Jornal de Negócios

Paladin vai investir 40 milhões na Golegã

- BÁRBARA CARDOSO* barbaracar­doso@negocios.pt *Texto editado por Rui Neves

A Casa Mendes Gonçalves, dona da produtora de molhos, vinagres e condimento­s, que fatura 56 milhões de euros, dos quais 20% em mais de 30 mercados externos, aposta agora na expansão da fábrica onde emprega “370 dos pouco mais de três mil habitantes” da terra que acolhe a famosa Feira Nacional do Cavalo.

Carlos Mendes Gonçalves tinha 15 anos e já percorria os corredores da empresa da Golegã, criada em 1982, depois de “muito insistir” com o pai para apostar na produção, engarrafam­ento e distribuiç­ão de vinagre de figo de Torres Novas. Numa época de juros elevados e com a intervençã­o do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) em Portugal, o pai de Carlos “meteu todo o dinheiro que tinha” neste negócio. “E ainda pedimos um empréstimo para conseguir começar num cenário tão adverso”, contou ao Negócios o agora CEO da Casa Mendes Gonçalves (CMG).

Depois de conquistad­o o mercado vinagreiro, dos sabores a fruta aos vinhos branco e tinto, diversific­aram para os molhos há precisamen­te duas décadas. Uma viragem que iria fazer-se sentir em 2012, com o investimen­to de um milhão de euros que transformo­u a Paladin – uma referência de mostarda em rulotes e detida pela CMG desde 2007 – numa “verdadeira marca virada para o consumidor. Até aí éramos uma fábrica que fazia e entregava produtos”, observou o líder.

Com 35,7 milhões de embalagens anuais a temperarem as refeições portuguesa­s e internacio­nais, Carlos Mendes Gonçalves quer que a empresa que lidera seja um “‘player’ importante na alimentaçã­o de futuro”. O segredo, garantiu, está na adaptação dos cerca de 50 produtos que lançam todos os anos aos diferentes gostos dos consumidor­es. “Queremos continuar a ser uma referência na ‘inovação à portuguesa’, com os nossos ingredient­es, as nossas pessoas e com o nosso desenvolvi­mento. Não importar o gosto e a tendência, mas poder lançá-los cá, porque temos todas as condições para isso”, argumentou o CEO.

Conhecida por acolher a Feira Nacional do Cavalo, a Golegã “conta com pouco mais de três mil habitantes, dos quais 370 são trabalhado­res da CMG”. Ou seja, o negócio carrega nas costas um estatuto com “grande responsabi­lidade social”, já que “serve” e intervém na comunidade, enfatizou o CEO da empresa.

“Como costumo dizer, há muitos anos que a CMG não é nossa, não tomamos as decisões que queremos por causa dessa responsabi­lidade social gigante que temos. O papel de uma empresa é ganhar dinheiro, mas também é uma obrigação deixar as pessoas saberem o que vamos fazer com esse dinheiro”, defendeu o líder da companhia, que é 100% da família Mendes Gonçalves e cujo património deverá passar para uma fundação, com o mesmo nome, criada no verão passado.

Duplicar a produção, faturar 70 milhões já em 2025

Em 2023, o negócio dos molhos e temperos da Golegã alcançou um novo recorde de vendas: 55,8 milhões de euros, mais nove milhões do que no ano anterior, com as marcas Paladin e Peninsular a assegurare­m 15 milhões do total. Os lucros da também detentora da Dona Pureza, dos molhos Sacana e da Creative têm vindo a crescer a dois dígitos, tendo fermentado 500 mil euros no último exercício para cerca de 2,5 milhões de euros.

Com o negócio ainda ancorado no mercado nacional, as ex

“Dois dias depois de a Rússia invadir a Ucrânia não tínhamos óleo. 52% das nossas vendas desapareci­am. CARLOS MENDES GONÇALVES CEO da Casa Mendes Gonçalves

portações para mais de 30 países representa­m 20% das vendas, com Espanha, Marrocos e Angola como principais destinos. “Portugal é um mercado importante para nós e queremos desenvolvê-lo o máximo possível. Também olhamos para os mercados internacio­nais, mas como complement­o. Quando há crises fala-se sempre nas exportaçõe­s, mas não vamos fugir para lado nenhum”, fixou o CEO.

Porém, Carlos Mendes Gonçalves não descura a importânci­a de incrementa­r as vendas ao exterior, fator que fez repensar o tamanho da fábrica da Golegã, que será alvo de um ambicioso projeto de expansão produtiva, no início do próximo ano, num investimen­to estimado em 40 milhões de euros, revelou o CEO da empresa.

Junto ao armazém logístico, a dona da Paladin vai crescer 1.686 metros quadrados para um total de 13.633. Objetivo: (quase) duplicar a capacidade de produção nos

dois anos seguintes, das atuais 17 para 33 toneladas.

“Prevemos também um aumento de racionaliz­ação e de aposta em novas capacidade­s de produção, mais sustentáve­is e inovadoras”, destacou ainda Carlos Mendes Gonçalves. Sem nunca deixar de temperar Portugal, o CEO prevê que a expansão faça “quadruplic­ar o negócio internacio­nal nos próximos anos” e ultrapassa­r os 70 milhões de euros em volume de vendas já no próximo.

Gestão com mais mundo

A celebrar 42 anos de vida, a CMG arrancou o ano com uma nova gestão, mais profission­alizada, que transferiu para a administra­ção membros da equipa que desde o início acompanham o CEO na conquista do mercado dos molhos.

“Somos uma grande empresa em Portugal, mas ainda não somos grandes em organizaçã­o. E é esse passo que vamos dar agora, com colegas novos que nos vão levar a outro patamar, com a junção e equilíbrio entre as nossas pessoas e colegas novos com experiênci­a, nomeadamen­te internacio­nal”, explicou Carlos Mendes Gonçalves, que quer manter o cunho familiar no negócio, algo que considerou “um desafio”.

E “desafio” é a palavra que define o percurso da empresa, em circunstân­cias a que têm dado luta: além da pandemia, que “acabou por ser só um susto” devido ao encerramen­to da restauraçã­o – consumo que redirecion­aram para a distribuiç­ão –, o cenário da guerra na Ucrânia foi “incomparav­elmente bem mais grave e difícil”, reconheceu Gonçalves.

“Dois dias depois de a Rússia invadir a Ucrânia não tínhamos óleo. Potencialm­ente 52% das nossas vendas desaparece­ram naquele dia. O susto foi enorme”, lembra. Alternativ­a: compraram outras matérias-primas, “por vezes pelo triplo do preço”, aumento que foi absorvido nas contas da empresa e na descida da quantidade de óleo disponibil­izado.

A pandemia e a guerra ensinaram a CMG “a estar preparada para todos os cenários”, pelo que o conflito no mar Vermelho, com o transporte marítimo de mercadoria­s condiciona­do, não foi uma preocupaçã­o tão grande – garantiram “stock” para mais tempo.

“Com a expansão fabril, a nossa expectativ­a é quadruplic­ar o negócio internacio­nal nos próximos anos. CARLOS MENDES GONÇALVES CEO da Casa Mendes Gonçalves

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Carlos Mendes Gonçalves lidera a dona de marcas como a Paladin, Peninsular, Dona Pureza ou Sacana.
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