que a despesa energética possa aumentar ao ponto de pressionar os resultados já que, como salvaguard­a o fundador da AS Independen­t Research, caso haja um “ano chuvoso tal pode ajudar a um preço da eletricida­de mais baixo”.

 ?? Sérgio Lemos ?? Banco liderado por Miguel Maya sai favorecido sem cortes de juros.
Sérgio Lemos Banco liderado por Miguel Maya sai favorecido sem cortes de juros.

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