Jornal de Negócios

Parte dos lucros das cotadas do PSI que vai para dividendos volta a cair

O rácio de distribuiç­ão de resultados líquidos da principal montra da bolsa de Lisboa recuou para 47,97%, mantendo a tendência que se tem observado nos últimos anos. Por outro lado, o montante total que irá para os acionistas vai bater um novo recorde, ao

- FÁBIO CARVALHO DA SILVA fabiosilva@negocios.pt

Os dividendos do PSI vão voltar a subir. Ao todo, 12 cotadas vão distribuir cerca de 2,6 mil milhões de euros aos acionistas, acima dos 2,4 mil milhões do ano passado e um novo recorde, tendo sido o último batido em 2021, quando as empresas da principal montra da bolsa de Lisboa entregaram aos titulares do capital social cerca de 2,5 mil milhões, de acordo com os cálculos do Negócios, tendo por base os relatórios e contas e comunicado­s ao mercado das cotadas.

Ainda assim, o rácio de distribuiç­ão dos resultados líquidos – “payout” – manteve a tendência negativa dos últimos anos, já que as empresas propõem-se a distribuir 47,97% dos lucros alcançados em 2023, abaixo da proporção de 51% do ano passado ou de 71% em 2021.

Estes aumentos dos dividendos refletem “restrutura­ções, desinvesti­mentos, aquisições ou expansões estratégic­as que influencia­ram os balanços e fluxos de caixa das empresas”, defende João Queiroz, “head of trading” do Banco Carregosa, em declaraçõe­s ao Negócios.

A subida – esperada pelos analistas – do agregado da remuneraçã­o acionista teve sobretudo o contributo de sete cotadas que reforçaram os dividendos referentes ao último exercício, face a 2022.

Das 12 que vão remunerar os acionistas, duas vão manter, enquanto a Semapa e Navigator decidiram cortar os dividendos em cerca de 30%, depois de um ano marcado pela quebra dos lucros.

A ajudar o total esteve também o regresso do BCP. O banco tinha optado no ano passado por ser mais cauteloso, mas agora (depois de ter quadruplic­ado os lucros de 2023) quer distribuir 30% dos resultados, o que correspond­e a cerca de 0,01 euros por ação. Esta decisão do banco liderado por Miguel Maya surge depois de a instituiçã­o financeira ter “encontrado a estabiliza­ção da operação na Polónia”, sugere João Queiroz. Depois do prejuízo de 2022, o Bank Millennium – detido em 50,1% pelo BCP – contabiliz­ou, em 2023, lucros de 576 milhões de zlótis, o equivalent­e a 126,8 milhões de euros, ao câmbio atual.

Além do banco, em destaque esteve igualmente a Nos, que decidiu distribuir praticamen­te todos os lucros pelos acionistas (99,6%). A empresa de telecomuni­cações mantém-se, pelo terceiro ano consecutiv­o, como a cotada com maior rendibilid­ade de dividendos por ação do PSI, apresentan­do uma “dividend yield” de 10,63%.

No outro extremo da tabela está a Mota-engil com uma rendibilid­ade da remuneraçã­o por

O montante total de dividendos a entregar aos acionistas bateu um recorde.

ação de 2,2%, metade da “dividend yield” média do PSI (5,1%).

EDPR mantém dividendo flexível

Nos dividendos há quem prefira uma política a longo prazo, que pode significar – como faz a Galp Energia – a aplicação de um padrão que garanta o cresciment­o do montante a pagar a uma taxa constante.

Outras empresas preferem mesmo manter o montante do dividendo. É o caso da Corticeira Amorim, com um dividendo de 0,20 euros e da REN (0,154 eu

ros). A energética paga este dividendo em duas tranches. A primeira já foi desembolsa­da em dezembro e agora os investidor­es vão receber o que falta: 0,09 euros. Para a empresa liderada por Rodrigo Costa, pagar um dividendo robusto é estratégic­o para reter acionistas, “atendendo que a variação da cotação não é propícia a ganhos”, sublinha o “head of trading” do Banco Carregosa.

Se há quem opte por uma política constante de dividendos, há outras cotadas mais criativas, como a EDP Renováveis. Pelo segundo ano, vai propor uma remu

neração flexível, em vez de entregar dinheiro aos acionistas. O “scrip dividend” traduz-se em atribuir aos acionistas que optem por esta modalidade direitos de incorporaç­ão que serão admitidos à negociação na Euronext Lisbon.

Depois há mesmo quem reduza o valor do dividendo ou opte por não distribuir. Este ano, a Altri não vai entregar qualquer tipo de remuneraçã­o acionista (depois de no ano passado ter pago 0,25 euros por ação). A Greenvolt segue o mesmo caminho, numa altura em que está a ser alvo de uma oferta pública de aquisição (OPA).

 ?? Miguel Baltazar ?? A EDP Renováveis, liderada por Miguel Stilwell d’andrade, optou por repetir a estratégia do ano passado e apostar num dividendo flexível.
Miguel Baltazar A EDP Renováveis, liderada por Miguel Stilwell d’andrade, optou por repetir a estratégia do ano passado e apostar num dividendo flexível.

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