Remunerar é arma na luta por pequenos acionistas
A “dividend yield” média do PSI está próxima das taxas de referência dos bancos centrais, um sinal de que as cotadas estão a tentar ser mais atrativas do que depósitos ou dívida.
Fonte: Relatórios das empresas
A manutenção dos juros diretores em terreno restritivo na Zona Euro levou a um aumento das remunerações pagas pelos depósitos e pela dívida, colocando um desafio às cotadas do mercado acionista que têm de competir com a rendibilidade dos instrumentos de aforro. E as empresas do PSI não são exceção, tendo de se esforçar mais para ser atrativas aos pequenos investidores.
O aumento de mais de 10% para aproximadamente 2,6 mil milhões de euros do montante total dos dividendos que serão entregues aos acionistas são sintoma desta competição. “A atratividade face às remunerações de produtos tradicionais ,como as aplicações a prazo da banca e os produtos de aforro do Estado, motivam as equipas de gestão das cotadas a ponderar a dimensão destes aumentos”, explica João Queiroz, “head of trading” do Banco Carregosa.
Assim, “as propostas parecem equilibradas e aproximam-se das taxa de juro de referência do Banco Central Europeu (BCE) e da Reserva Federal (Fed) norte-americana”, acrescenta o gestor.
Atualmente, na Zona Euro, a taxa de depósitos está em máximos de sempre (4%), a aplicável às operações principais de refinanciamento em 4,5% e a de cedência de liquidez em 4,75%. Já a taxa dos fundos federais nos EUA está fixada num intervalo entre 5,25% e 5,5%.
Por sua vez, a “dividend yield” média das 12 cotadas que vão distribuir dividendos este anos cifra-se em 5,1%, de acordo com os cálculos do Negócios, tendo por base os relatórios e contas e as cotações de fecho de ações das empresas que com
põem o índice.
Apesar de considerar que estes dividendos de “forma geral são generosos”, António Seladas, analista e fundador da AS Independent Research, é crítico: “são próprios de empresas com perspetivas de crescimento limitadas” .
Não há sinais de gastos excessivos com acionistas
Atualmente o “payout” e, portanto, o rácio de distribuição entre lucros e montante total dos dividendos do PSI é de 47,97%, havendo cotadas com rácios acima desta fasquia e até a entregar aos acionistas a quase totalidade dos lucros.
Do outro lado, abaixo desta linha de “payout” do PSI, a Semapa é a que entrega a menor
fatia do resultado líquido aos titulares do capital social (20%).
Olhando para os indicadores, contas e montantes a distribuir, João Queiroz acredita que “no atual contexto não existem indícios que sugiram que as cotadas não estão a reter o necessário capital para investir no crescimento futuro ou que estejam a potencialmente sacrificar investimentos a longo prazo em detrimento de retornos de curto prazo aos acionistas”.
Isto porque, “as empresas encontram-se capitalizadas e com planos de investimento saudáveis, que a prazo devem oferecer remunerações atrativas, obedecendo a planos de investimento que provaram maiores capitalizações” em bolsa, refere João Queiroz.
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