A escolha de Israel
Épreciso não esquecer que os tempos de sofrimento que por estes dias se vivem em Gaza foram despoletados pelos ataques do Hamas no sul de Israel, a 7 de outubro de 2023. Essas investidas militares provocaram 1.200 mortos e 130 israelitas estarão ainda reféns do Hamas. A reação de Israel a estes ataques era inevitável e justificada, circunstância que foi reconhecida pela esmagadora maioria dos países ocidentais. Até ao momento em que o Governo israelita nitidamente apostou numa resposta que parece destinada, não apenas a aniquilar o Hamas, mas igualmente a humilhar o povo palestiniano.
O ataque aéreo ao consulado do Irão em Damasco, capital da Líbia, e uma outra ação da mesma natureza, que matou sete funcionários da ONG World Central Kitchen quando estes distribuíam comida em Gaza, mostram que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e os seus chefes militares, escolheram caminhar por um túnel escuro desconhecendo se o mesmo tem saída.
Ou seja, com o ataque no Líbano, Israel internacionalizou ainda mais o conflito, e sendo responsável pela morte de funcionários de uma ONG, vai perdendo o capital de solidariedade que resultou da barbárie de
7 de outubro. E à qual Israel resolveu responder com um crescendo de inclemência.
Esta opção provoca um crescente isolamento de Israel que não ajuda à resolução do conflito, mas extrema posições e valida a estratégia do Hamas, entre outros, segundo a qual Israel só reconhecerá os direitos dos palestinianos pela força. Dito de outra forma, as posições radicais fazem com que as hipóteses de um compromisso negociado sejam cada vez mais remotas.
O Estado de Israel tem uma condição que a distingue da maior parte dos países da região. É uma democracia e isso permite que os seus cidadãos façam escolhas e, através delas, legitimem as decisões de quem os governa. Ao fim de seis meses de guerra esta é a encruzilhada.
É certo que Israel nunca perderá a guerra, mas é igualmente certo que, mantendo o caminho agora escolhido por Benjamin Netanyahu, nunca conquistará a paz.
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Israel não vai perder a guerra, mas, mantendo este caminho, nunca irá ter paz.