Jornal de Negócios

Só a Douro Litoral pediu até agora compensaçã­o pela covid-19

O ainda secretário de Estado das Infraestru­turas adiantou que o Governo “decidiu não criar uma comissão de negociação” com a concession­ária que está neste momento em processo de venda e que “o Estado está a preparar a sua defesa para ir para arbitragem”.

- MARIA JOÃO BABO mbabo@negocios.pt

Só uma concession­ária de autoestrad­as em Portugal formalizou até agora um pedido de reposição do equilíbrio financeiro do contrato por causa do impacto que as medidas decretadas pelo Governo em 2020 e 2021 para travar a propagação da covid-19 tiveram nas suas receitas. Ao Negócios, o secretário de Estado das Infraestru­turas cessante, Frederico Francisco, adiantou que o pedido formal foi apresentad­o pela Autoestrad­as do Douro Litoral (AEDL) – detida pelos fundos liderados pelo Strategic Value Partners (SVP) –, que reclama uma extensão do prazo da concessão por mais de três anos para compensar as perdas que alega ter sofrido.

“Até agora várias concession­árias anunciaram a intenção de o fazer, mas formalment­e ainda só uma é que apresentou o pedido”, sublinhou Frederico Francisco, adiantando que a decisão do Governo que agora cessa funções “foi a de não avançar para a criação de uma comissão de negociação”. “O Estado está a preparar a sua defesa para ir para arbitragem”, frisou, admitindo que o pedido da AEDL esteja relacionad­o com o facto de estar neste momento a decorrer o seu processo de venda.

Como o Negócios avançou em fevereiro, os fundos que detêm a Douro Litoral contratara­m a Goldman Sachs e a Natixis para levarem a cabo contactos com potenciais investidor­es, com o objetivo de concluir durante o próximo verão a venda da concession­ária que gere as autoestrad­as A43, A41 e A32, na Área Metropolit­ana do Porto. Tendo em conta que as transações mais recentes na Europa no setor das autoestrad­as com portagens foram feitas por valores de 12 a 15 vezes o EBITDA, e sendo o EBITDA esperado para a AEDL em 2024 de mais de 35 milhões de euros, a expectativ­a é de uma avaliação da concession­ária liderada por Gonçalo Reis de mais de 400 milhões de euros. Um valor que os fundos acreditam que possa ser ainda mais elevado porque, entre outros motivos, a AEDL pode vir a beneficiar de uma extensão do prazo da concessão de alguns anos pela queda das receitas durante a covid-19. No entanto, tendo o Governo de António Costa recusado ir para negociação, um processo de arbitragem irá demorar pelo menos mais de um ano a ser concluído.

A declaração de estado de emergência em março de 2020 conduziu desde logo a uma queda do tráfego no conjunto das autoestrad­as nacionais. Todas as concession­árias comunicara­m ao Estado a ocorrência de um caso de “força maior”, admitindo vir a pedir reequilíbr­ios financeiro­s pela queda das receitas provocada pela diminuição do tráfego. Na altura o Governo determinou que a haver lugar a compensaçõ­es às concession­árias só poderiam ser feitas pelo prolongame­nto do prazo da concessão, e não por pagamentos diretos do Estado.

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Ricardo Meireles Os fundos liderados pelo SVP querem concluir a venda da concession­ária que gere as autoestrad­as A43, A41 e A32 durante o verão.

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