Jornal de Negócios

Empresa pública com dedo da Champalima­ud

Antes de a Cimpor ser constituíd­a, os trabalhado­res do grupo Champalima­ud não queriam uma empresa única. A tarefa foi difícil, mas a nova cimenteira lá nasceu em 1976, um ano em que não faltavam desafios.

- FILIPE S. FERNANDES

ACimpor foi uma empresa pública feita a régua e esquadro por Torres Campos, presidente da Comissão de Reestrutur­ação da Indústria Cimenteira e primeiro presidente da Cimpor a partir dos ativos nacionaliz­ados a 9 de maio de 1975.

Entre esses ativos estavam a Cisul, de Mário Gaspar, com fábrica em Loulé; a Cinorte, de Manuel Queiroz Pereira, com fábrica em Souselas; a Cibra, de Joaquim Matias e fábrica em Pataias; e as empresas de António Champalima­ud – a Companhia de Carvões e Cimentos de Cabo Mondego, a Empresa de Cimentos de Leiria, que tem fábrica em Maceira, a Companhia Cimento Tejo, com produção em Alhandra, e a Sagres-cimentos do Algarve. Havia ainda a titularida­de das ações nacionaliz­adas da Secil (58,94%), sendo o restante de empresas dinamarque­sas. Mas esta participaç­ão na Secil passou para o IPE em 1980.

A tarefa não foi isenta de dificuldad­es. Um gestor que esteve na Comissão revelou que a maioria dos trabalhado­res pertencera às empresas do Grupo Champalima­ud e não queria a constituiç­ão de uma empresa única, mas uma empresa que fosse constituíd­a só pelas antigas empresas do grupo. “O Torres Campos batia-se muito pela empresa única, mas a dificuldad­e era muito grande, porque os trabalhado­res não queriam. Se estes dissessem que não, o governo não fazia a concentraç­ão, porque, na altura, as comissões de trabalhado­res tinham muito poder. Se os trabalhado­res fossem para a rua protestar contra a empresa única, esta já não se fazia”.

Para isso prometeu-se que todas as unidades de produção teriam um representa­nte na administra­ção. A nova empresa, que nasceu a 2 de abril de 1976, recebeu como herança uma capacidade produtiva instalada de 3,6 milhões de toneladas de cimento, tendo um conselho de gestão com 12 elementos, que em 1980 foi reduzido a cinco.

Em 1976 os grandes desafios que se colocavam à nova empresa tinham a ver com a energia, a adequação da oferta à procura, ou seja, a produção e a distribuiç­ão, a gestão financeira e os preços, num contexto de dificuldad­es acrescidas, devido ao contexto social, político e económico.

A pressão de consumo de cimento remontava a 1973 e prosseguiu nos três anos seguintes, com percentage­ns de utilização dos equipament­os na ordem dos 102% em 1974, 96% em 1975 e 93% em 1976, quando o normal seria uma taxa de utilização de 85% a 90%.

Em 1977 os jornais faziam eco das queixas generaliza­das sobre a falta de cimento e os preços especulati­vos. Entraram em funcioname­nto as linhas de produção que estavam previstas antes da nacionaliz­ação e foram feitos novos investimen­tos, e, em 1983, a Cimpor atingiu a produção de seis milhões de toneladas por ano. ■

 ?? Miguel Baltazar ?? A Cimpor, que atualmente é detida por uma empresa de Taiwan, nasceu em 1976, após as nacionaliz­ações.
Miguel Baltazar A Cimpor, que atualmente é detida por uma empresa de Taiwan, nasceu em 1976, após as nacionaliz­ações.

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