Aprendam com o boletim de voto a mudar a burocracia do país
Cheguei a Portugal dois dias antes para votar e para minha surpresa, ao ver os os boletins de voto em Portugal, deparo-me com um erro tão escandaloso quanto óbvio: o partido Alternativa Democrática Nacional identificado como ADN e a Aliança Democrática, conhecido por AD. Não sendo particularmente político, mas sim um observador do produto, o equívoco saltava aos olhos. Menos surpreendente foi ver um partido praticamente desconhecido obter uma votação sem precedentes, com votos equivocados, sendo agora financiado pelos contribuintes. Também na contagem dos votos dos emigrantes foi registada uma elevada percentagem de votos nulos, por não satisfazerem as regras, ou seja, o sistema não foi testado nem adequado aos eleitores.
E já agora, com tanto dinheiro para marketing ninguém se lembrou de um nome melhor que “Aliança Democrática - PPD/ PSD, CDS/ PP, PPM”. Nunca ouviram falar de “branding”?
Como é que, com tantos quilómetros de campanhas (em que todos os políticos se queixam do cansaço) e fortunas investidas em marketing e publicidade para convencer os eleitores, e os nossos futuros governantes perdem votos por um erro de desenho numa folha de papel? Teriam claramente um melhor retorno de investimento do seu tempo em verificar este tipo de detalhes corrigíveis em 2 minutos em qualquer Microsoft Office.
Este problema é recorrente não só nos governos mas também na administração pública e em muitas empresas privadas. Um sistema deve cumprir uma função para o utilizador, logo é crucial entender as suas necessidades e adotar uma abordagem centrada no cliente.
Se o impacto na democracia é notável, o impacto no quotidiano é ainda maior, com perdas de produtividade significativas devido à burocracia. Abrir uma empresa ou tratar de um simples cartão de cidadão torna-se uma tarefa morosa e stressante (apesar de ter melhorado recentemente, tem muito caminho para percorrer). No entanto, a burocracia não precisa de ser sinónimo de aborrecimento ou má conceção. Empresas como Uber ou Glovo prosperam pela sua facilidade de uso, algo que pode e deve ser replicado.
Curiosamente, o esforço económico para resolver este problema é muitas vezes reduzido. Não seria mais sensato rever o boletim de voto antes da impressão e fazer as devidas alterações? É uma questão de treinar as pessoas para pensarem e testarem estes temas.
Com um conjunto de medidas “fáceis” podemos chegar longe. Começar por entender a necessidade real do utilizador (pesquisa) em vez de impor o que nós achamos. Segue-se o testar o produto em casos reais. E toda a gente que lança produtos deveria ser obrigado a testá-los (salvo raras exceções) como utilizador. Por isso é que sou, por exemplo, contra as lojas para empregados com sistemas diferentes (por exemplo um sítio interno onde os colaboradores compram os produtos), porque quando somos clientes também detetamos muito mais erros e melhorias.
Novo Governo, esperemos que venham novos erros e não os mesmos, e que quando apareçam sejam rápidos a corrigi-los.
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