O dia em que o Chega bloqueou o Parlamento
Havia acordo, mas, à última hora, o Chega roeu a corda e fez cair o nome de Aguiar-Branco para presidir a AR. Parlamento recebeu os eleitos das últimas legislativas com um dia longo de trabalho.
Aeleição para a mesa da Assembleia da República (AR) parecia definida: André Ventura tinha anunciado, na segunda-feira, que havia acordo com o PSD para, em troca da eleição de Diogo Pacheco de Amorim para a vice-presidência da AR, votar a favor e fazer aprovar o nome de José Pedro Aguiar-branco, do PSD, para presidir o Parlamento. Na hora de votar, o Chega recuou impedindo a eleição do deputado social-democrata, que recebeu apenas 89 votos favoráveis, aquém dos 116 necessários para reunir maioria. Francisco Assis, Aguiar-branco e Manuela Tender foram os novos nomes para uma votação já para lá do fecho desta edição, mas da qual não se prevê uma resolução simples do impasse.
Depois do chumbo surpresa do nome apresentado pelo PSD, André Ventura apressou-se a falar aos jornalistas para criticar a postura da AD na manhã desta terça-feira ao negar, através de uma entrevista de Nuno Melo à SIC Notícias, o acordo feito entre os dois partidos, mas garantiu que não houve indicação nenhuma para chumbar o nome de Aguiar-branco.
A candidatura do PSD reuniu 141 votos brancos ou nulos, uma soma impossível de concretizar sem contabilizar o número de deputados do Chega – partindo do pressuposto que o PSD votou a favor do próprio candidato. Sem o partido de Ventura e o PSD, sobram apenas 102 deputados dos restantes partidos e Iniciativa Liberal e CDS anunciaram que votaram a favor, o que baixa o número para 92. Ficam a faltar, nestas contas, 49 deputados para somar os exatos 141 que não votaram em Aguiar-branco, um número a menos dos 50 deputados eleitos pelo Chega.
PS e Chega avançam
Tudo ficou adiado para a noite desta terça-feira. António Filipe, que presidiu aos trabalhos, anunciou que os partidos deveriam indicar os seus candidatos até às 20:00 e a votação ficou agendada para as 21:00. Ainda antes da hora marcada, PSD, PS e Chega trouxeram novidades a este alvoroço e o socialista Francisco Assis e Manuela Tender, do Chega, também foram a votos.
A votação não fechou até ao fecho desta edição, mas com a necessidade de haver, no mínimo, 116 votos para eleger o novo Presidente da AR e com os três maiores partidos a apresentarem candidatos, não é muito o otimismo em relação ao desfecho desta votação. Até ao fecho da edição, apenas o Bloco de Esquerda e Livre revelaram o seu apoio a Assis.
De acordo com o regimento, se nenhum candidato obtiver maioria absoluta, procede-se a um imediato segundo sufrágio ao qual concorrem os dois candidatos mais votados. No caso de ninguém ser eleito – mesmo se na segunda votação houver mais votos brancos e nulos do que em qualquer um dos candidatos – o processo volta ao início.
Iniciativa Liberal não vai para o Governo
Antes de toda esta agitação parlamentar, a Iniciativa Liberal fez questão de esclarecer cedo uma das principais questões que prometia marcar o dia. Em comunicado, os liberais informaram que, por enquanto, não haverá “entendimentos alargados” para a formação de um novo Governo, ou seja, não teriam elementos no novo Executivo. O líder do partido, Rui Rocha, explicou que as duas forças “não convergiram o suficiente para haver um entendimento”, mas não detalhou as divergências.
As negociações, garantiu Rui Rocha, desenrolaram-se “num clima de abertura, de respeito e de boa-fé” e que, apesar de se registar “pontos de contacto”, os partidos têm “prioridades diferentes”. Sociais-democratas e liberais, garantiu o presidente da IL, vão manter o diálogo, uma “prova de sentido de responsabilidade dos dois partidos”, defendeu.
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