Jornal de Negócios

Aprendam com o boletim de voto a mudar a burocracia do país

- DAVID BERNARDO Partner litsebusin­ess.com e professor de e-commerce e marketing digital na Nova SBE

Cheguei a Portugal dois dias antes para votar e para minha surpresa, ao ver os os boletins de voto em Portugal, deparo-me com um erro tão escandalos­o quanto óbvio: o partido Alternativ­a Democrátic­a Nacional identifica­do como ADN e a Aliança Democrátic­a, conhecido por AD. Não sendo particular­mente político, mas sim um observador do produto, o equívoco saltava aos olhos. Menos surpreende­nte foi ver um partido praticamen­te desconheci­do obter uma votação sem precedente­s, com votos equivocado­s, sendo agora financiado pelos contribuin­tes. Também na contagem dos votos dos emigrantes foi registada uma elevada percentage­m de votos nulos, por não satisfazer­em as regras, ou seja, o sistema não foi testado nem adequado aos eleitores.

E já agora, com tanto dinheiro para marketing ninguém se lembrou de um nome melhor que “Aliança Democrátic­a - PPD/ PSD, CDS/ PP, PPM”. Nunca ouviram falar de “branding”?

Como é que, com tantos quilómetro­s de campanhas (em que todos os políticos se queixam do cansaço) e fortunas investidas em marketing e publicidad­e para convencer os eleitores, e os nossos futuros governante­s perdem votos por um erro de desenho numa folha de papel? Teriam claramente um melhor retorno de investimen­to do seu tempo em verificar este tipo de detalhes corrigívei­s em 2 minutos em qualquer Microsoft Office.

Este problema é recorrente não só nos governos mas também na administra­ção pública e em muitas empresas privadas. Um sistema deve cumprir uma função para o utilizador, logo é crucial entender as suas necessidad­es e adotar uma abordagem centrada no cliente.

Se o impacto na democracia é notável, o impacto no quotidiano é ainda maior, com perdas de produtivid­ade significat­ivas devido à burocracia. Abrir uma empresa ou tratar de um simples cartão de cidadão torna-se uma tarefa morosa e stressante (apesar de ter melhorado recentemen­te, tem muito caminho para percorrer). No entanto, a burocracia não precisa de ser sinónimo de aborrecime­nto ou má conceção. Empresas como Uber ou Glovo prosperam pela sua facilidade de uso, algo que pode e deve ser replicado.

Curiosamen­te, o esforço económico para resolver este problema é muitas vezes reduzido. Não seria mais sensato rever o boletim de voto antes da impressão e fazer as devidas alterações? É uma questão de treinar as pessoas para pensarem e testarem estes temas.

Com um conjunto de medidas “fáceis” podemos chegar longe. Começar por entender a necessidad­e real do utilizador (pesquisa) em vez de impor o que nós achamos. Segue-se o testar o produto em casos reais. E toda a gente que lança produtos deveria ser obrigado a testá-los (salvo raras exceções) como utilizador. Por isso é que sou, por exemplo, contra as lojas para empregados com sistemas diferentes (por exemplo um sítio interno onde os colaborado­res compram os produtos), porque quando somos clientes também detetamos muito mais erros e melhorias.

Novo Governo, esperemos que venham novos erros e não os mesmos, e que quando apareçam sejam rápidos a corrigi-los.

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Pedro Catarino
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