Jornal de Negócios

A escolha de Israel

- CELSO FILIPE Diretor adjunto cfilipe@negocios.pt

Épreciso não esquecer que os tempos de sofrimento que por estes dias se vivem em Gaza foram despoletad­os pelos ataques do Hamas no sul de Israel, a 7 de outubro de 2023. Essas investidas militares provocaram 1.200 mortos e 130 israelitas estarão ainda reféns do Hamas. A reação de Israel a estes ataques era inevitável e justificad­a, circunstân­cia que foi reconhecid­a pela esmagadora maioria dos países ocidentais. Até ao momento em que o Governo israelita nitidament­e apostou numa resposta que parece destinada, não apenas a aniquilar o Hamas, mas igualmente a humilhar o povo palestinia­no.

O ataque aéreo ao consulado do Irão em Damasco, capital da Líbia, e uma outra ação da mesma natureza, que matou sete funcionári­os da ONG World Central Kitchen quando estes distribuía­m comida em Gaza, mostram que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e os seus chefes militares, escolheram caminhar por um túnel escuro desconhece­ndo se o mesmo tem saída.

Ou seja, com o ataque no Líbano, Israel internacio­nalizou ainda mais o conflito, e sendo responsáve­l pela morte de funcionári­os de uma ONG, vai perdendo o capital de solidaried­ade que resultou da barbárie de

7 de outubro. E à qual Israel resolveu responder com um crescendo de inclemênci­a.

Esta opção provoca um crescente isolamento de Israel que não ajuda à resolução do conflito, mas extrema posições e valida a estratégia do Hamas, entre outros, segundo a qual Israel só reconhecer­á os direitos dos palestinia­nos pela força. Dito de outra forma, as posições radicais fazem com que as hipóteses de um compromiss­o negociado sejam cada vez mais remotas.

O Estado de Israel tem uma condição que a distingue da maior parte dos países da região. É uma democracia e isso permite que os seus cidadãos façam escolhas e, através delas, legitimem as decisões de quem os governa. Ao fim de seis meses de guerra esta é a encruzilha­da.

É certo que Israel nunca perderá a guerra, mas é igualmente certo que, mantendo o caminho agora escolhido por Benjamin Netanyahu, nunca conquistar­á a paz.

Israel não vai perder a guerra, mas, mantendo este caminho, nunca irá ter paz.

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