Inteligência artificial: regulação e literacia
Ainteligência artificial (IA) está em todo o lado e a sua influência continuará a crescer. A adoção de IA está a acelerar e estima-se que o mercado global atinja os 190 mil milhões de $ até 2025. Até 2030, a tecnologia de IA irá adicionar 15,7 triliões de $ ao produto interno bruto (PIB) global. Quem dominar a IA, irá dominar o mundo.
A União Europeia (UE) pretende assumir um papel de destaque e tornar-se a primeira região do mundo a regulamentar a IA, desenvolvendo o denominado AI Act. Isto garante que em todos os países da União Europeia exista um nível consistente e elevado de proteção, visando uma IA fiável; uma ferramenta para as pessoas para aumentar o bem-estar humano. Mas esta estratégia tem criado uma sensação agridoce.
O CEO da Openai, Sam Altman, expressou apoio a algumas restrições sobre a IA e juntou-se a outros executivos de tecnologia num alerta sobre os riscos que esta representa para a humanidade. No entanto, também afirmou que “é um erro impor regulamentações pesadas ao campo agora”.
O impacto do AI Act para fortalecer a Europa no desenvolvimento de IA ainda não está claro. A União Europeia não é uma grande jogadora no desenvolvimento de IA de ponta e atualmente não abriga modelos de IA muito grandes, papel que é ocupado pelos EUA e pela China. Se outros países adotarem regulamentações semelhantes, isso irá nivelar o campo de jogo competitivo e enfraquecer os incentivos para os implementadores de IA contornarem os custos de conformidade regulatória e se mudarem para outro lugar. Além disso, um selo de confiança de Bruxelas pode tornar um modelo de IA mais atrativo e competitivo.
No entanto, a nova regulamentação apresenta lacunas que não oferecem certeza jurídica aos implementadores de IA. Além disso, gera altos custos de “compliance”, especialmente para PME e startups, que podem considerar o ambiente regulatório da UE muito dispendioso e arriscado, beneficiando, assim, as grandes empresas, principalmente as tecnológicas. A nova regulamentação não aborda eficazmente o problema dos monopólios de IA. A ameaça dos monopólios de IA ganhou destaque no mês passado, quando se tornou público que a startup francesa Mistral AI estava a colaborar com a Microsoft, que é também parceira da Openai.
Um excesso de ênfase apenas na regulamentação pode sufocar a inovação e impedir a concretização das capacidades completas da IA. O passado já mostrou à Europa que regulamentar o desenvolvimento tecnológico não é suficiente para torná-la um dos principais atores neste setor. A estratégia de IA europeia centra-se muito em apoiar startups, um modelo que pode ser contraproducente, uma vez que são as grandes empresas tecnológicas que estão a fazer investimentos massivos, porque a Europa continua a ter um modelo de empreendedorismo muito incipiente, principalmente em relação ao capital de risco.
O novo ato da EU enfatiza a promoção de literacia em IA para todos os setores, visando compreender o seu impacto nos empregos e na vida quotidiana e reconhecer as suas limitações. No desenvolvimento de uma estratégia de literacia em IA a nível nacional e europeu, surgem dois potenciais riscos: o primeiro está relacionado com o investimento, o que pode levar a Europa a avançar a ritmos diferentes. O segundo é ter em atenção quem serão as entidades responsáveis por desenvolver esta educação em IA. Deixar isso apenas nas mãos das empresas que desenvolvem os sistemas de IA é um erro, pois estas não são neutras, têm interesses relacionados com a venda ou subscrição destes produtos de IA e têm os seus próprios modelos e visão de IA.
Muito se tem falado do impacto da IA no mercado de trabalho e dos empregos que irão desaparecer, mas pouco se fala dos empregos e indústrias que serão criados pela IA. Embora as tecnologias sejam diferentes, já vivemos isso no passado com cada novo avanço tecnológico. Recomendo a leitura do artigo “Bogey of Technological Unemployment”, publicado na MIT Technology Review em 1938 por Karl Compton, presidente do MIT naquela época. Quanto ao desenvolvimento de especialistas em IA, Portugal pode já promover a educação e formação necessárias para os futuros profissionais nesta área. Isto implica uma rápida adaptação do sistema educativo português, com o desenvolvimento ágil de novos programas educativos, um sistema de acreditação eficiente para estes programas e a contratação de professores e investigadores especializados.
Embora a regulamentação seja crucial para governar as implicações éticas e sociais da IA, o investimento no desenvolvimento, pesquisa e literacia em IA é igualmente essencial. Ao encontrar um equilíbrio entre regulamentação, investimento e educação, podemos desbloquear o verdadeiro potencial da IA para criar valor para a sociedade. Abraçar uma abordagem equilibrada que combine regulamentação com investimento estratégico e programas robustos de literacia em IA é necessário para aproveitar o poder transformador da IA para benefício de todos.
■